Siameses nas Caraíbas

Esta viagem não é só feita por portugueses ou falantes de Português. Um dos membros da tripulação, a minha mulher NaE, é tailandês, e outro, a mais nova, é luso-tailandês. Como tal, como também fazemos relativamente à presença de sinais lusos, andamos sempre alerta quanto a vivências siamesas por estas bandas.

O Reino da Tailândia, apesar de ter uma extensa costa marítima, não tem grande tradição náutica, principalmente no que diz respeito a viagens de longa distância, pelo que encontrar tailandeses em veleiros ou embarcados não é tarefa fácil. No entanto, em Santa Lucia já tivemos a agradável surpresa de conhecer um rapaz tailandês, membro da tripulação de um iate de luxo – propriedade de um magnata inglês, que aqui está a ser reparado depois de ter passado o ano de 2013 nas águas da Ásia.

Esta semana, enquanto saí com o bote para tratar de assuntos em terra, a NaE foi abordada por um casal que se encontrava num catamaran atrás de nós. Um barco de 45 pés, novo em folha, propriedade de um casal germano-tailandês que tinha acabado de ser vendido a um australiano. Apesar de ambos gostarem deste tipo de vida, decidiram vender a embarcação porque a esposa nunca se conseguiu habituar ao mar, andando constantemente enjoada, mesmo após mais de um ano ao sabor do vento e com uma travessia do Atlântico pelo meio.

A NaE, compreensivelmente, ficou contente por ter, finalmente, encontrado alguém do seu país a viver num veleiro. Na realidade, foi o segundo cidadão da Tailândia que encontrou, mas desta vez tratava-se de alguém que vivia como nós.

O marido, um alemão reformado, tem já muita experiência de vela, tendo sido proprietário de vários veleiros monocasco, antes de ter comprado este catamaran Lagoon 45 há dois anos. Estava resignado em deixar a vela e o sonho de viver num barco com a esposa. Em conversa, durante o jantar no dia seguinte, ficámos a saber que tinham vindo da Europa no final de 2013 e estavam nas Caraíbas a usufruir da sua embarcação. Ao mesmo tempo iam recebendo passageiros a bordo para ajudar ao orçamento. Agora, já com o barco vendido e quase todo pago, esperavam que o novo proprietário chegasse, para que voassem para a Tailândia onde planeiam recomeçar a vida em terra. Ficámos também a saber que outra senhora tailandesa atravessou o Pacífico no início deste ano – ida da Grécia – estando neste momento na Austrália.

Nestas paragens está a aproximar-se a época alta. Os meses de Inverno nas Caraíbas são o maior período de negócio e isso é perceptível em toda a actividade que se começa a sentir por aqui. Os restaurantes e bares voltam a abrir portas; os hotéis na praia recebem mais clientes; a doca seca da marina está a ficar vazia, com os veleiros e iates a serem colocados na água enquanto não chegam os seus proprietários; os veleiros das empresas de aluguer saem cada vez mais com grupos de jovens e famílias, que voam da Europa para experimentar uns dias de vida a bordo e aproveitar as águas quentes e transparentes destas paragens; o ancoradouro onde estamos está mais cheio e todos os dias partem e chegam mais barcos. Enfim, é um crescendo de actividade que vai dando vida a esta ilha e a todas as outras em redor.

Quem vive em barcos olha para esta época com um misto de emoções. Por um lado, a época alta significa que acabou a ameaça do mau tempo e das tempestades tropicais, por outro lado, significa que acabou a paz e a tranquilidade. Com o constante movimento de pessoas e barcos será impossível continuar a desfrutar da calma das últimas semanas.

Não quero terminar esta crónica sem deixar um desabafo relacionado com a companhia de telefones “Three Macau”, da qual ainda mantemos um número de telefone por exigência do Banco Nacional Ultramarino, pois os clientes têm de manter um número de contacto para que possam usufruir do dinheiro “online”.

Na última conta de telemóvel fomos surpreendidos com o montante a liquidar: mais de dez vezes acima do que normalmente pagamos – utilizamos o pacote mais baixo, visto só recorrermos ao telefone para receber os SMS do BNU e nada mais – por termos usado o telefone para ligar ao nosso número de telefone de satélite, apenas para verificar se estava a funcionar. Nenhuma das chamadas foi atendida ou completada, mas a “Three Macau” achou por bem cobrá-las como se tratando de chamadas de vários segundos para os Estados Unidos da América, estando nós em serviço de “roaming”. Não há forma de reclamar porque estão registadas como chamadas efectuadas. Sentimo-nos ultrajados pois – repito – não completámos qualquer chamada. Macau no seu melhor!

João Santos Gomes

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