Falta uma visão: o fim da guerra
Nunca pensamos em santos escandinavos, do Norte da Europa, hoje maioritariamente luterano. Mas existem. Como é o caso de uma santa, Brígida Birgersdotter, ou Brígida da Suécia, ou de Vadstena OSsS (terá nascido em 1303, talvez a 15 Dezembro, e falecido a 23 de Julho de 1373). Existe uma outra Santa Brígida, mas da Irlanda e mais antiga, conhecida na Ilha Verde como Naomh Bhríde (n. 453 – m. 524).
Brígida da Suécia, nascida Birgitta Birgersdotter, sueca, portanto, foi uma viúva, mística, santa e fundadora da Ordem de Santa Brígida (OSsS, Ordem do Santíssimo Salvador), ou Brígidas (há quem lhes chame Brigidinas também). Esta santa sueca está no grupo dos seis padroeiros da Europa, a par de São Bento de Núrsia, os irmãos santos Cirilo e Metódio, Santa Catarina de Siena e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). É também a padroeira católica da Suécia. Brígida foi canonizada a 7 de Outubro de 1391, pelo Papa Bonifácio XI.
Brígida significa “forte” e “brilhante”. A mais cultuada santa sueca nasceu em Uppsala, filha do cavaleiro Birger Persson, da família de Finsta, governador e legislador de Uppland, que era um dos mais ricos proprietários de terras do País. Sua mãe era Ingeborg Bengtsdotter, pertencente ao ramo de juristas dos Folkung, ou Bjelbo, uma das mais notáveis famílias aristocráticas medievais da Suécia. Pelos Folkung, Brígida era parente da família real sueca, além de membros dos governos nacionais. Tão grandes e nobres pergaminhos não impediram que a família fosse de elevada religiosidade. Os antepassados da santa eram peregrinos de Jerusalém (“palmeiros”). Os pais confessavam-se e comungavam todas as sextas-feiras, além de terem sido activos no exercício da caridade. Foram fundadores e patronos de igrejas e mosteiros, além de ajudarem os pobres. Foi neste ambiente cristão, caritativo e de profunda espiritualidade que Brígida cresceu. As biografias da santa recordam que um dos seus maiores prazeres era ouvir a mãe ler sobre a vida dos santos.
Brígida ficou célebre pelas suas visões, ou revelações. Com seis anos, terá tido a primeira, com a Virgem a aparecer-lhe e a convidá-la a ter uma vida santa, voltada para Deus. Estes fenómenos tornaram-se recorrentes, ao ponto de a jovem acreditar que se tratava de alucinações ou falsas imaginações. Mas um padre ter-lhe-á dito para acreditar no que via, pois eram mensagens celestiais. Com treze anos ficou absorta num sermão quaresmal, que a comoveu e a tornou devota de Jesus Cristo Crucificado. Mais tarde teve uma visão de Cristo suspenso na Cruz, sobre ela, que mudou a sua vida e a sua espiritualidade cristocêntrica.
Todavia, a vida no mundo conduziu Brígida ao casamento, que contraiu aos treze anos de idade, em 1316, com Ulf Gudmarsson da família de Ulvåsa, Senhor de Närke, de quem teve oito filhos, quatro filhas e quatro filhos. Seis destes sobreviveram à infância, algo raro na época. As filhas foram também tocadas pela espiritualidade da mãe: a mais velha era Märta Ulfsdotter, a segunda é hoje cultuada como Santa Catarina da Suécia, sendo que mais nova, Cecilia Ulvsdotter, foi também marcante na Igreja Católica na Suécia. Brígida ficou conhecida por obras de caridade, principalmente para com as mães solteiras de Östergötland e os seus filhos. Aos trinta e poucos anos, tornou-se principal dama de companhia da nova Rainha da Suécia, Branca de Namur. Em 1341, Brígida e o marido foram em peregrinação a Santiago de Compostela. Três anos volvidos, Ulf morreu na abadia cisterciense sueca de Alvastra. Uma tradição refere que Ulf viveu como irmão na abadia, depois de uma cura milagrosa no regresso de Santiago. Brígida, viúva, professou então na Ordem Terceira de São Francisco e dedicou-se a uma vida de oração e cuidado dos pobres e doentes. Renunciou a todas as posses e vaidades, indo para Roma com a filha Catarina da Suécia. Ali viveu catorze anos, dedicada à oração, visitando e ajudando os enfermos, muitos santuários como peregrina orante e ditando as suas revelações, hoje contidas em oito volumes. De Roma escreveu a muitas autoridades civis e eclesiásticas e ao Papa, então em Avinhão, dando soluções para erros e bons conselhos, muitos na forma de avisos, subsequentes às suas visões.
Fundou a Ordem do Santíssimo Salvador, cuja casa principal ficava na capital sueca, com sessenta religiosas. Nascia a Ordem das Brígidas, corria o ano de 1344, aprovada pelo Papa Urbano V em 1370. A regra que seguem é a de Santo Agostinho, tendo chegado a ter setenta mosteiros em toda a Europa. Ainda existem, divididas em vários ramos ou observâncias. Brígida morreu em Roma, a 23 de Julho de 1373, aos setenta anos de idade, com grande fama de santidade. As suas revelações foram confirmadas pela Igreja em 1436, no Concílio de Basileia.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa