Caminho de Santidade – 2

REFLEXÃO

Caminho de Santidade – 2

O que mais me chamou a atenção em “Alegrai-vos e exultai” é o ensinamento do Papa Francisco sobre a santidade como amor a Deus, e amor a todos os vizinhos – um só amor –, principalmente, amor aos vizinhos necessitados.

O amor de Deus significa o amor que nos é dado por Deus. Kempis: “Não há santidade onde retiraste a tua mão, Senhor… Porque se nos abandonas, afundamo-nos e perecemos; mas se a nós visitas, levantamo-nos e voltamos a viver” (in “Imitação de Cristo”). A santidade alimenta-se da oração e da vida comunitária, do culto, da adoração, da Eucaristia… e do silêncio. O silêncio é necessário para escutar a voz de Deus: “Se não escutarmos, todas as nossas palavras não passarão de conversas inúteis”.

A atitude de escuta “implica a obediência ao Evangelho como norma última, mas também ao Magistério que o guarda”. O verdadeiro discernimento do Espírito ajuda a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, a ver a luz da novidade do Evangelho, e não apenas a aplicar e repetir o que foi feito no passado, pois “o que foi útil num contexto pode não o ser num contexto diferente”. O discernimento orante libertará as pessoas da rigidez, que está fora de lugar “no perene ‘hoje’ do Senhor ressuscitado” (cf. Papa Francisco, Gaudete et Exsultate, 150, 173).

Os seguidores de Cristo devem escutar não só o Senhor, a Igreja e os outros, mas também a realidade, ou seja, os “sinais dos tempos”, ou “o que se passa à nossa volta” (cf. GE, 172).

Escutamos as vozes dos outros quando possuímos um verdadeiro amor ao próximo, que é universal, e um “compromisso apaixonado e efectivo com o próximo”. Este compromisso inclui o reconhecimento da dignidade de cada ser humano e o respeito pelos Direitos Humanos fundamentais de todos.

O amor ao próximo necessitado é a prioridade, a característica distintiva de todos os seguidores de Jesus, “o grande critério” de santidade também hoje. É o apelo de Cristo nos pobres a todos os cristãos e pessoas de boa vontade (cf. Mt., 25, 35-36). Este apelo implica concretamente defender os nascituros e as crianças nascidas, e igualmente a vida de todos os pobres: os indigentes, os abandonados e os doentes vulneráveis, e [é a primeira vez que ouço esta expressão penetrante] “idosos expostos à eutanásia encoberta” (cf. GE, 101), migrantes e estranhos, ou estrangeiros.

A santidade “não consiste em desmaiar em êxtase místico”, mas em praticar o amor preferencial pelos pobres. São Tomás de Aquino escreve: “As obras mais nobres são as obras de misericórdia, mais ainda do que os nossos actos de culto”. Este amor especial pelo próximo necessitado não é – não pode ser – oposto ao amor a Deus na oração e no culto: Não acredito na santidade sem oração, diz o Papa Francisco. Pelo contrário, a oração autêntica transforma-nos de tal forma que nos impele a praticar a misericórdia como a esmola e o perdão. Na verdade, a primazia pertence à nossa relação com Deus, mas não podemos esquecer que o critério último com que a nossa vida será julgada é o que fizemos pelos outros (cf. GE, 147, 104). Palavras de Jesus: “O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis” (cf. Mt., 25, 40, 45). Neste contexto, o Papa Francisco convida-nos, com São Lucas, a viver “uma vida simples e austera” e a partilhar com os mais necessitados (cf. GE, 70).

SANTIDADE SIGNIFICA AMOR A DEUS E AMOR AO PRÓXIMO

(EM PRIMEIRO LUGAR, AMOR AO PRÓXIMO NECESSITADO)

Carregar a nossa cruz pessoal e ajudar os outros a carregar a sua pesada cruz é um elemento essencial da santidade, da perfeição, da felicidade. São João da Cruz diz que muitas pessoas amam as graças e os dons que vêm da santidade, mas quando se apercebem que a porta para a santidade aberta é a cruz, não a perseguem: “Porque a porta pela qual se pode entrar nas riquezas da sua sabedoria (de Deus) é a porta estreita da cruz”.

Para sermos capazes de carregar a nossa própria cruz, precisamos ter as nossas paixões sob controlo: “O corpo sob o espírito e o espírito sob Deus” (Santo Agostinho). O ascetismo, ou mortificação, ou jejum, é bom não apenas como um meio de dieta saudável, mas principalmente como um meio bom e necessário para alcançar a santidade, para se tornar um santo. O ascetismo temperado, ou disciplina pessoal moderada, ajuda-nos a manter afastadas as nossas concupiscências, as nossas emoções e paixões, os nossos impulsos naturais. “O ascetismo não nega os impulsos nem os considera maus. A nossa natureza está inclinada para a ‘autoindulgência’. É necessário um autocontrolo. Os sacrifícios ajudam-nos a ser livres, isto é, ‘senhores de nós próprios’, dos nossos impulsos e das nossas circunstâncias; o ascetismo ordena-os, uma ordem que se consegue através da prática das virtudes” (Romano Guardini).

O nosso principal problema em relação ao nosso chamamento à santidade é falar, ou seja, praticar o amor. Falar de santidade significa testemunhar que Jesus está vivo na nossa vida quotidiana, nas nossas relações e ocupações, amando mais profundamente a Deus e a todos os vizinhos, em primeiro lugar os vizinhos pobres. Dar testemunho de Cristo é a missão evangelizadora dos crentes em Jesus, que é o Filho de Deus e de Maria: O Homem-Deus e o Homem-para-os-Outros.

No caminho da santidade – a peregrinação da nossa vida –, o que realmente importa é Jesus, e o que realmente importa é o amor, que se exprime normalmente nos pequenos pormenores da vida quotidiana, nos pequenos gestos como dar um sorriso, ou um aperto de mão, ou um abraço ou um beijo, ou uma flor. Pequenas expressões de amor no nosso dia a dia: Podemos dizer “por favor”, “desculpe”, “obrigado”, “posso ajudá-lo”, “parabéns”… Estas e/ou outras expressões culturais de boa educação e cortesia amorosa não são apenas boas maneiras, mas actos da virtude da cortesia, a que São Francisco de Assis chamava a irmã mais nova da caridade.

Irmão e irmã em Cristo, tenham uma caminhada orante e alegre de santidade pelo Caminho – Jesus –, praticando o amor a Deus, ao próximo, ao pobre próximo! A recompensa? Felicidade aqui e no além: O CÉU!

Pe. Fausto Gomez, OP

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