Os Mórmons – XI
Como é uma vida mórmon? Interrogamo-nos sempre em torno desta curiosidade, quando deparamos com os pares de missionários mórmons que calcorreiam as ruas das cidades a levar a sua mensagem. Que rituais de fé têm? Terão restrições e proibições? Vamos tentar saber como se vive uma vida mórmon.
Os rituais da fé mórmon incluem cerimónias realizadas no templo, como a investidura, o baptismo dos mortos, o “casamento celestial”, ou eterno, e a “selagem” familiar, para além de várias cerimónias nas capelas mórmons. O nome e a bênção de bebés – realizados por um portador do sacerdócio, geralmente o pai do bebé – têm lugar na capela. Os baptismos são realizados nas capelas quando as crianças mórmons completam oito anos ou quando um adulto se converte à fé. A família e os amigos geralmente comparecem a esses dois rituais. Os santos dos últimos dias têm também o hábito de unir e abençoar os enfermos, se uma pessoa doente assim desejar.
Como outros cristãos, os Mórmons celebram o Natal e a Páscoa como os seus dois feriados religiosos mais importantes. Também comemoram o “Dia do Pioneiro”, a 24 de Julho, que marca a data em que os primeiros pioneiros mórmons chegaram ao Vale do Lago Salgado (Salt Lake), em Utah, nos Estados Unidos, no ano de 1847. É por altura desse feriado que a igreja apresenta o seu elaborado desfile histórico no Monte Cumorah em Palmyra, Estado de Nova Iorque, onde Joseph Smith encontrou as placas de ouro.
RITUAIS, CRENÇAS, OBSERVÂNCIAS
Os Mórmons também observam o sábado, como dia do Senhor e de descanso. Aos Domingos, assistem a uma reunião sacramental na sua capela, que inclui leituras, hinos, orações, comunhão e testemunhos de alguns oradores da congregação. Esse serviço é precedido e/ou seguido por reuniões da escola dominical, da Sociedade de Socorro para Mulheres, dos homens que são sacerdotes e de outros grupos da igreja; em média, os Mórmons passam cerca de três horas na sua capela em cada Domingo. O resto do sábado é observado na forma de um dia tranquilo em casa, ou então realizando visitas a amigos ou familiares e até mesmo obras de caridade.
Os Mórmons acreditam que o corpo é uma dádiva de Deus, para ser cuidado e respeitado, não para ser manchado ou abusado. Na vida diária, os Mórmons seguem um conjunto de directrizes de saúde que Joseph Smith recebera de Deus em 1833, denominado Palavra de Sabedoria. De acordo com a interpretação actual, este código afirma que os Mórmons devem abster-se de café e de chá, álcool, tabaco e drogas ilegais. Com o tempo, tem havido, porém, disputas e alterações de costumes dentro da igreja, em relação ao que a Palavra de Sabedoria não permite. Por exemplo, o documento original advertia contra o consumo de bebidas quentes, mas com o tempo tal passou a ser interpretado como apenas bebidas quentes contendo cafeína. Ainda há algum debate sobre se bebidas frias com cafeína, como refrigerantes, também devem ser evitadas; a política oficial da igreja, contudo, é deixar a decisão ao critério dos fiéis.
Os Mórmons são também aconselhados a não fazerem tatuagens e a limitar os “piercings” corporais a um único par de brincos simples, para mulheres, note-se. Também seguem um código de vestuário geral que ensina que o recato não apenas demonstra respeito pelo próprio corpo e por Deus, mas também tem um efeito positivo na espiritualidade e no comportamento.
Outro aspecto importante entre os Mórmons é a vida familiar, a ela se ligando o interesse pela genealogia. Com efeito, os Mórmons acreditam que a família é uma unidade eterna e central para o plano de salvação gizado por Deus. Na verdade, a progressão eterna em direcção à Divindade é limitada àqueles que se casam para o tempo e para a eternidade (casamento celestial, ou eterno), numa cerimónia conduzida por um membro devidamente ordenado no sacerdócio mórmon e num templo mórmon.
O 15.º presidente da igreja, Gordon B. Hinckley (1995-2008), também enfatizou a importância da família, afirmando que se desejamos transformar uma nação, devemos começar na família, com pais a ensinar aos filhos os princípios e valores positivos e afirmativos, que os levem a esforços valorosos. Dizia que residia aí o fracasso básico da América, na desestruturação da família. Por isso, defendia, era preciso um tremendo esforço para criar maior solidariedade nas famílias. Os pais não têm maior responsabilidade neste mundo do que criar os seus filhos de forma correcta, afirmava Hinckley. Depois complementava dizendo que esses não terão uma satisfação maior, passados uns anos, do que ver que essas crianças cresceram em integridade e honestidade, fazendo algo das suas vidas, contribuindo para a sociedade porque fazem parte dela. Palavras que são fundamentos do conceito e forma de vida das famílias, para os Mórmons. Para fortalecer a família, muitos Mórmons realizam o que designam como “noite familiar”. Trata-se de uma noite por semana – geralmente à segunda-feira – de oração em família, aprendizagem sobre as escrituras, partilha de experiências, de jogos ou participando noutras actividades divertidas em casa.
Quanto ao interesse mórmon pela genealogia, está intimamente ligado à sua doutrina do “baptismo dos mortos” (baptizam-se os que já partiram e que não eram mórmons) e a sua crença de que a unidade familiar continuará a existir além da vida mortal. Os Mórmons traçam as suas árvores genealógicas para encontrar os nomes dos antepassados que morreram sem aprender sobre o Evangelho Mórmon restaurado, para que esses parentes de gerações anteriores possam ser baptizados por procuração no templo. Uma vez baptizados, se o espírito do antepassado aceitou o referido evangelho, os falecidos poderão estar juntos com o resto da sua família mórmon, baptizada, no reino celestial. Para os Mórmons, a genealogia é encarada como uma forma de salvar mais almas e fortalecer a unidade familiar na eternidade.
Os casamentos mórmons são também diferentes da maioria dos casamentos, pois são considerados eternos. Se o marido e a esposa forem selados (confirmados) no templo, poderão assim continuar juntos no reino celestial. No entanto, a igreja tem um processo de anulação e vê o divórcio como um mal infelizmente necessário. O citado Presidente Gordon B. Hinckley admitia que de vez em quando existe uma causa legítima para o divórcio, que se pode até justificar, mas não deixava de o considerar uma praga em crescimento por toda a parte. Por isso, não é obra de Deus, mas sim contra a justiça, da paz e da verdade. Tal como um casamento civil não é como o selo matrimonial no templo, para um casal mórmon também o divórcio civil não retira o selo. Se num divórcio se se desejar retirar o selo, este é então cancelado pela hierarquia mórmon. Uma mulher mórmon, se quiser casar-se de novo, deve cancelar o selo do casamento anterior, para selar o novo no templo. Os homens podem ser selados a mais de uma mulher, pelo que não precisam de cancelar o selo anterior para se casar novamente no templo. São os resquícios da poligamia de outros tempos….
Vítor Teixeira