Dia dos Cristãos da Índia… e de todos os que crêem sem ver
Tomé, ou Tomás, é um dos doze apóstolos que seguiram Jesus. Terá iniciado este caminho no ano 31, até à morte de Cristo. Tomé nasceu no Século I, na Galileia (Norte de Israel), vindo a morrer na Índia, em Meliapore (actual Mylapore, junto a Chennai, antiga Madrasta, ou Madras), no ano de 72, a 3 de Julho. Morreu no que é chamado de “Saint Thomas Mount”, uma colina onde hoje se ergue uma igreja em honra do santo padroeiro da Igreja Católica na Índia. No tempo em que lá andou, a região inseria-se no império Chola (300 a.C. até1279), centrado no actual Estado indiano de Tamil Nadu. O Martirológio Romano, que reúne várias lendas e tradições como justificação da santidade dos mártires, afirma que São Tomé (ou Tomás) pregou o Evangelho aos Partos, Medos, Persas e Hircanianos (povo do Norte do Irão), e que depois foi para a Índia, onde foi martirizado em “Calamine”. Comemora-se a 3 de Julho a transferência das relíquias de São Tomé para Edessa (actual cidade turca de Sanliurfa). No Malabar (Índia) e em todas as igrejas sírias, esta data é a Festa principal, já que o Martírio ocorreu, como vimos, em 3 de Julho de 72. Assim refere o Martirológio. Também é conhecido como Judas Tomás Dídimo. Tomé, ou Tomás, provém do Aramaico – significa “gémeo”, tal como “Dídimo” em Grego.
O apóstolo São Tomé, judeu, era um pescador de profissão. Ficou conhecido pela sua incredulidade após a morte do Senhor. Jesus apareceu então aos discípulos no dia da Ressurreição para os convencer de que tinha realmente ressuscitado. Tomé, porém, estava ausente, tendo-se depois recusado a acreditar na Ressurreição de Jesus: «Se eu não vir a marca dos pregos nas suas mãos e colocar o meu dedo nos buracos dos pregos, se eu não colocar a minha mão no Seu lado, eu não vou acreditar», terá dito o incrédulo apóstolo. Oito dias volvidos, quando Jesus estava novamente com os discípulos, voltou-se então para Tomé e disse-lhe: «Tomé, coloca aqui o teu dedo e olha para as minhas mãos: dá-me a tua mão e coloca-a no meu lado. Não sejas incrédulo, mas crê». Tomé logo caiu de joelhos e exclamou: «Meu Senhor e meu Deus!». E Jesus respondeu: «Tu acreditaste, Tomé, porque me viste. Bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto».
De acordo com a tradição cristã da Índia, dos denominados “Cristãos de São Tomé” (seus herdeiros espirituais), particularmente no Estado de Kerala (sudoeste indiano, no Malabar), Tomé terá viajado para fora do Império Romano para pregar o Evangelho, chegando mesmo ao Tamilakam, região do povo tâmil localizada no Sul da Índia, no ano 52. d. C. Em 1258 algumas das suas relíquias foram levadas para Ortona, em Abruzzo (Itália), onde se encontram na igreja de São Tomé Apóstolo. Este santo é reverenciado como santo tanto pela Igreja Católica como pela Ortodoxa, sendo considerado o santo padroeiro da Índia entre os seus fiéis cristãos, com Festa, também a 3 de Julho, a ser celebrada como o “Dia dos Cristãos da Índia”.
Há também um texto apócrifo conhecido como Evangelho de Tomé, o qual foi encontrado em Nag Hammadi. Começa assim: “Estas são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, pronunciou e que Dídimo Judas Tomé registou por escrito”. A tradição síria também relata que o nome completo do apóstolo era Judas Tomé, e no apócrifo conhecido como “Actos de Tomé”, escrito no Leste da Síria no início do Século III, Tomé é identificado com Judas, um dos quatro putativos irmãos de Jesus. Segundo a tradição, Tomé seria primo de Jesus em segundo grau.
A sua personalidade é, provavelmente, e graças ao quarto Evangelho (João), a que nos é veiculada de forma mais clara entre os Doze. O seu nome aparece em todas as listas sinópticas (Mateus 10, 3; Marcos 3, 18; Lucas 6; Actos 1, 13), mas é João que melhor retrata o seu carácter, bem como a sua adesão ao projecto salvífico de Jesus («Vamos também nós, e morramos com Ele» Jo., 11,16). Depois, na Última Ceia, é Tomé que levanta uma objecção a Jesus, ao dizer que não sabiam para onde Ele ia, logo como iriam saber o caminho… (cf. Jo., 14,5), além do episódio da dúvida, já referido.
Temos ainda a tradição da pregação de Tomé na Índia, para muitos estudiosos algo não confirmado. São, contudo, vários os autores antigos que assinalam essa incursão e depois o martírio do Apóstolo na Índia, tal como Efraim, Siro, Ambrósio, Paulino, Jerónimo e, posteriormente, Gregório de Tours e outros. Depois, temos as tradições indianas e, a denominação orgulhosa dos cristãos da Índia, ditos de “São Tomé”!
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa
LEGENDA: Saint Thomas Mount, na Índia