Revista Família Cristã comemora 60 anos

Uma vida em abundância

Palavras semeadas que germinam na vida dos leitores que têm acompanhado a Família Cristã ao longo dos anos. Provocações e interpelações que espalham esperança. Notícias, reflexões e comentários que levam um cheirinho de Portugal também aos que estão além-fronteiras. A saudade também se lê através das páginas da Família Cristã – mas sem cristalizar no passado e com os olhos postos no presente e futuro.

Há 60 anos nascia A FAMÍLIA que hoje é a FAMÍLIA CRISTÃ. Em Dezembro de 1954, uma data histórica para os Paulistas portugueses, surgia no panorama da imprensa nacional a primeira edição de uma revista mensal com a Mãe de Jesus na capa. Bendita entre as mulheres, a pintura de Pietro Perugino, dava rosto à primeira publicação do Instituto Missionário Pia Sociedade de São Paulo.

«A FAMÍLIA bate às vossas portas. Abri. Ela sabe que todo o coração guarda ciosamente segredos às vezes belos e alegres; às vezes tristes e dolorosos e sem quebrar o encanto das vossas alegrias ou desvendar o segredo da vossa dor, passando das mãos de uns para as mãos de outros deixará cair como que uma gota de bálsamo que avivará a chama das vossas alegrias e será refrigério da vossa dor». Estas palavras foram escritas há seis décadas e lançavam o mote do que pretendia ser a publicação que acabava de chegar ao mercado editorial português.

A revista foi passando de mão em mão, e os leitores em Portugal espalharam a palavra. O eco chegou aos quatro cantos do mundo onde há famílias cristãs portuguesas. Lá longe, mas perto do coração guardam a língua portuguesa e a fé que aprenderam no país onde nasceram.

Ler notícias escritas em Português noutras latitudes ajuda(va) a matar saudades de um país distante. Saudade, essa palavra tão nossa e de difícil tradução. É também nos lugares mais inesperados que encontramos leitores da FAMÍLIA CRISTÃ. É o caso de Idalina Costa, 48 anos, que recebe a revista no Malawi. Assina a revista desde 1989, data em que foi para aquele país da África Oriental. Lia-a em Portugal, na casa de um tio que era assinante. «Sempre gostei desta revista, desde miúda… Acho que é uma revista muito formativa».

Quando partiu para o Malawi sentiu que também a FAMÍLIA CRISTÃ a poderia ajudar a sentir-se mais próxima do seu país. Idalina é voluntária numa missão dos Salesianos na escola técnica, onde ensina a bordar e a pintar. «Aprecio imenso receber revistas portuguesas em casa. Receber uma revista assim do meu país, fico muito feliz! Gosto muito desta revista, que aborda muitos assuntos interessantes e importantes para a família e a sociedade em geral e, como vivo aqui, não quis dispensar-me dela», conta Idalina à FAMÍLIA CRISTÃ, em entrevista por correio electrónico.

Foram contactados outros assinantes aleatoriamente e a Idalina Costa foi a primeira a mostrar-se disponível para partilhar o seu testemunho e faz questão de sublinhar: «Aprendo sempre algo com ela, informa-me sobre vários assuntos que são novos para mim. É uma amiga que me acompanhou sempre, digamos assim!». Lá em casa, a revista é lida pela irmã e pelo marido. Mas também sai fora de portas da casa desta família portuguesa, com certeza: «Empresto a algumas amigas que se interessam por alguns artigos». Há até quem veja outras vantagens na leitura da FAMÍLIA CRISTÃ: aprender a língua portuguesa. «Tínhamos um empregado moçambicano que gostava muito de praticar o Português, então dei-lhe várias e ele até levava para a família, sobretudo para as irmãs que ainda andavam na escola em Moçambique, já que o acesso a livros em Português é difícil».

Idalina viu ainda outra utilidade na revista FAMÍLIA CRISTÃ: «Ao longo dos anos fui recortando as vossas receitas de culinária e já tenho duas pastas cheias! Tenho saudades dessa rubrica!». Quem está longe de Portugal sente saudades de olhar para uma receita portuguesa para a tentar fazer lá longe, mesmo com os ingredientes adaptados. É uma forma de lembrar Portugal. «[A revista] ajuda-me a matar saudades, sobretudo no início da minha vida cá. Agora traz-me notícias e temas da actualidade daí. Ao saber notícias daí, sinto-me mais perto do meu país», confessa.

 

Fidelidade à FAMÍLIA CRISTÃ

O mesmo sentimento tem Clara Teixeira, 62 anos, que está há quatro décadas no norte da Alemanha: «Ajuda a matar as saudades de Portugal de toda a maneira», começa por contar ao telefone. Clara já nem se recorda há quantos anos recebe a revista. Já lá vão tantos anos que apenas se diz lembrar que decidiu assinar a FAMÍLIA CRISTÃ depois de outra emigrante portuguesa lhe ter emprestado a revista. Essa amiga já regressou a Portugal, mas Clara mantém-se na Alemanha com o marido, filhos, netos e… com a FAMÍLIA CRISTÃ.

