Semana de soluções

O novo controlador do alternador do motor, que me vinha dando dores de cabeça, foi finalmente instalado e está a funcionar em pleno. Afinal o grande problema era não saber que tipo de alternador tenho no veleiro. Para mim, até esta semana, todos os alternadores eram iguais, ou seja, todos geravam energia da mesma forma. Pelo que aprendi no processo de teste e erro, uns são negativos (99 por cento) e outros positivos (um por cento, na sua maioria fabricados nos Estados Unidos). Ora, sendo o nosso veleiro desenhado e construído na terra do Tio Sam, seria de desconfiar que faria parte do grupo exclusivo dos um por cento, mas tal não me passou pela cabeça.

Por diversas vezes procedi à ligação dos cabos e testei o sistema, tendo trocado sucessivamente o alternador, visto ter três a bordo, e por desconfiar que o problema fosse da fonte geradora de energia. Resultado: a produção pouco passava dos 12 volts.

Ao tentar mudar os parâmetros do controlador, depois de lhe retirar a capa e já sem saber muito bem o que fazer, decidi mudar o fusível que controla o tipo de alternador (negativo ou positivo). Qual não foi a minha surpresa quando vi a produção de energia saltar para os 13,5 volts a baixa rotação. Depois de mais uns testes e medições para ter a certeza que tudo estava bem, foi altura de retirar o controlador antigo, que funcionava apenas quando lhe apetecia e nos fazia perder imensa energia com o motor a funcionar, e instalar o novo aparelho de forma definitiva.

Agora vamos ter uns dias pela frente para voltar a carregar as baterias para níveis próximos do completamente cheio. O nosso banco de baterias tem quase mil amperes e o alternador, apesar de ser de 130 amperes, em ponto morto não passa dos 80 a 90 amperes por hora. Sendo que apenas ligamos o motor entre trinta minutos a uma hora por dia, façam as contas!

Também descobrimos e resolvemos – penso eu – outro dos problemas que nos vinham afectando. A questão da transmissão do velhinho motor Perkins para o veio do hélice. Há já várias semanas que fazia mais barulho e engatava sem dar aviso. Até podia ter alguma piada ter um motor com vontade de viajar mas, estando ancorados, essa vontade própria podia dar azo a acidentes bem graves. O motor engatado e acelerado pode criar movimento suficiente para retirar a âncora do fundo do mar e fazer com que o barco embata noutros ou, pior ainda, acabe por parar na praia ou nas rochas.

Com o dito barulho a ficar cada vez mais frequente, decidi que não seria aconselhável esperar pela data em que iremos retirar o veleiro da água para abordar o problema do motor. Fui procurar ajuda profissional e regressei ao barco com um conselho e várias dicas.

Basicamente sei que as transmissões precisam de óleo. Todas as que conheci até hoje precisavam, embora haja outros sistemas que são selados e que não necessitam de lubrificação adicional. No nosso caso não conseguia localizar o local de verificação dos níveis de óleo, pelo que assumi que talvez fosse das que não necessitasse de lubrificação. Pensei então que o problema seria mais grave e mais oneroso de resolver.

O mecânico achou curioso que o veleiro, sendo de 1985, tivesse uma transmissão “seca” e disse-me para ver se conseguia encontrar um parafuso em cima, dos lados ou mesmo em baixo. Com esta dica e com a certeza do mecânico, meti a cabeça junto da transmissão e não encontrei nada, apalpei dos lados e em baixo, e nada! Já sem grandes esperanças, decidi lavar a caixa da transmissão, que estava cheia de restos de óleo, sal e outras sujidades que se acumulam nos compartimentos dos motores dos veleiros. Para minha surpresa, afinal havia mesmo um parafuso debaixo de uma espessa camada de sal.

O problema foi retirar o dito parafuso, que parecia ali estar desde que o barco foi construído a jurar pela forma como estava caucionado. Muito líquido para desapertar parafusos e muitas feridas nas mãos pelas vezes que a chave saltou da cabeça do parafuso e foi embater na superfície enrugada da caixa da transmissão. Lá acabou por ceder e consegui aceder à vareta de verificação do nível do óleo. Estava tão seco, tão seco, que parecia só ter levado óleo quando a montaram. Como tinha óleo de transmissão a bordo, decidi atestar o tanque e testar o motor. Na primeira tentativa ainda fez o barulho a que já estávamos habituados, acabando por dar lugar a um som de rotação muito mais suave e saudável. Voltámos a testar nos dias seguintes, verificando o nível do óleo. Parece que o problema ficou resolvido. Nunca mais ouvimos o barulho da engrenagem a ranger. A partir de agora vamos proceder à mudança do óleo de 200 em 200 horas para evitar problemas futuros.

No próximo mês, quando retirarmos o veleiro da água para o limpar e pintar, vamos pedir a um mecânico para fazer uma revisão geral, incluindo a transmissão… Não queremos mais surpresas, visto termos para breve umas grandes travessias.

O nosso elemento feminino mais velho vai estar ausente do veleiro entre finais de Agosto e finais de Dezembro, indo a Macau para participar, como tradutora, num curso do Instituto de Formação Turística. Significa que vou efectuar a travessia para o Panamá só com a Maria e o Noel. Se houver interessados em se juntarem a nós, temos espaço disponível.

No que diz respeito a planos futuros, em termos de rota, deveremos optar por seguir das ilhas das Caraíbas para as ilhas holandesas de Aruba, Bonaire e Curacao. A decisão foi tomada depois de finalmente ter sido possível juntar as três tripulações, do Dee, do El Caracol e do Gentileza. Depois de quase um mês em Grenada reunimo-nos num pequeno restaurante para conversar e fazer as devidas apresentações. O El Caracol, pelo que tudo indica, vai ter que arriscar a travessia para as ABC em Outubro, enquanto que nós e o Gentileza iremos seguir apenas em Novembro depois de sairmos de Grenada rumo a Martinica, de onde partiremos depois de nos abastecermos de bens essenciais e de realizarmos as últimas verificações.

João Santos Gomes

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