Maratona bíblica contra a solidão
Como sobreviver a mais de um mês de clausura em quartos de hotel sem perder a cabeça? A irmã Bernadette Kim encontrou a sua própria solução. A religiosa sul-coreana leu a Bíblia, do princípio ao fim, durante os 35 dias de quarentena a que se sujeitou, entre Março e Abril.
A fé nem sempre move montanhas, mas foi o escudo que protegeu Bernadette Kim do devastador impacto de mais de um mês de quarentena. Entre Março e Abril, a religiosa sul-coreana esteve confinada em quartos de hotel durante 35 dias, no âmbito de uma viagem que em circunstâncias normais se prefigurava como um interregno de pouco mais de seis horas.
Kim deixou a sua Coreia natal no início de Março e só recuperou a liberdade de movimentos mais de um mês depois, em meados de Abril. Pelo meio, teve de se submeter a dois longos períodos de quarentena, um em Taiwan e o outro em Macau. «Estive em quarentena durante 35 dias no âmbito da viagem que fiz entre a Coreia e Macau, com passagem por Taiwan. Estava com algum receio e com algumas expectativas negativas no início da quarentena. A ideia de permanecer em isolamento é um pouco assustadora, mas julguei que me poderia facultar a alegria de descansar fisicamente e a expectativa de me libertar do “stress” e das minhas actividades normais», revelou a irmã Bernardette Kim, em declarações a’O CLARIM.
A religiosa preparou-se mentalmente para fazer frente ao suplício de ter que passar mais de um mês enclausurada, mas não foi a mente o que a traiu. A missionária diz que foi a limitação de movimentos e a falta de espaço para actividade física que fizeram do processo de quarentena um desafio. «As experiências de confinamento levaram-me a compreender de que forma o impacto psicológico da quarentena e o isolamento foram exacerbados pelo impacto prejudicial da actividade física limitada», assume Bernadette Kim. «Ao fim de alguns dias de quarentena, senti-me zangada por estar presa contra a vontade, por não poder abrir as janelas num pequeno espaço, por não poder comunicar com os outros, por ter a comida sempre servida à mesma hora. Senti frustração, tédio, dores de cabeça», complementa.
Depois de uma primeira e difícil quarentena em Taiwan, a irmã Bernadette fez da fé o fundamento essencial do processo de isolamento a que se sujeitou à chegada a Macau. À oração, ao recolhimento e à missa quotidiana, juntou um desafio de monta. Para além de aprofundar a leitura diária do Evangelho e de se comprometer com a prática regular de exercício físico, a religiosa sul-coreana assumiu o compromisso de ler a Bíblia, na íntegra. «Tomei a decisão de ler integralmente a Bíblia durante a quarentena. Foi uma grande experiência, que me deu a sentir verdadeiramente a existência de Deus. Senti Deus perto de mim, a proteger-me e a guardar a minha vida», descreve Bernadette Kim. «Ao ler a Bíblia quatro ou cinco horas por dia, do Velho Testamento ao Novo Testamento, senti a misericórdia e o amor de Deus, que se evidenciou sem fim ao longo de toda a pecaminosa existência do Homem. Foi também uma oportunidade para olhar para a minha própria história e senti que Deus esteve sempre comigo e nunca me deixou sozinha; esteve sempre comigo. É uma dádiva ser filha de Deus. Gostava de recomendar às pessoas que passam por quarentena que leiam a Bíblia. Estou certa que Deus vos vai guardar», conclui.
Marco Carvalho