Papa lamenta que Crisma seja «sacramento da partida»
O Papa manifestou a sua preocupação com o número de jovens que deixam a Igreja, após o Crisma, tendo pedido maior envolvimento de toda a comunidade. «O problema é como fazer que o Sacramento da Confirmação não se reduza, na prática, a uma extrema-unção, isto é, ao sacramento da partida da Igreja», referiu, na audiência semanal das quartas-feiras.
«Diz-se que é o sacramento do adeus, porque os jovens, depois de o fazerem, partem e só voltam para o matrimónio», acrescentou.
Francisco apontou ao próximo Ano Santo, o Jubileu de 2025, desejando que os católicos se tornem «portadores da chama do Espírito». «Eis um belo objectivo para o Ano Jubilar: remover as cinzas do hábito e do desinteresse», apelou o Papa.
Prosseguindo o ciclo de reflexões dedicado ao Espírito Santo, Francisco destacou que o objectivo de promover o compromisso de todos os crismados «pode parecer impossível, dada a situação que existe um pouco por toda a Igreja». «Pode ser útil para este objectivo ser ajudado, na preparação do Sacramento, por fiéis leigos que tiveram um encontro pessoal com Cristo e que fizeram uma verdadeira experiência do Espírito», notou.
O Papa sublinhou que, já no Novo Testamento, «para além do baptismo com água, é mencionado um outro rito, o da imposição das mãos, que tem por finalidade comunicar visível e carismaticamente o Espírito Santo, com efeitos semelhantes aos produzidos nos apóstolos no Pentecostes».
Francisco, que pediu desculpa pela dificuldade em ler, devido à incidência da luz solar, realçou que, «com o passar do tempo, o rito da unção foi-se afirmando como Sacramento de pleno direito, assumindo formas e conteúdos diferentes nas várias épocas e ritos da Igreja».
Após a reflexão, o Papa saudou os vários grupos presentes, incluindo os peregrinos de língua portuguesa: «Que a vossa presença em Roma seja uma ocasião propícia para reavivar o dom de Deus que recebestes e para reacender o entusiasmo de ser missionários, portadores da chama do Espírito».
Francisco abordou ainda a Solenidade de Todos os Santos, que hoje (1 de Novembro) se celebra. «Convido a viver esta celebração do ano litúrgico, na qual a Igreja quer recordar-nos um aspecto da sua realidade: a glória celeste dos irmãos e irmãs que nos precederam no caminho da vida e que agora, na visão do Pai, querem estar em comunhão connosco para nos ajudar a alcançar a meta que nos espera», declarou.
GUERRA: SANTO PADRE LEMBRA VÍTIMAS CIVIS
Durante a audiência semanal, o Papa condenou a violência contra populações civis em cenários de guerra, tendo evocado os recentes ataques em Gaza. «Ontem [terça-feira] vi que 150 pessoas inocentes foram massacradas. O que é que as crianças, as famílias, têm a ver com a guerra? São as primeiras vítimas. Rezemos pela paz», pediu.
Segundo o portal de notícias do Vaticano, “só em Gaza, por exemplo, teve lugar um dos dias mais sangrentos desde o início da guerra”, com ataques do Exército israelita contra casas na zona de Manara e contra o hospital Kamal Adwan, em Beit Lahia (a Norte de Gaza), “onde 150 pessoas, incluindo pacientes e pessoal médico, ficaram presas no pátio central”.
«A guerra está a aumentar. Pensemos nos países que sofrem tanto, na martirizada Ucrânia, na Palestina, em Israel, em Mianmar, no Kivu do Norte (RDC) e em tantos países que estão em guerra», assinalou o Papa.
Francisco insistiu nos seus apelos à oração pela paz. «A paz é um dom do Espírito e a guerra é sempre, sempre uma derrota. Na guerra ninguém ganha, todos perdem. Rezemos pela paz, irmãos e irmãs», disse aos participantes na audiência.
Já no último Domingo, o Papa havia apelado ao fim da escalada de violência no Médio Oriente, ao denunciar o «massacre» de crianças na guerra.
Francisco falou ainda sobre os 75 anos das Convenções de Genebra, mote para a realização de uma conferência que teve início na segunda-feira. «Que este acontecimento desperte as consciências para que a vida e a dignidade das pessoas e dos povos sejam respeitadas durante os conflitos armados, bem como a integridade das estruturas civis e dos locais de culto, em conformidade com o direito humanitário internacional», desejou.
O arcebispo D. Ettore Balestrero, observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas em Genebra e chefe da delegação do Vaticano na 34.ª Conferência Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, mostrou a «profunda preocupação» da Igreja com «a utilização de armas explosivas em zonas densamente povoadas, causando deslocações e uma grande devastação de cidades, escolas, hospitais, locais de culto e infraestruturas vitais para a população civil».
In ECCLESIA