São Basílio: Grande santo, grande coração

PAIS DA IGREJA (26)

São Basílio: Grande santo, grande coração

Em meados do Século IV, surgiram na Capadócia, na Ásia Menor (actual Turquia), três grandes teólogos da Igreja Oriental: Basílio de Cesareia da Capadócia, o seu irmão Gregório de Nissa e o seu amigo Gregório de Nazianzo. Formados na Cultura Clássica, coroaram o trabalho que Atanásio vinha desenvolvendo para refutar o Arianismo. A Igreja Ocidental conta São Basílio e São Gregório de Nazianzo entre os grandes Padres orientais, juntamente com Santo Atanásio e São João Crisóstomo.

Comecemos por nos concentrar em São Basílio, também conhecido como Basílio, o Grande. Foi um notável pastor, defensor e mestre da Fé, Pai do Monaquismo no Cristianismo oriental, reformador da Liturgia e trabalhador em prol dos pobres e desfavorecidos.

Basílio nasceu por volta de 330 d.C., numa família de pessoas santas. Os seus pais, Basílio, o Velho, e Macrina, foram martirizados durante a perseguição de Maximino Galério (305-314). Basílio tinha nove irmãos e, para além dele, dois outros (Macrina e Gregório) são também honrados como santos na Igreja Ocidental. Basílio, Gregório e o seu irmão Pedro tornaram-se todos bispos. Pedro e a sua irmã Theobia são também considerados santos na Igreja Oriental.

Basílio tinha uma carreira prometedora como retórico, mas, a certa altura, sofreu uma conversão. Escreveu nas suas Cartas (223, 2): “Tinha perdido muito tempo com loucuras e passado quase toda a minha juventude em trabalhos vãos e na devoção aos ensinamentos de uma sabedoria que Deus tinha tornado insensata (I Coríntios 1, 20). De repente, acordei como de um sono profundo. Contemplei a maravilhosa luz da verdade do Evangelho e reconheci o nada da sabedoria dos príncipes deste mundo, que se tornou em nada (I Coríntios 2, 6). Derramei uma torrente de lágrimas sobre a minha vida miserável e rezei por um guia que pudesse formar em mim os princípios da piedade”.

Recebeu o Baptismo e viajou para o Egipto, Palestina, Síria e Mesopotâmia, a fim de se encontrar com os ascetas mais famosos. Quando regressou, distribuiu a sua fortuna pelos pobres. Outros logo se juntaram a ele, sendo que chegou a fundar alguns mosteiros.

“Atraído por Cristo, [Basílio] começou a olhar para Ele e a ouvir somente Ele (cf. Moralia 80, 1: PG 31, 860bc). Com determinação dedicou-se à vida monástica na oração, na meditação das Sagradas Escrituras e dos escritos dos Padres da Igreja, e no exercício da caridade (cf. Epp. 2 e 22), seguindo também o exemplo da irmã, Santa Macrina, que já vivia no ascetismo monástico. Depois foi ordenado sacerdote e enfim, em 370, Bispo de Cesareia da Capadócia, na actual Turquia” (Bento XVI, Audiência Geral de 4 de Julho de 2007).

Ao mesmo tempo que se dedicava à oração e à meditação, São Basílio conseguiu também prestar um serviço às almas. “favoreceu a fundação de muitas ‘irmandades’ ou comunidades de cristãos consagrados a Deus, que visitava frequentemente (cf. Gregório Nazianzeno, Oratio 43, 29 in laudem Basilii: PG 36, 536b)” (Idem).

São Bento considerava Basílio seu mestre (cf. Regra 73, 5) e baseou as regras que escreveu nos ensinamentos de São Basílio. O Papa Bento XVI afirmou: “Na realidade, ele [Basílio] criou um monaquismo muito particular: não fechado à comunidade da Igreja local, mas aberto a ela. Os seus monges faziam parte da Igreja particular, eram o seu núcleo animador que, precedendo os outros fiéis no seguimento de Cristo e não só na fé, mostrava a firme adesão a Cristo o amor a Ele sobretudo nas obras de caridade. Estes monges, que tinham escolas e hospitais, estavam ao serviço dos pobres e mostraram assim a integridade da vida cristã” (Idem). São Basílio também garantiu habitação para os pobres e hospedagem aos viajantes e forasteiros, o que criou uma “cidade da misericórdia” que, em sua honra, foi chamada “Basílica”. “Ela está nas origens das modernas instituições hospitalares de internação e de cuidado dos doentes” (Idem).

Quanto aos seus contributos para a piedade e para a Liturgia, o Papa Bento XVI disse: “Com efeito, deixou-nos uma grande oração eucarística [ou anáfora], que dele recebe o nome, e deu um ordenamento fundamental à oração e à salmodia: pelo seu impulso o povo amou e conheceu os Salmos, e recitava-os também de noite (cf. Basílio, In Psalmum, 1-2: PG 29, 212a-213c). E assim vemos como a liturgia, a adoração, a oração com a Igreja e a caridade caminham juntas, condicionando-se reciprocamente” (Idem).

Como já foi referido, Basílio defendeu os ensinamentos de Atanásio, pregando a divindade de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Também se esforçou por sanar as divisões no seio da Igreja.

O grande Capadócio, no seu amor a Cristo e ao seu Evangelho, esforçou-se também por sanar as divisões no seio da Igreja (cf. Cartas, 70, 243), fazendo o possível para que todos se convertessem a Cristo e à sua Palavra (cf. De Iudicio 4: PG 31, 660b-661a), força unificadora a que todos os crentes deviam obedecer (cf. ibid. 1-3: PG 31, 653a-656c).

E, assim, concluiu o Papa Bento XVI, na Audiência Geral de 4 de Julho de 2007: “Em 379 Basílio, não ainda cinquentenário, consumido pelos cansaços e pela ascese, retornou para Deus, ‘na esperança da vida eterna através de nosso Senhor Jesus Cristo’ (De Baptismo 1, 2, 9). Ele era um homem que viveu verdadeiramente com o olhar fixo em Cristo. Era um homem do amor ao próximo. Cheio da esperança e da alegria da fé, Basílio mostra-nos como ser realmente cristãos”.

Pe. José Mario Mandía

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