A escalada do caminho quaresmal que conduz à alegria pascal

2º DOMINGO DA QUARESMA – Ano A – 5 de Março

A escalada do caminho quaresmal que conduz à alegria pascal

No passado Domingo, debruçámo-nos sobre o episódio de Jesus sendo levado por Satanás para uma montanha muito alta, a fim de ser tentado – sem sucesso – com poderes e riquezas mundanas (Mt., 4, 8-10). Este Domingo encontramos Jesus novamente numa montanha, no Monte da Transfiguração (Monte Tabor), para onde levou três dos Seus discípulos (Mt., 17, 1-9). Ao contrário de Satanás, Jesus não lhes mostrou os esplendores mundanos, mas a beleza de ser “um com o Pai” e a glória que emana da oferta da Sua vida, segundo o Seu plano de salvação.

Alguns dias antes, Jesus falou aos discípulos sobre a Sua morte e ressurreição iminentes, mas deparou-Se com rejeição e incredulidade. Pedro até exclamou: «De modo algum isso jamais Te acontecerá» (Mt., 16, 22). Jesus reagiu: «Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me acompanhe» (Mt., 16, 24). O convite de Jesus, feito alguns dias depois, para subirem ao Monte Tabor, simbolizaria a longa jornada de fé que aguardava os discípulos.

Na Mensagem da Quaresma deste ano, o Papa Francisco compara a “ascensão” ao Monte da Transfiguração com a disciplina espiritual necessária para seguir Jesus: “A ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz”, diz, acrescentando: “[devemos] aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração”.

Mas uma surpresa aguardava os discípulos no topo da montanha. Jesus transfigurou-Se diante deles; o Seu rosto brilhou como o Sol e as Suas vestes ficaram brancas como a luz (Mt., 17, 2). O Papa esclarece: “No final da subida e enquanto estão no alto do monte com Jesus, os três discípulos recebem a graça de O verem na sua glória, resplandecente de luz sobrenatural, que não vinha de fora, mas irradiava d’Ele mesmo. A beleza divina desta visão mostrou-se incomparavelmente superior a qualquer cansaço que os discípulos pudessem ter sentido quando subiam ao Tabor. Como toda a esforçada excursão de montanha, ao subir, é preciso manter os olhos bem fixos na vereda; mas o panorama que se deslumbra no final surpreende e compensa pela sua maravilha”.

Na mesma mensagem, Francisco aplica o ensinamento do Evangelho da Transfiguração ao tema da “sinodalidade”, sobre o qual a Igreja vem reflectindo nos últimos dois anos, como preparação para o próximo Sínodo dos Bispos em 2024. A tarefa de decidirmos juntos o caminho a seguir muitas vezes “apresenta-se árduo e por vezes podemos até desanimar”. No entanto, “aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente, que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão ao serviço do seu Reino”.

Contudo, o Evangelho da Transfiguração dá-nos esperança também noutros aspectos da nossa vida, especialmente quando passamos por momentos de escuridão, dor e incerteza sobre o futuro.

O Papa destaca, particularmente, duas frases destinadas a nos encorajar. A primeira é a voz do Pai que vem da nuvem: «Escutai-O» (Mt., 17, 5). Comenta o Santo Padre: “A Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala. E como nos fala Ele? Antes de mais nada na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia: não a deixemos cair em saco roto; se não podermos participar sempre na Missa, ao menos leiamos as Leituras bíblicas de cada dia valendo-nos até da ajuda da internet. Além da Sagrada Escritura, o Senhor fala-nos nos irmãos, sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda”.

A segunda frase é dirigida por Jesus aos discípulos que caíram por terra, vencidos pelo medo: “‘Levantai-vos e não tenhais medo’. E ao erguerem os olhos, os discípulos não viram mais ninguém senão somente Jesus” (Mt., 17, 6-8). Mais: “a luz que Jesus mostra aos seus discípulos é uma antecipação da glória pascal, e é rumo a esta que se torna necessário caminhar seguindo ‘apenas Jesus e mais ninguém’. A Quaresma orienta-se para a Páscoa: o ‘retiro’ não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição”.

Que estas palavras nos dêem força para continuar a subir a alta montanha da nossa vida nesta segunda semana da Quaresma!

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

LEGENDA:Igreja da Transfiguração no Monte Tabor (Israel)

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