SANTO ANJO DA GUARDA DE PORTUGAL CELEBRADO A 10 DE JUNHO

SANTO ANJO DA GUARDA DE PORTUGAL CELEBRADO A 10 DE JUNHO

Dia de Portugal, dos Barcos Dragão e de um Anjo especial

10 de Junho é o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, mas é também o dia em que se celebra, na Igreja Católica, o Santo Anjo da Guarda de Portugal, ou Anjo Custódio de Portugal, quando não Anjo da Paz. Coincide, neste ano de 2024, com o Festival de Tun Ng, ou Festival do Barco Dragão, festividade chinesa que se reveste também de grande peso cultural em Macau. Assim, para além das famosas corridas dos Barcos Dragão no Lago Nam Van, das comemorações lusitanas nos diversos locais da Portugalidade em Macau, cumpre-se celebrar o Santo Anjo da Guarda de Portugal.

Tendo como atribuições a protecção da Nação Portuguesa, como sucedeu no auxílio às tropas de D. Afonso Henriques sobre os muçulmanos, conseguindo-se assim a Independência de Portugal, coube-lhe também anunciar as aparições de Nossa Senhora em Fátima. A devoção em Portugal ao Anjo da Guarda é, de facto, muito antiga, acompanhando a nacionalidade desde os seus primórdios e estando indefectivelmente ligada à mesma.

Os anjos, seres inteligentes, não corporais, têm tarefas precisas, pois estão “encarregados da Guarda dos homens (cf. Mt., 18, 10; Act., 12, 3) e da protecção da Igreja” (Ap., 12, 1-9), além de serem mensageiros de Deus, “em momentos decisivos da História da Salvação”. Acredita-se também, na Igreja Católica, que cada nação tem um Anjo com a missão de a guardar e proteger. Durante muito tempo houve apenas uma Festa dos Anjos na Igreja, a 29 de Setembro, dia dos Santos Arcanjos Miguel (principalmente este), Gabriel e Rafael. A mais antiga referência a uma celebração angélica fora do dia 29 de Setembro ocorre em 1411, em Valência (Espanha), uma Festa em honra do Anjo Custódio “da Cidade”. Outras localidades viriam a imitar Valência, como depois outros reinos cristãos, entre os quais Portugal.

A pedido do Rei D. Manuel I de Portugal, o Papa Júlio II (1503-1513) instituiu, em 1504, a Festa do Anjo Custódio do Reino, cujo culto já seria antigo em Portugal. O Anjo da Guarda é associado à lenda da visão de Cristo e dos seus anjos na Batalha de Ourique, em 1139, visão que conduziria D. Afonso Henriques à vitória sobre os muçulmanos e lhe conferiu a oportunidade de se proclamar, então, Rei de Portugal.

O Papa Leão X (1513-1521) confirmou a Festa e autorizou a sua realização no terceiro Domingo de Julho. Esta passou a ser celebrada com a maior solenidade em todas as localidades portuguesas, reinóis ou ultramarinas. Todavia, a devoção esmoreceu e quase desapareceu depois do Século XVII. O grande incremento da devoção deu-se, com efeito, com as aparições do Anjo, em Fátima, aos Pastorinhos, entre Abril e Outubro de 1916. Pio XII (1939-1958), reconhecendo a sua importância devocional, mandou restaurar e inserir, em 1952, a comemoração no Calendário Litúrgico português.

As aparições do Anjo em Fátima são narradas pela Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (a Irmã Lúcia, simplesmente) nas suas “Memórias”, quando descreve que naquele período de tempo, em 1916, no ano anterior à aparições da Virgem do Rosário de Fátima, teria aparecido um anjo aos três pastorinhos, por três vezes: duas na Loca do Cabeço, no lugar dos Valinhos, e outra junto ao poço do quintal da sua casa, o Poço do Arneiro, no lugar de Aljustrel, em Fátima. O Anjo veio assim preparar as aparições de Nossa Senhora, apelando, para tal, à oração e penitência por parte dos Pastorinhos. Nessas aparições, declarou ser o “Anjo da Paz, o Anjo de Portugal”. Nas suas aparições, o Anjo ensinou aos meninos duas orações, as “Orações do Anjo”, que entrariam na piedade popular e são proferidas na adoração eucarística.

De recordar que em Portugal as representações do Anjo de Portugal são antigas, existindo belíssimos exemplares dos Séculos XV e XVI, como a de cerca de 1518, da autoria de Diogo Pires-o-Moço, de Coimbra, pertencente ao acervo do Museu Nacional de Machado de Castro, na mesma cidade. Recebe a designação de “Anjo Heráldico” (ostenta a pedra de armas de Portugal e a esfera armilar de D. Manuel, o rei de então), mas é o Santo Anjo da Guarda de Portugal, ou “do Reino”.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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