Símbolos

Qual a importância da Cruz para a Igreja e o que é a sua exaltação?

A Cruz está no centro da vida da Igreja, uma vez que foi nela que Jesus Cristo foi oferecido ao Pai, em sacrifício, pela redenção de toda a humanidade. Foi pela Cruz que foram perdoados todos os nossos pecados.

No tempo de Jesus eram condenados à morte os grandes criminosos, os revolucionários e também quem atentasse contra o templo ou blasfemasse. Segundo a lei judaica, compreende-se a decisão de Caifás, sumo-sacerdote, ao ouvir Jesus dizer ser o Messias, o Filho de Deus. Logo respondeu: «Blasfemou, que necessidade temos ainda de testemunhas. Acabo de ouvir a blasfémia, é réu de morte» (MT 26, 65-66). Jesus foi depois condenado à morte na Cruz e a Cruz tornou-se referência para toda a Igreja, sinal do amor de Jesus que quis dar a vida por todos os Seus amigos, em redenção dos nossos pecados.

São Paulo dirá que Jesus, «sendo Deus, Se fez homem, humilhando-se até à morte e à morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome» (FL 2, 8-9). A Cruz, que era sinal de derrota, tornou-se instrumento de salvação. O Apóstolo acrescentou mesmo que Jesus «estabeleceu a paz pelo sangue da Sua Cruz» (CL 1, 20). Aliás, como diz Pedro, «suportando todos os nossos pecados» (1PD 2, 24). A Cruz tornou-se escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas para os cristãos fonte eterna de salvação (1Cor 1, 23-25).

Durante três séculos, a Cruz era o sinal de Cristo Redentor, mas não podia aparecer como referência, uma vez que era sinal de ignomínia. Até nas catacumbas, durante as perseguições romanas, a cruz foi muitas vezes substituída por outros sinais, como a imagem do Bom Pastor. Com o Édito de Milão, em 313, Constantino permitiu o culto de todas as religiões. A sua mãe, Santa Helena, já era cristã. Em 326, ela decidiu ir a Jerusalém conhecer os lugares por onde andou Jesus. Durante a sua peregrinação na Cidade Santa, parou no Calvário e ali foi descoberta parte da Cruz de Cristo. Santo Ambrósio narra desta maneira este encontro com a Cruz de Cristo:

«Começou ela (Santa Helena) por visitar os Lugares santos; o Espírito inspirou-lhe procurar o madeiro da cruz. Aproximou-se do Gólgota e disse: “Aqui está o lugar do combate; onde está a vitória? Eu procuro o estandarte da salvação, mas não o vejo”. Escava no chão e afasta para longe o entulho. Eis, porém, que ela encontra desordenados três patíbulos já arruinados que o inimigo escondera. […] Voltando à leitura do Evangelho, Santa Helena repara ter sido aplicado à cruz do meio a inscrição: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. Assim foi reconhecida a cruz da salvação».

A Igreja construída no lugar do Santo Sepulcro foi dedicada à Cruz de Cristo, com a exposição da parte da cruz que se encontrou. A 14 de Setembro puderam todos os cristãos em 335 venerar a “Vera Cruz”. Em 614, os persas invadiram a cidade e tomaram a Cruz. Acabou por ser recuperada por Bizantino Heráclio em 628. Após um ano em Constantinopla, a Cruz voltou ao Santo Sepulcro.

Hoje, a Cruz está presente na vida de toda a Igreja: os relicários com o Santo Lenho têm um pedacinho mínimo da Cruz; todas as igrejas têm a forma de Cruz; os consagrados trazem ao peito a Cruz como sinal de consagração, da entrega ao Senhor e à Igreja; os fiéis usam a Cruz como expressão da sua fé e têm crucifixos nas suas casas como sinal da presença de Jesus; os cruzeiros, nos adros das igrejas, ou nas praças das aldeias, são expressão da fé de um povo. Finalmente, até os artistas têm pela Cruz extraordinária devoção. Os pintores, os escultores e até os poetas cantam a Cruz de Cristo. É fácil lembrar o poema de Alexandre Herculano: “Amo-te, ó Cruz, no Vértice firmada/de esplêndidas igrejas;/ amo-te quando à noite, sobre a campa,/junto ao cipreste alvejas;/ amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,/ as preces te rodeiam;/ amo-te quando em préstimo festivo/ as multidões te hasteiam;/…”.

A Exaltação da Santa Cruz é a glorificação da Cruz de Cristo. Já não é o preço da vergonha, mas é a expressão do triunfo de Cristo Ressuscitado. A adoração da Cruz tem lugar na Sexta-Feira Santa, cerimónia em que todos os cristãos, depois da leitura da Paixão, vão adorar a Cruz do Senhor.

Mons. Vítor Feytor Pinto

In Família Cristã

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