Seguir Cristo hoje: Implicações
A vida espiritual de um cristão é sequela Christi, ou seja, seguir Cristo.
Nos Evangelhos sinópticos, seguir Cristo significa “andar após Cristo”. Ele é o Mestre, o Rabi, e por isso os Seus discípulos devem segui-Lo fisicamente (cf. Mc., 3, 13-15) como os apóstolos e os 72 discípulos, ou segui-Lo na fé como os Seus discípulos através dos tempos, como nós! Seguir Cristo implica conhecê-Lo, e conhecê-Lo, amá-Lo; e amá-Lo, guardando as Suas palavras, praticando os Seus mandamentos (cf. Jo., 14, 21-24); e anunciar ao mundo o Seu amor sem limites.
Na verdade, ser discípulo de Jesus implica basicamente duas coisas: crer Nele (é a fé Nele que cria a comunidade dos crentes) e praticar o mandamento novo do Amor (Jo., 13, 34-35). O discípulo acredita e a sua fé esperançosa encontra expressão no Amor.
São Paulo diz a Timóteo: «Recorda-te de Jesus Cristo, ressurrecto dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho» (2 Tm., 2, 8): lembremos sempre a Sua vida, os Seus ensinamentos, o Seu amor, o Seu perdão, a Sua morte por nós, e a Sua ressurreição dentre os mortos. Paulo usa mais o termo “imitar” do que “seguir”. Por que o faz? A razão provável é porque ainda não havia seguido Jesus “fisicamente”. Imitar Cristo significa imitar a Sua vida, imitar o exemplo de Jesus (cf. 1 Pe., 2, 21). Jesus disse aos apóstolos: “Sigam-me”, “Segue-me”, o mesmo é dizer “Imitem-me”, “Imita-me” – “não pelo movimento dos pés, mas sim por uma mudança de vida. Pois quem diz que segue Cristo deve andar como Cristo andou” (São Beda, o Venerável). São Francisco de Sales proclamou: “Quem tem Jesus no coração, logo o terá em todos os seus caminhos exteriores” (Introdução à Vida Devota).
Para São Paulo, em particular, imitar Cristo significa identificar-nos com Cristo: uma vida em e com Cristo, isto é, com o nosso modelo. Para Paulo, a vida do cristão é “a vida em Cristo”: «Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim» (Gl., 2, 20). Cristo, então, é o centro da vida cristã espiritual, moral, litúrgica e orante de cada cristão. Nós, cristãos, somos chamados a viver como Jesus viveu.
O padre Romano Guardini escreve: “Antes do Pentecostes, os discípulos viviam ‘à vista’ de Cristo, agora vivem n’Ele; antes falavam sobre Ele; agora falavam por meio Dele”. E acrescenta: “Paulo é o mensageiro privilegiado desta doutrina [aplicável a todos os crentes em Jesus]”. “Porque Cristo vive no cristão” (O Senhor).
“VÓS SÓIS CRISTÃOS, E TAL COMO O PRÓPRIO NOME INDICA,
VÓS ACREDITAIS NA CARIDADE”
A imitação em si implica copiar o outro. Na realidade, Cristo não pode ser copiado: Ele é o Filho Unigénito de Deus. Além disso, não vivemos no tempo de Jesus. Por isso, talvez seja preferível falar em seguir Cristo, um movimento dinâmico e incessante de vida: estar cada vez mais perto de Cristo, do Caminho.
Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo., 14, 6). Jesus é o Caminho a percorrer, a Verdade a anunciar e a Vida a viver. Kempis escreve: “Sem caminho não há possibilidade de caminhar; sem a verdade não podemos saber; sem vida ninguém pode viver; Eu sou o caminho que vós deveis seguir; a verdade que vós tendes que acreditar; a vida que vós tendes que esperar. Sem o Caminho não há caminho; sem a Verdade não há conhecimento; sem a Vida não há viver. Eu sou o Caminho que deveis seguir; a Verdade na qual deveis acreditar; a Vida pela qual deveis esperar. Eu sou o Caminho inviolável, a Verdade infalível e a Vida interminável” (“Imitação de Cristo”).
O Senhor deve ser nosso único Caminho. Santo Agostinho acentua com toda a força: “Eu sou o Caminho. Para onde nos leva o Caminho? Leva-nos à verdade e à vida”. Cristo é o caminho que nos leva a Deus. Para São Tomás de Aquino, Ele é “o exemplo primordial, com uma exemplaridade não só moral (imitação da Sua vida e virtudes), mas também ontológica (conformidade à imagem de Cristo pela graça que vem de Deus por meio de Cristo no Espírito): é divinização (participação na divindade de Deus) e cristificação (tornar-se semelhante a Cristo)”.
Um cristão segue o estilo de vida de Jesus. Para todos, a fé – escreve Jacques Ellul – “é um encontro directo e existencial com Deus”. O Deus que Jesus nos revela é um “amor abrangente, Trindade – um Deus em três pessoas (a criação pelo Pai, a encarnação pelo Filho e a transfiguração pelo Espírito). O encontro com Deus em Jesus é um encontro vivido ‘através do amor’, da compaixão e da recusa em se curvar aos ídolos de hoje”. Santo Astério de Amaseia diz-nos: “Vós sóis cristãos, e tal como o próprio nome indica, vós acreditais na caridade”. “Deveis imitar a caridade de Cristo. Meditai atentamente na riqueza da caridade de Cristo”.
Assim, a vida espiritual – em bom rigor, toda a nossa vida cristã – está centrada no “viver com Cristo”, no tornar-se como “outro Cristo” na actualidade. Viver em Cristo significa basicamente uma vida filial, fraterna e carismática – uma vida trinitária. É, além disso, uma “vida em missão”: «Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio» (Jo., 20, 21). A espiritualidade do cristão é também espiritualidade missionária, isto é, espiritualidade “para viver o mistério de Cristo enviado” (cf. João Paulo II, Redemptoris Missio, 88). Assim como Cristo foi enviado pelo Pai no Espírito para pregar a Boa Nova, assim também os Seus discípulos – sacerdotes, religiosas e religiosos, fiéis leigos – são enviados ao mundo, e de um modo especial os missionários nas fronteiras, nas periferias.
Seguir Jesus significa, verdadeiramente, seguir Cristo de modo fiel e dinâmico. Fiel, à semelhança dos homens que receberam cinco e dois talentos (cf. Mt., 25, 14-30). E dinâmico, sendo-se sempre peregrinos no caminho da contínua conversão do pecado a Deus, e progredindo na erradicação dos vícios e na aquisição das virtudes.
Seguir Jesus leva-nos a ser seduzidos por Ele. Profeta Jeremias: «Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir» (Jr., 20, 7). Assim como Deus seduziu Jeremias, os autênticos seguidores de Jesus são seduzidos por Ele. Que possamos estar entre eles!
Pe. Fausto Gomez, OP