Assim que a revista lhe chega às mãos, folheia-a rapidamente para ver os temas que mais lhe interessam. À noite, antes de se deitar, lê-a tranquilamente de fio a pavio. No dia seguinte vai para o trabalho mais serena. Diz que por vezes se sente revoltada com as coisas que acontecem em Portugal e no resto do mundo, mas que nas páginas da revista encontra um prisma diferente que a ajuda a ver o outro lado da realidade. Por isso ainda guarda religiosamente alguns exemplares da FAMÍLIA CRISTÃ num cesto. De vez em quando volta a elas, sobretudo para recordar as palavras do “Diálogo com o Padre”.

A emigrante reconhece ainda ter aprendido ou recordado certas palavras portuguesas com a revista. «Tudo isso ajuda um bocado para quem está longe e gosta de ler». Quer manter-se fiel à FAMÍLIA CRISTÃ e finaliza com uma mensagem terna: «Continuem, muita força! É com muito carinho que o digo. Façam como têm feito até aqui, fazem bem a muita gente». São as palavras sentidas de muitos assinantes que dão alento para se prosseguir o caminho.

 

A leitura em português lá longe

De Macau, por exemplo, enviam-nos outra mensagem que nos faz sentir gratos pelos leitores que temos. As palavras vêm do semanário católico O Clarim, que se publica desde Maio de 1948, o mais antigo jornal em língua portuguesa de Macau. O Clarim segue-nos desde 1985, quando assumiu a direcção do semanário o padre Albino Pais, sacerdote paulista falecido a 12 de Julho de 2014. «Primeiro, quero felicitar todos os obreiros da FAMÍLIA CRISTÃ pelo excelente trabalho que desempenham. Segundo, quero dar as boas-vindas da FAMÍLIA CRISTÃ ao clube das publicações sexagenárias, do qual O Clarim também faz parte. Terceiro, desejo que os seus responsáveis mantenham o rumo que vem sendo cumprido, para que continue a ser uma referência no sector das publicações de inspiração cristã/católica», escreve o editor d’O Clarim, José Miguel Encarnação, 38 anos.

«Desde que trabalho para O Clarim, a revista está presente na mesa de quem tem por tarefa editar o jornal», conta. Mas que interesse terá a FAMÍLIA CRISTÃ naquela que foi a última colónia europeia na Ásia? «Pouco antes do regresso do padre Albino Bento Pais a Portugal, na qualidade de editor pedi-lhe que não anulasse a permuta com a FAMÍLIA CRISTÃ, pois O Clarim sairia prejudicado ao não poder partilhar com os seus leitores conteúdos de grande qualidade». Para o editor deste semanário católico, «a FAMÍLIA CRISTÃ acrescenta, sobretudo, muita qualidade a’O Clarim. Profissionalmente, tem-me servido de guia em termos de matérias a explorar e no que respeita a algumas regras de edição de texto. Pessoalmente, muito tem contribuído para a minha formação social e religiosa».

José Miguel Encarnação confessa que tem um «sentimento de segurança» sempre que recorre à revista por alguma razão. «Talvez seja pelo enorme profissionalismo patente em cada edição». Considera que os artigos desta revista têm uma «elevada qualidade» e faz questão de partilhar a publicação de alguns n’O Clarim: «Em Macau, o Catolicismo é minoritário; prevalece o Taoísmo e o Budismo, o que influiu na filosofia de vida das pessoas. Por muito que tentemos é sempre difícil abordar qualquer tema da sociedade sob a perspectiva da Doutrina Social da Igreja, dado que o discurso dos interlocutores não o permite».

O editor d’O Clarim está em Macau desde 1994. Foi com os pais para lá e ingressou no Liceu de Macau (antigo Liceu Nacional Infante D. Henrique). Estando muito longe de Portugal, a leitura da FAMÍLIA CRISTÃ também o faz sentir próximo do País? «De certo modo, sim, embora considere que alguns artigos da FAMÍLIA CRISTÃ se encaixam noutras sociedades ocidentais, que não apenas a portuguesa».

A universalidade daquilo que se escreve em Português é motivo de orgulho para todos. Ter leitores espalhados pelo mundo e que apreciam o nosso trabalho enche-nos o peito de gratidão. As palavras com as quais trabalham os jornalistas ficam ainda com mais vida quando se sabe que, do lado dos olhos de quem nos lê, há a certeza de que somos bem-vindos a casa daqueles que também são a nossa família.

Sílvia Júlio

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