Padroeiro dos hospitais, doentes e enfermeiros
Nasceu João Duarte Cidade, em Portugal, na vila alentejana de Montemor-o-Novo, perto de Évora, a 8 de Março de 1495. Viria a falecer no dia de aniversário, mas de 1550, em Granada, Espanha, reino onde passou a maior parte da sua vida. Era filho de André Cidade e Teresa Duarte.
Começou como pastor, em Torralba de Oropesa, perto de Toledo. Aos 22 anos, está ao serviço de Carlos I, de Espanha, participando na reconquista de Fuenterrabia, aos franceses, em 1522. Desligado já das coisas materiais, foi acusado de desleixo pelos bens aprisionados ao inimigo, quase tendo sido enforcado, mas viria a ser expulso. Voltou a ser pastor em Oropesa, até 1526, acabando por regressar à vida castrense. É assinalado em Viena, Áustria, em 1532, nas tropas do conde de Oropesa, em socorro a Carlos I, sitiado pelos turcos de solimão, o Magnífico.
Retorna depois a Espanha, em navio, entrando pela Galiza. Decide ir à sua terra de origem. Os seus pais, porém, tinham já falecido – a sua mãe logo depois da partida do filho; o pai, viúvo, fizera-se irmão franciscano. Decide rumar à Andaluzia. Parando em Gibraltar, decide passar a África, para Ceuta, que era portuguesa, refira-se. No navio da travessia encontra um cavaleiro português, Almeida, com a mulher e as quatro filhas, desterrado para Ceuta pelo Rei D. João III de Portugal. Fica ao seu serviço, mas a pobreza atinge a família e João foi trabalhar para os ajudar. Mais tarde, regressa a Gibraltar, onde se tornou vendedor ambulante de livros e gravuras.
Em 1538 acha-se em Granada, onde tem uma pequena livraria. Ali encontrou um menino pobre e doente, a quem João se propôs cuidar. O menino, dissera então a João: «– Granada será a tua cruz». E desapareceu. João tomou como uma aparição do Menino Jesus, na forma daquele petiz, ficando tocado pelo acontecimento. Entretanto, a 20 de Janeiro de 1539, ouve um sermão do grande pregador espanhol, São João de Ávila (1500-1569), na Ermita dos Mártires. Deu-se ali a sua conversão, com confissão arrebatada e promessa de arrependimento. Macerava o seu peito com pedras, em penitência, sujando de lama o rosto. Dado como louco, foi internado, algumas semanas, rumando depois para o mosteiro jerónimo de Guadalupe. Antes de 1539 acabar, está em Granada, de novo. Funda um hospital para doenças contagiosas e incuráveis, ao qual se dedica. Antes, reunira os doentes em várias casas que os seus benfeitores lhe iam doando, pois a sua fama de santidade e zelo com os pobres e doentes se tornou lendária em Granada. O arcebispo de Granada, Pedro Guerrero (1546-1576), foi quem o “apelidou” de João de Deus, que o apoiou na sua obra assistencial.
Dessa fundação, resulta a criação da Ordem dos Irmãos Hospitaleiros, que tem como carisma o cuidado e amparo dos enfermos. Esta Ordem hospital, fundada em 1539, viria a ser confirmada, em observância à “regra” de Santo Agostinho, pelo Papa Pio V a 1 de Janeiro de 1571. São João de Deus, notabilizado pela assistência aos pobres e enfermos, é o padroeiro dos hospitais, dos doentes e dos enfermeiros.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa