A procura de uma vela principal de reserva parece estar mesmo embruxada. Primeiro havia uma que estava disponível e que nos servia, mas os funcionários da loja de produtos em segunda mão em Le Marin nunca a conseguiram encontrar. Depois lá encontrámos outra, mas quando a trouxemos para o nosso veleiro e a colocámos no mastro verificámos que as dimensões não eram as que constavam na identificação da mesma. A altura era similar e servia perfeitamente, mas o comprimento para a retranca ficou muito aquém do necessário. Era suposto ser de cinco metros e 30 centímetros mas quando a medi tinha apenas três metros e meio.
O erro com a vela obrigou-nos a voltar à referida loja – uma viagem que demora cerca de um dia, porque temos de estar dependentes dos transportes públicos, sendo que fica cara. Dois adultos pagam (ida e volta) quase trinta euros. Se ainda adicionarmos a alimentação e outras despesas, nunca se gasta menos de mil patacas e perde-se um dia que podia ser utilizado para outras tarefas.
Na primeira viagem acabámos por comprar tudo o que tínhamos na lista, incluindo o cabo para fazer o novo estai de proa e os respectivos encaixes para o topo do mastro e para o convés. Já está instalado como estái móvel. Esperamos que nunca seja necessário utilizá-lo e que tenha sido um gasto supérfluo.
No saco das compras vieram também três conjuntos de parafusos e porcas de grandes dimensões para o motor de arranque, manilhas e um rádio de recepção de informação meteorológica que também foi restituído na segunda ida.
Quando devolvemos a vela e o rádio acabámos por comprar mais algumas coisas que não estavam previstas, como uma antena de wifi, que nos possibilita aceder mais facilmente aos sinais de Internet em terra, mesmo estando ancorados a grande distância.
Entretanto, depois de subir ao mastro para proceder à instalação do estái e do respectivo encaixe no topo do mastro, decidi proceder à reparação do cabo de reserva que estava danificado. Depois de o emendar descobri que a parte que fica dentro do mastro também precisava ser consertada, pelo que decidi retirar todo o cabo para o exterior para proceder à sua reparação por forma a que seja utilizado mais algum tempo. Este é utilizado para a vela de balão, mas como não temos vela nem pau de balão temo-lo usado, essencialmente, para içar e descer o bote, e como cabo de segurança quando se sobe ao mastro.
Devido ao seu uso frequente o desgaste é mais acentuado do que os restantes cabos que se encontram dentro do mastro (o da genoa e o da vela principal). Desde que temos o veleiro é já o quarto cabo que utilizamos. Sendo que cada um tem mais de quarenta metros, é muito dinheiro em corda! O último que adquirimos custou quase duas mil patacas. Esperamos que este dure um pouco mais. Para além de prolongar a vida do cabo com pequenos arranjos, também vou aperfeiçoando a técnica do arranjo de cabos, uma arte muito útil em embarcações. Há até diversas publicações exclusivamente dedicadas à arte de trabalhar corda.
Depois de ter arranjado o cabo e unido três segmentos, de dois tipos de cabo, ao preparar-me para o instalar reparei que o pequeno cordel que iria ser usado como guia tinha caído e se encontrava dentro do mastro. Não é um problema muito complicado de resolver, mas que vai obrigar a nova subida ao mastro para que possa ser introduzido pelo orifício superior para depois ser, literalmente, pescado no orifício inferior com um pequeno arame. Um trabalho de muita paciência que irá consumir algum tempo num dia de pouco vento.
Havia a possibilidade da queda do cordel ter danificado alguma ligação eléctrica dentro do mastro mas tal, felizmente, não aconteceu. Dentro do mastro do Dee estão também, além dos cabos da genoa e da vela principal, os cabos eléctricos para a luz da âncora, luz de navegação, luz de convés, e o cabo que carrega a informação do giroscópio de vento – um emaranhado de cabos de grande dimensão que se quebram facilmente visto estarem pendurados desde o topo do mastro até à sua base. Nos barcos mais modernos todos estes cabos estão dentro de tubos, protegendo-os das cordas e do seu constante movimento, minimizando os problemas e os acidentes.
Quando comprámos o nosso veleiro os cabos eléctricos do mastro estavam quebrados e emaranhados. Lembro-me das horas que passei a retirar todos os fios e a substituí-los por novos.
Esta semana vamos continuar com os preparativos tendo em vista a partida para as Antilhas Holandesas. Se entretanto chegar a última encomenda de Portugal, partiremos antes do final da semana.
Antes de terminar, uma pequena nota: o Carnaval foi festejado em Martinica no passado dia 17. Fomos brindados com um desfile de “escolas de samba” de todos os distritos da ilha. Uma tarde bastante animada… e barulhenta!
JOÃO SANTOS GOMES