Finalmente, já é conhecido o desfecho das eleições nos Estados Unidos.
Agora, uma dúvida assalta a cabeça dos católicos de Macau, de Hong Kong e da China continental: De que forma a Administração norte-americana saída destas eleições vai interferir, positiva ou negativamente, na complexa relação entre a Santa Sé e a República Popular da China?
De Donald Trump já era conhecida a sua posição. O ainda secretário de Estado, Mike Pompeo, a poucas semanas do Vaticano e Pequim renovarem o Acordo Provisório para a nomeação de bispos com o consentimento de ambos os Estados, pressionou a Cúria Romana para não o fazer, dizendo tratar-se de uma cedência da Santa Sé à RPC.
Perante este facto, o Papa Francisco manteve-se em silêncio, não tendo revelado publicamente qualquer posição quanto à exigência da Administração Trump, tendo inclusivamente recusado receber Mike Pompeo no gabinete pontifício, que dali a poucos dias aterraria em Roma, a fim de participar num evento de âmbito católico. Segundo o Santo Padre, a recusa deveu-se ao facto do Papa ter por regra não receber ninguém ligado a candidaturas a cargos políticos.
Até ao momento não foram conhecidos mais desenvolvimentos relacionados com este episódio, até porque Mike Pompeo acabou por se encontrar com altos dignitários da Cúria Romana, durante a sua estadia na capital italiana, sendo que para o amenizar das relações algo tensas entre Francisco e Trump muito contribuíram os bispos norte-americanos, em especial o arcebispo de Nova Iorque, cardeal D. Timothy Dolan.
E se de Trump já sabíamos o que esperar, de Joe Biden a expectativa é grande, até porque em diversas matérias as políticas da Administração Obama foram muito semelhantes ao pensar social do Papa Francisco.
Se continuarão as pressões junto da Santa Sé por parte da nova Administração Biden, como aconteceu com a Administração Trump, não podemos responder. Mas uma coisa é certa: ao contrário de Trump, Biden é um defensor da diplomacia multinacional, pelo que não deverá ver com maus olhos um entendimento – até mesmo alargado no futuro – entre o Vaticano e Pequim, desde que este seja meramente do foro pastoral. É que Taiwan é um protectorado militar dos Estados Unidos, o que não contribui em nada para que novos acordos entre a Santa Sé e a República Popular da China passem da esfera religiosa para a esfera político-diplomática.
José Miguel Encarnação