31º DOMINGO COMUM (Mc., 12, 28b-34) – Ano B

31º DOMINGO COMUM (Mc., 12, 28b-34) – Ano B

O amor cristão nasce do autêntico encontro com Deus

O evangelho deste Domingo mostra-nos que o amor é o mandamento central da vida cristã. Quem não ama, seguramente não conhece a Deus. Há poucas semanas, uma senhora procurou-me e disse-me que o seu marido gostaria de ser baptizado. Como ele já está idoso e a sua saúde havia piorado, pediu para eu o fazer com uma certa urgência e lhe ensinar o essencial da fé, de forma resumida. Eu disse que sim, que iria apenas explicar-lhe o significado do amor a Deus e ao próximo. Num mundo em que as pessoas têm pouco tempo para estudos mais profundos sobre a fé, Jesus esclarece que o amor é o mandamento central para aqueles que quiserem segui-Lo.

Dizer que o amor é o mandamento central da vida cristã, parece algo óbvio. Contudo, no Tempo de Jesus não era bem assim. A preocupação dos fariseus e doutores da lei em actualizar a Lei, para que ela respondesse a todas as necessidades do quotidiano, elevou inacreditavelmente o número dos mandamentos para 613 preceitos. Até o número era significativo. Havia 365 leis que diziam o que não se podia fazer, representando o número de dias do ano, e 248 leis para ensinar o que deveria ser praticado, número que representava a quantidade dos membros do corpo, segundo a mentalidade judaica da época. Diante desse número elevado e da falta de consenso, até mesmo entre os líderes religiosos, ao ser questionado por um escriba sobre qual era o mandamento mais importante, Jesus retoma um ensinamento do Pentateuco (cf. Dt., 6, 4-5), afirmando que o essencial está no amor a Deus com todo o nosso coração, a nossa alma, entendimento e forças; depois dever-se-ia amar ao próximo como a nós mesmos (versículo 31).

O problema dos dias de hoje não está na discussão de qual é o maior mandamento. Além da significativa indiferença sobre a temática, incluindo cristãos que desejam viver a fé sem nenhum tipo de “regra” ou limite, o amor tornou-se uma palavra relativa e dúbia. Há pessoas que dizem amar o seu clube de futebol, alguns jovens ao desejarem um acto íntimo dizem que tal seria uma prova de amor. Diante desta relativização do amor, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja têm muito para nos ensinar.

Na sua primeira Carta aos Coríntios, São Paulo esclarece que «o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura os próprios interesses, não se ira, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece, mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento será deixado para trás» (1 Cor., 13, 4-8). Palavras tão claras e directas mostram-nos que amar não é um sentimento; é a decisão de tratarmos o outro como Deus nos trata.

Na sua Encíclica Deus Caritas Est, o Papa Bento XVI aprofunda a temática, reafirmando o pensamento grego de tratar o amor como uma realidade progressiva. Ele tem início como Eros, um desejo por algo que nos atrai. Este amor, que foi inserido no ser humano por Deus, tem necessidade de disciplina, purificação e maturidade, para não perder o seu sentido original e acabar por tratar o outro como uma mercadoria. Depois passa para Philia, um cuidado e ajuda mútua inerente aos irmãos ou mesmo aos bons amigos. Contudo, o amor é chamado a alcançar um nível mais sublime, tornando-se Ágape – dar a vida e consumir-se incondicionalmente pela pessoa amada. O exemplo perfeito desse amor é Jesus, que oferece a sua vida pela salvação da humanidade, mesmo sem merecermos.

Além do desafio de se definir a palavra amor, é preciso afirmar a inseparabilidade do amor a Deus e ao próximo. Existe a tendência para as pessoas se isolarem quando querem amar a Deus com mais profundidade, ignorando o sofrimento das pessoas que estão ao seu redor. Contudo, esse amor a Deus, no fundo, não passa de uma fuga, de um amor próprio, em que se utiliza o nome de Deus como pretexto. Outros justificam que se amarmos o próximo, naturalmente já estaremos a amar a Deus, e assim justificam o comodismo de não rezarem, não irem à Igreja, ou mesmo de não professarem uma religião; para eles o que vale mesmo é ser caridoso. Este amor poderá ser encarado como um serviço filantrópico de caridade, mas não como um acto cuja finalidade é amar o Criador. Diante disso, o amor cristão ao próximo é o transbordar de um encontro autêntico com Deus; mas quem se sente amado por Ele não pode guardar essa novidade apenas para si, pois além de anunciar a Boa Nova que encontrou, um grande sinal de amor será cuidar do outro, porque sabe que os amigos de Deus – todas as pessoas – também devem ser seus amigos.

A vida mostra-nos que amar é um bem ainda maior para quem o realiza. A lógica cristã revela-nos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. At., 20, 35). O amor retira-nos do egoísmo que nos isola e ajuda na realização do plano de Deus que é a salvação integral de todo o ser humano, fazendo-nos mais parecidos com Deus, que é amor. Diante dos inúmeros desafios para amarmos, precisamos vencer o nosso comodismo e justificações humanas, recordando-nos que não amamos proporcionalmente ao que é merecido pelo outro, mas simplesmente porque Deus instituiu este mandamento e pede-nos para o seguir. Na verdade, é impossível amarmos apenas um pouco. O amor não conhece o pouco nem o muito, o amor só conhece o “tudo”. A Doutora do Amor, Santa Teresa do Menino Jesus, afirmou: “o amor ensinou-me tudo”.

Todas as respostas ou soluções que precisamos para os problemas mais diversos estão no amor. Amar é o caminho mais curto e seguro para conhecermos a Deus e nos unirmos a Ele. Por isso, abra o seu coração ao Amor de Deus e aprenda a Amar como Ele nos ama.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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