Perante o incurável, foi alívio e socorro de almas
Por vezes esquecidos e pouco falados, homens e mulheres têm arriscado a vida em prol do seu semelhante. Hoje lembramos um desses homens, o sacerdote belga Josef de Veuster-Wouters, que se ofereceu em socorro dos leprosos na ilha de Molokai, no Havai. Apesar da consciência do perigo que corria, o amor que nutria por aquelas almas, ao ver as necessidades que tinham de Sacramentos, fê-lo abraçar a missão dando-se por inteiro, até ele próprio ser consumido pela doença.
Josef de Veuster-Wouters nasceu em Tremelo, na Bélgica, a 3 de Janeiro de 1840. Iniciou o seu noviciado na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, no início de 1859, e tomou o nome de Damião. Em seguida, foi enviado para terminar os seus estudos num colégio de teologia em Paris – rezava todos os dias perante uma imagem de São Francisco Xavier, patrono dos missionários, com o desejo de ser enviado numa missão.
As orações e o desejo de Damião, aos poucos, davam frutos. Em 1863, a Congregação dos Sagrados Corações decidiu procurar voluntários para a sua missão nas ilhas do Havai. Pamphile, um dos seis voluntários, adoeceu com tifo e não pôde fazer a viagem. Damião escreveu ao Superior Geral em Paris e pediu permissão para ocupar o lugar do seu irmão e o pedido foi atendido. A viagem foi feita de barco, a partir de Bremerhaven, na Alemanha, e durou cinco meses. Damião chegou ao Havai a 19 de Março de 1864 e foi ordenado sacerdote após dois meses – com 24 anos – na Catedral de Nossa Senhora da Paz, em Honolulu.
A região recebera imigrantes chineses e com eles a lepra. Em 1865, temendo a disseminação da doença, o Governo local decidiu isolar os doentes na ilha de Molokai. Para lá ofereceu-se Damião em socorro; sabia que ficaria ali para sempre, pois grande era o seu coração e as necessidades daquelas almas.
Após a chegada à ilha dos leprosos, um jornal de Honolulu publicou um artigo em que falava que Damião se havia oferecido para a “ilha dos condenados”, tornando-se o primeiro pastor ali residente. O impactante artigo que falava do heroísmo cristão de Damião rapidamente percorreu o mundo e impulsionou o aparecimento de ajuda humanitária.
Damião não perdeu tempo; com frequência ia à capital comprar faixas, remédios, lençóis e roupas para todos. Na ilha, iniciou algumas construções como uma pequena igreja, onde passou a celebrar as missas, e um pequeno hospital, onde cuidavam dos doentes mais graves. Porém, a obra de Damião abrangeu algo mais do que a melhoria física do local, ele trouxe uma nova esperança e alívio aos que sofriam. Era tido como um pai e amigo por todos os leprosos.
Depois de servir dezasseis anos na ilha de Molokai e 25 no total como missionário nas ilhas havaianas, o padre Damião contraiu a doença que o viria a consumir. Morreu em paz nos braços do irmão James Sinnett e do padre Conrardy, a 15 de Abril de 1889. Em 1936 o seu corpo foi transladado para a Bélgica, onde recebeu honras fúnebres de Estado.
Foi canonizado pelo Papa Bento XVI a 11 de Outubro de 2009, na presença do rei e da rainha da Bélgica, e passou a ser chamado São Damião de Molokai. O seu dia festivo é 10 de Maio (próxima segunda-feira).
São Damião de Molokai, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Franciscanos