TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (104)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (104)

O Inferno é uma táctica para assustar?

O Inferno existe mesmo? Devemos continuar a acreditar nisso? Sim! Desde que o Homem seja livre, o Inferno é uma possibilidade. Mas se quisermos entender o que é o Inferno, primeiro precisamos entender o que é a liberdade e o que é o pecado mortal.

LIBERDADE– Já discutimos detalhadamente a liberdade, aquando da série FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (n.os47 e 48). A liberdade é ao mesmo tempo um poder incrível e um poder terrível. É um poder incrível que nos permite aceitar o plano de Deus para uma interminável e ilimitada felicidade; de Lhe dizer “sim”. E também é um poder terrível que nos permite dizer “não” a Deus, e deixá-Lo fora das nossas vidas, agora e para sempre.

A nossa liberdade é feita à imagem e semelhança da liberdade de Deus (Génesis 1:26). Assim sendo, Deus tornou-a sagrada e inviolável. Deus não autorizará nenhuma criatura, nem mesmo os anjos ou os demónios, a tocarem na liberdade. Nem Ele próprio a violará (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 213). «Ante do homem há vida e morte, e tudo o que ele escolher lhe será dado(Eclesiastes 15:17)».

Jesus usou a parábola da festa de casamento (Mateus 22:1-14; Lucas 14:7-14) para nos lembrar do poder da liberdade.

PECADO MORTAL– Cada pecado mortal é um completo afastamento de Deus. É a renúncia a tudo o que Deus nos poderia dar; é um fechar do nosso coração para com Ele.

CS Lewis escreveu em “No Grande Divórcio”: “No fim, há apenas dois tipos de gente: aqueles que dizem a Deus: ‘seja feita a Vossa vontade’; e aqueles a quem Deus diz: ‘seja feita a tua vontade’”.

Isto é o que significa o “Inferno”: “Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d’Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra ‘Inferno’” (Catecismo da Igreja Católica nº 1033). O Inferno é um confinamento solitário eterno. Lamentamos mas aqui não há “Wi-Fi”!

São João Paulo II ensinou-nos que o Inferno “não é um castigo imposto externamente por Deus, mas um desenvolvimento de premissas já estabelecidas pelas pessoas nesta vida” (Audiência, 28 de Julho de 1999). Por outras palavras, o Inferno é um auto-isolamento, auto-infligido, de tudo o que é bom. Se o Paraíso é um estado em que as nossas lágrimas nos são enxugadas (Isaías 25:8; Revelação 7:17, 21:4), o Inferno é o estado da eterna frustração, onde o homem chorará e rangerá os dentes (Mateus 22:13).

O Inferno não é uma criação de Deus, é fruto da própria criação humana. “Portanto, a condenação eterna não é atributo da iniciativa de Deus, porque com o seu amor misericordioso ele só pode desejar a salvação dos seres que ele criou. De facto, é a criatura que se fecha ao Seu amor. A danação consiste precisamente na separação definitiva de Deus, livremente escolhida pela pessoa humana e confirmada com a morte que sela a sua escolha para sempre” (São João Paulo II, Audiência, 28 de Julho de 1999).

O pecado mortal é a rejeição total de Deus. É um voltar-se para si mesmo, do qual nada de bom pode vir, porque tudo o que temos nos é concedido por Deus. “A principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e a que aspira” (Catecismo da Igreja Católica nº 1035).

É por isso que “Jesus fala frequentemente de ‘Gehena’ ou ‘fogo inextinguível’, reservado para aqueles que até ao fim das suas vidas se recusam a acreditar e a converterem-se, em que a alma e o corpo podem ser perdidos (Mateus 5:22, 29; 10:28; 13:42, 50; Marcos 9:43-48)” (CIC nº 1034).

Assim, se o Inferno não é uma táctica para assustar, por que falar acerca disso? O ponto 1036 do CIC dá-nos duas razões para ensinar sobre o Inferno:

Em primeiro lugar, “é um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno”.

Em segundo lugar, “é um apelo urgente à conversão”. Lembremo-nos como Nosso Senhor chorou por Jerusalém e declarou: «Ó Jerusalém, Jerusalém, que assassinas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os teus filhos, como a galinha acolhe os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vós não o aceitastes! Eis que a vossa casa ficará abandonada! (Mateus 23: 37-38)». «O Senhor não se atrasa em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, Ele é extremamente paciente para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento(II Pedro 3: 9)».

Pe. José Mario Mandía

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