SÍNODO DA SINODALIDADE: CLERO AO SERVIÇO DA DIOCESE DE MACAU FALA SOBRE AS CONCLUSÕES FINAIS

SÍNODO DA SINODALIDADE: CLERO AO SERVIÇO DA DIOCESE DE MACAU FALA SOBRE AS CONCLUSÕES FINAIS

Leigos como pedra basilar da Igreja Católica

Uma Igreja mais participativa, mais humilde e que não seja cega perante os desafios com que o mundo se depara. Este é o povo de Deus que o Papa Francisco quer ver emergir após o Sínodo da Sinodalidade, que terminou no passado Domingo. Em Macau, as resoluções finais aprovadas pela Assembleia Sinodal merecem o aplauso do clero ao serviço da Diocese.

O Papa Francisco encerrou, no último Domingo, a 16.ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Sínodo sobre a Sinodalidade, com um repto que repetiu múltiplas vezes ao longo do seu pontificado: o apelo para que a Igreja “ouça o clamor do mundo” e não feche os olhos às questões mais urgentes do nosso tempo.

Na missa que encerrou a reunião magna, na Basílica de São Pedro, o Papa defendeu que uma Igreja sinodal é uma Igreja em «movimento» e intimou os católicos de todo o mundo a seguir Jesus Cristo e a colocaram-se ao serviço dos mais necessitados.

A Assembleia Sinodal colocou um ponto final num processo de auscultação global que arrancou em 2021 e que culminou na votação de um documento que vai, incontornavelmente, marcar o futuro da Igreja. Os 355 membros do Sínodo deliberaram por voto secreto sobre cada parágrafo das 54 páginas do documento, pronunciando-se sobre questões como o papel da mulher, a descentralização da autoridade da Igreja e uma maior participação dos leigos nas tomadas de decisão. Os 155 pontos do Documento Final do Sínodo foram aprovados na íntegra e, ao contrário do que é prática comum, não suscitaram quaisquer aditamentos por parte do Santo Padre, que fez saber ainda durante a Assembleia Sinodal que não tenciona publicar uma exortação apostólica com base nas conclusões dos trabalhos. Daí que o texto final do Sínodo tenha valor de Magistério. A decisão é vista pelo padre Stephan Rothlin, SJ, director do Instituto Ricci de Macau, como uma prova do valor que o Papa Francisco atribuiu ao longo processo de auscultação da Igreja, entretanto concluído no Vaticano. «Este facto mostra que o Santo Padre dá grande importância e valoriza muito as deliberações. Com esta decisão, ele procura sublinhar que estas deliberações, votadas em Roma, têm um valor primordial para os católicos de todo o mundo», salientou o missionário jesuíta.

O Documento Final foi alvo de um total de mil 135 alterações. Em comparação com o relatório de síntese da Assembleia de 2023, o texto agora aprovado apresenta propostas mais desenvolvidas e recomendações estruturais mais claras, sobretudo no que toca à renovação da Igreja e à participação dos leigos nas tomadas de decisão.

Entre as mudanças estruturais propostas na organização da vida da Igreja, destacam-se a criação mandatória de conselhos pastorais, tanto a nível paroquial, como a nível diocesano. A medida, sustentou o padre José Mario Mandía, coloca em evidência o papel dos fiéis e aproxima a Igreja do povo de Deus. «O Santo Padre procura incentivar um maior diálogo com as bases da Igreja e fomentar uma maior receptividade por parte das autoridades eclesiásticas», referiu o sacerdote, acrescentando: «Com esta medida, parece-me, o Santo Padre espera que os fiéis possam desempenhar um papel mais activo, possam ter uma maior consciência das suas responsabilidades e possam estar mais envolvidos na vida da Igreja, em particular nas suas respectivas competências».

Segundo o padre Rothlin, a criação dos conselhos pastorais poderá cumprir outros objectivos. Para ele, a recomendação pode ser vista como uma forma de garantir que as deliberações sufragadas na Assembleia Sinodal possam ser factualmente implementadas: «É sempre importante encontrar o enquadramento institucional adequado, de forma a garantir que as decisões do Sínodo podem ser verdadeiramente implementadas. Este tipo de conselhos, quer no âmbito das paróquias, quer no âmbito das dioceses, serão certamente importantes para chegar a todos os católicos e alcançar as pessoas de boa fé».

IMPORTÂNCIA DOS FIÉIS LEIGOS

A nota de maior destaque no Documento Final do Sínodo da Sinodalidade recai, porventura, no papel dos leigos, sendo este encarado como essencial para a afirmação da Igreja.

Os membros do Sínodo votaram a favor de uma maior presença dos fiéis nas Assembleias Sinodais, nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos de decisão. «Para mim, o mais importante até ao momento é a ênfase que é colocada na ideia de “ouvir” e na própria perspectiva de sinodalidade, ou seja, na perspectiva de responder em conjunto a eventuais desafios que possam surgir», argumentou o padre Franz Gassner, SVD. «Pessoalmente, tenho uma experiência muito positiva da missão e do trabalho desenvolvido pelos conselhos paroquiais, tanto na Áustria, como em Hong Kong. Elevar a participação dos fiéis leigos ao nível local, regional e global dentro da Igreja, mais do que importante, é crucial para a missão da Igreja no Século XXI», afirmou.

O padre José Mario Mandía afina pelo mesmo diapasão. O sacerdote defendeu que os leigos têm de ser reconhecidos como a pedra basilar sobre a qual se ergue a Igreja: «A peculiaridade dos leigos é que eles vivem no mundo e para o mundo. O seu contributo mais importante não é, na verdade, o eventual envolvimento em conselhos paroquiais, mas na transmissão da fé no seio das respectivas famílias, no local de trabalho, por entre os círculos de amigos e conhecidos. Mais importante ainda, os leigos são chamados a santificar as realidades temporais, incluindo as que não estão ao alcance dos sacerdotes, como os negócios, o mundo das finanças ou a política. Nem todos os leigos se podem envolver em conselhos paroquiais, mas todos eles podem santificar a sua vida e oferecê-la a Deus».

Os participantes votaram a favor de uma reforma nos processos de avaliação e de selecção dos bispos, de uma maior participação dos leigos em cargos de responsabilidade nas dioceses, bem como de uma maior presença nos processos canónicos.

Embora o Sínodo da Sinodalidade tenha terminado e o Papa Francisco considerado «concluído o caminho sinodal», há ainda pela frente uma etapa crucial: a implementação das medidas acordadas para fazer da sinodalidade uma dimensão constitutiva da Igreja. Este – sublinhou o padre Stephan Rothlin – é o próximo grande desafio que o povo de Deus tem pela frente. «Trata-se da questão essencial. Devemos permanecer cautelosos e não cair na tentação do optimismo barato. Temos de ter presente que há sempre forças que ignoram ou tentam minimizar a importância do Sínodo. Por mim, espero que estas forças não sejam decisivas e que haja um número suficiente de pessoas que se sintam inspiradas por esta nova abordagem e pela visão de uma Igreja humilde, que caminha em união com o seu Bispo e o Santo Padre», concluiu.

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *