O que queremos dizer com “Meditação”?
“A tradição cristã conservou três modos para expressar e viver a oração: a oração vocal, a meditação e a oração contemplativa. Têm em comum o recolhimento do coração” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 568).
ORAÇÃO VOCAL
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) lembra que não rezamos apenas com o coração. Precisamos rezar com os lábios e, de facto, também com todo o nosso corpo. Quando os Apóstolos viram Jesus a rezar, pediram-lhe que os ensinasse a rezar. E nosso Senhor ensinou-lhes o Pai Nosso. Além disso, o CIC acrescenta, no ponto 2701, que “Jesus não rezou apenas as orações litúrgicas da sinagoga: os evangelhos mostram-no-Lo a elevar a voz para exprimir a sua oração pessoal, desde a bênção exultante do Pai até à desolação do Getsémani”.
No ponto 2702, o CIC explica que as formas externas de oração são importantes porque não somos espíritos puros. Também temos um corpo e precisamos expressar a nossa oração por meio do corpo: “A necessidade de associar os sentidos à oração interior corresponde a uma exigência da natureza humana. Nós somos corpo e espírito e experimentamos a necessidade de traduzir exteriormente os nossos sentimentos. Devemos rezar com todo o nosso ser para dar à nossa súplica a maior força possível”.
Além disso, o próprio Deus quer que o façamos. É apropriado, é justo, que expressemos os nossos pensamentos e desejos íntimos de maneira visível. O CIC refere, no ponto 2703: “Esta necessidade corresponde também a uma exigência divina. Deus procura quem O adore em espírito e verdade e, por conseguinte, uma oração que suba viva das profundezas da alma. Mas também quer a expressão exterior que associe o corpo à oração interior, porque ela Lhe presta a homenagem perfeita de tudo a quanto Ele tem direito”.
Não devemos menosprezar a importância da oração vocal, porque é o início da oração contemplativa (cf. CIC nº 2704). Como diz São Josemaría na homilia “Rumo à Santidade” (Amigos de Deus, nº 296): “Começamos com orações vocais, que muitos de nós repetimos quando crianças: são frases ardentes e singelas, dirigidas a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje, de manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo o oferecimento de obras que os meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha Mãe! Eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do meu filial afecto para convosco, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração… Não será isto – de certa maneira – um princípio de contemplação, demonstração evidente de confiado abandono? O que é que dizem um ao outro os que se amam, quando se encontram? Como se comportam? Sacrificam tudo o que são e tudo o que possuem pela pessoa amada. Primeiro uma jaculatória, e depois outra, e mais outra…, até que parece insuficiente esse fervor, porque as palavras se tornam pobres…, e se dá passagem à intimidade divina, num olhar para Deus sem descanso e sem cansaço. Vivemos então como cativos, como prisioneiros. Enquanto realizamos com a maior perfeição possível, dentro dos nossos erros e limitações, as tarefas próprias da nossa condição e do nosso ofício, a alma anseia por escapar-se. Vamos rumo a Deus, como o ferro atraído pela força do ímã. Começamos a amar Jesus de forma mais eficaz, com um doce sobressalto”.
MEDITAÇÃO
A palavra “Meditação” pode ter diferentes significados. Para os cristãos, “a meditação é uma reflexão orante, que parte sobretudo da Palavra de Deus na Bíblia. Mobiliza a inteligência, a imaginação, a emoção, o desejo, para aprofundar a nossa fé, suscitar a conversão do nosso coração e fortalecer a nossa vontade de seguir a Cristo. É uma etapa preliminar em direcção à união de amor com o Senhor” (CCIC nº 570).
Tal é diferente da meditação budista, que visa libertar a pessoa do ciclo de renascimento e sofrimento. A meditação oriental nada tem a ver com Deus.
Na meditação cristã podemos servir-nos de muitos livros espirituais (cf. CIC nº 2705), mas também do livro da vida (cf. CIC nº 2706), porque Deus, o nosso amoroso Pai, Se interessa por aquilo que nos acontece. São Josemaría dá conselhos muito práticos que podem ajudar a melhorar a meditação: “Não sabes o que dizer ao Senhor na tua oração. Não consegues pensar em nada, mas gostarias de consultá-lo sobre muitas coisas. Faz algumas anotações durante o dia sobre o que desejas considerar na presença de Deus. E então leva essas notas contigo para rezar” (Caminho nº 97).
CONTEMPLAÇÃO
A oração contemplativa é descrita pelo CCIC, no ponto 571, da seguinte forma: “A oração contemplativa é um simples olhar sobre Deus no silêncio e no amor. É um dom de Deus, um momento de fé pura durante o qual o orante procura Cristo, se entrega à vontade amorosa do Pai e concentra o seu ser sob a acção do Espírito. Santa Teresa de Ávila define-a como uma íntima relação de amizade, ‘em que muitas vezes dialogamos a sós com Deus, por Quem sabemos ser amados’”.
Por sua vez, o CIC também explica no ponto 2710: “Não se pode meditar sempre; mas pode-se entrar sempre em contemplação, independentemente das condições de saúde, trabalho ou afectividade”.
Isto significa que a contemplação é para todos, seja qual for a ocupação ou situação de vida em que se encontrem. Todos são chamados a ser contemplativos, porque todos são chamados a participar intimamente na amizade de Jesus que, através do seu Espírito Santo, nos reconduz ao Pai.
Pe. José Mario Mandía