A Alegria de um Cristão
A Páscoa é alegria! Há sempre uma grande alegria na presença de Cristo ressuscitado, que é o mesmo Senhor crucificado – agora gloriosamente transfigurado –, o mesmo Jesus de Nazaré. Por este dia glorioso, todos se alegram! Maria e os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor (cf. Jo., 20, 20). A comunidade dos primeiros discípulos alegrou-se! Os convertidos por Paulo e Barnabé «ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo» (Actos 13, 52). Depois de ter baptizado o eunuco etíope, Filipe foi arrebatado pelo Espírito e desapareceu, «mas o eunuco, pleno de alegria, seguiu o seu caminho» (Act., 8, 39). O carcereiro de Paulo e Silas em Filipos alegrou-se com toda a sua casa depois de ter recebido o dom da fé em Deus (cf. Act., 16, 34).
Seguindo os Apóstolos, os discípulos de Jesus, ao longo dos tempos, acreditam na Ressurreição de Cristo, que é pura alegria: “Alegria para o mundo, alegria para ti e para mim!”. Todos os santos são alegres: “o maior dos seus dons era o seu sorriso”. Graças a Deus, porque acreditamos na Ressurreição do Senhor, e por isso somos felizes, alegres: a alegria é “a filha da felicidade” (Frei Luís de Granada); e o sorriso, uma expressão de alegria – como o Aleluia.
Todos sabemos que o centro da pregação de Jesus é o Sermão da Montanha, e o coração do Sermão, as Bem-aventuranças. As Bem-aventuranças são “oito formas de felicidade” (J. M. Cabodevilla). Alguns gostam de acrescentar uma nona Bem-aventurança: «Felizes aqueles, diz Jesus a Tomé, que não viram e, no entanto, vieram a acreditar» (Jo., 20, 29).
Como é que as primeiras comunidades cristãs viveram a Ressurreição de Cristo? As primeiras comunidades cristãs celebraram a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus durante uma noite e um dia inteiros. Dizem-nos que muitos incrédulos estavam à espera que eles saíssem do local da celebração ao amanhecer – depois da longa celebração pascal. Para quê? Para ver a expressão radiante – a alegria – no rosto dos cristãos. De facto, a sua alegria sem limites, diz-nos Santo Agostinho, a sua alegria sem limites converteu muitos incrédulos ao Senhor Ressuscitado.
Imaginamos os dois discípulos de Jesus a caminho de Emaús, vindos de Jerusalém: Jesus tinha morrido e eles estavam profundamente tristes. Tinham uma razão para estarem tristes: acreditavam que Jesus tinha morrido. Portanto, é o fim da história. Ponto final! O que é mau é que aqueles que acreditam que Jesus ressuscitou dos mortos estejam tristes (J. L. Martin Descalzo). “De pouco serve dizer às pessoas que Cristo lhes trará alegria…, se as nossas próprias vidas são sombrias…” (W. Barclay, in Jo., 4, 43-45). “É impossível estar triste na presença do Senhor Ressuscitado” (Schillebeeckx).
Não é de admirar que o monge e teólogo Evagrius Ponticus (Século IV), seguindo os Padres do Deserto, tenha acrescentado, aos tradicionais sete pecados capitais, o oitavo pecado capital, ou seja, a tristeza, que é o contrário da alegria.
Somos criaturas de Deus, e a Criação de Deus alegra-se: «Pastagens brotam nos desertos e de júbilo se cingem as colinas. As campinas se revestem de rebanhos, os vales se vestem de trigais viçosos e ecoam vozes uníssonas em jubilosos cânticos de louvor a Ti» (Sal., 65, 12-13). Sim, Isaías cantava: «O Senhor é a minha salvação… Cantai louvores ao Senhor… Cantai de alegria» (Is., 12, 2.5-6).
Somos crentes em Jesus, como não estar alegres? A alegria, ou verdadeira satisfação e deleite, é uma qualidade da vida das pessoas de bem, dos crentes, em particular dos cristãos autênticos. Acreditamos que Deus é Uno e Trino, três pessoas divinas: Deus Pai é o nosso criador e poder; Deus Filho, é o nosso salvador e redentor, e Deus Espírito Santo, o nosso advogado e graça. A alegria é um dos frutos e bênçãos do Espírito Santo (cf. Gal., 5, 22). “Ninguém é tão feliz como um cristão autêntico” (Pascal). É por isso que alguns dos nossos irmãos e irmãs acrescentam aos Dez Mandamentos o 11.º Mandamento: “Sede alegres”.
Qual é a principal causa da alegria cristã? O amor de Deus: Deus ama-nos. Apesar dos nossos pecados, Deus, nosso Pai, ama-nos, e Jesus cura-nos, e o Espírito Santo fortalece-nos com a graça e a alegria divinas (cf. Lc., 15, 10). O verdadeiro amor – a participação do amor de Deus em nós – é a fonte principal da verdadeira felicidade e alegria. De facto, a caridade – ou o amor a Deus e a todos os próximos – provoca a verdadeira alegria, efeito da caridade. O amor é alegre. A caridade está enraizada na graça, que é uma participação limitada, mas real na divindade de Deus.
Mas – um grande “mas” – como podemos ser alegres quando o sofrimento vem para nos magoar? O sofrimento faz parte da nossa vida: todos nós “carregamos as chagas de Cristo”; todos nós carregamos a nossa cruz pessoal. Mas o sofrimento não se opõe directamente à alegria. Isto também é verdade hoje, apesar da pandemia e das guerras – e das nossas lágrimas. O sofrimento desordenado ou mal integrado fere, de facto, a virtude ou o bom hábito da alegria ou do júbilo. A palavra-chave que dá sentido à nossa vida e a torna alegre é o amor. E o amor pode tornar o sofrimento suportável, leve e – sim – até alegre. Os discípulos de Jesus ao longo dos séculos, quando perseguidos e martirizados, estavam e estão «cheios de alegria» (Act., 5 ,41). O profeta clamou a Deus: «Ainda que a árvore não floresça…, ainda que o rebanho seja separado do redil…, alegrar-me-ei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação» (Hab., 3, 17-18).
O caminho da cruz é o caminho da nossa ressurreição: não há Domingo de Páscoa sem Sexta-feira Santa. Tal como a de Cristo, a nossa cruz é uma cruz vitoriosa. Na nossa vida, a alegria e o sofrimento misturam-se. Na vida de São Domingos, por exemplo, misturavam-se alegria e lágrimas, mas ele tinha sempre uma alegria espiritual.
Somos peregrinos a caminho da casa do Pai. Por isso, «Alegrai-vos na esperança» (Rm., 12, 12). Cristo “al resucitar, abrió la fuente de la esperanza; inauguró el objeto mismo de la esperanza, que es una vida con Dios más allá de la muerte” (R. Cantalamessa). Esperamos com alegria e rezamos – a oração ajuda sempre – para que, no fim do nosso caminho, Jesus vos diga a vós e a mim: «Vem, partilha a alegria do teu Mestre» (Mt., 25, 21-23).
Que maravilha! Somos o Povo da Páscoa e o nosso cântico é o Aleluia! Aleluia, isto é, louvai o Senhor!
Pe. Fausto Gomez, OP