A absoluta necessidade da oração
A vida cristã é vida espiritual e moral. Daí que a oração seja essencial na vida de cada cristão – sacerdote, religioso ou leigo.
Desejo reflectir um pouco extensamente – em seis artigos – sobre a oração na nossa vida. Primeiro, iremos falar sobre a necessidade e obrigação de orar; depois, sobre a natureza e os tipos de oração; em terceiro, sobre os métodos de oração; quarto, sobre os frutos da oração. Na quinta coluna iremos reafirmar a necessidade da oração contínua. A terminar, iremos debruçar-nos sobre a prática da oração.
Comecemos então a nossa “jornada orante” e esperançosa com uma nota sobre a absoluta necessidade da oração.
A vida cristã significa seguirmos de forma radical e centramo-nos em Cristo, cuja vida foi profundamente orante. Como vemos nos Evangelhos, Jesus orava continuadamente, em especial quando teve que tomar decisões importantes ou celebrar um evento de amplo significado: antes de escolher os Doze Apóstolos (Lc., 6,12-16); antes da Confissão de Pedro (Lc., 9,18); antes de ensinar os seus discípulos a orar (Lc., 11, 1). Os Evangelhos falam-nos que Jesus orava frequentemente numa solidão silenciosa (Mt., 14, 23; Lc., 5,15 -16): «De madrugada, ainda escuro, levantou-Se e saiu; foi para um lugar solitário e ali Se pôs em oração» (Mc., 1, 35). Jesus ensinou-nos a rezar o Pai Nosso, que é a norma da oração cristã. Após a ascensão de Jesus, os Apóstolos, juntamente com algumas mulheres, incluindo Sua Mãe, Maria, foram para a sala de cima orar: «Com um só coração, todos eles se uniam constantemente em oração» (Act., 1, 14). Jesus diz-nos: «Orai sempre, sem desfalecer» (Lc., 18, 1). O Senhor pede-nos para orar sempre, seja real ou virtualmente, externa ou internamente. São Paulo repete: «Orai constantemente» (1 Ts., 5, 17). Santo Agostinho comenta: “A frase do apóstolo: ‘Orai sem cessar’ não significa outra coisa senão: sem cessar o desejo, daquele que só pode dar, a vida bem-aventurada, que nada mais é do que a vida eterna” (Carta a Proba). Orar incessantemente é o desejo real ou virtual da caridade e, consequentemente, a intenção constante de fazer todas as coisas, «fazei tudo» para glória de Deus (1 Cor., 10, 31).
Somos corpo-alma. Os nossos corpos precisam de comida – comida física – para vivermos e permanecermos fortes. As nossas almas precisam de alimento – alimento espiritual – para estarem vivas em Deus. Àqueles que seguiam Jesus, esperando o alimento físico – pão e peixe -, Ele disse-lhes: «Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que dura e que dá a vida eterna…» (Jo., 6, 27).
Somos criaturas e filhos de Deus. Somos fracos e necessitados: “os verdadeiros mendigos do Senhor” (Pais do Deserto). Vamos a Jesus, nosso salvador e fortaleza: «Sem mim» – diz-nos Jesus – «nada podeis fazer» (Jo., 15, 5). A oração – escreveu um dos meus alunos – “é uma obrigação, e é a fonte da nossa força (como reforços e remédios)”.
Na nossa vida apressada, em particular, todos nós precisamos de orar sempre. No nosso tempo, há muita acção e barulho, e muitas palavras! “Pois quem tem o hábito de orar apenas na hora em que os seus joelhos estão dobrados, ora muito pouco”. Santa Teresa de Ávila – sempre mestre de oração, na teoria e na prática – costumava dizer que as almas que não têm vida de oração, não têm qualquer “interioridade”, são pois “como corpos aleijados” e “ocos por dentro”.
Precisamos de orar diariamente. Oremos hoje, agora, neste momento, que é a única coisa garantida que temos em nossas mãos. Afirmou o Mestre Zen: “O passado é irreal; o futuro também é irreal; apenas o momento é real. A vida é uma série de momentos, vividos ou perdidos”. De facto, a vida é uma série de momentos vividos ou perdidos! Por isso, a nossa oração não é para ontem nem para amanhã, mas para hoje: se hoje ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações (Sl., 95, 8). Em tempos de angústia ou escuridão, dizemos como salmista: «Socorre-me, Senhor, meu Deus!» (Sl., 109: 26). Bento XVI: “Não há situação humana que não se transforme em oração”.
Como aprendemos a orar? O Mestre dos Noviços respondeu a um deles assim: “a primeira lei é rezar; e a segunda é mantê-la”. Eis também a resposta de São Padre Pio de Pietrelcina: “Rezando sempre”. Como rezar então? Quando rezamos, somos recolhidos; recolhidos, não espalhados. O tempo de oração é o tempo de Deus; é tempo de qualidade com Deus. Estamos humildemente presentes diante de Deus: sem humildade, a oração real e o progresso na oração não são possíveis. Na presença real de Deus estamos humildemente presentes n’Ele. E, tal como o publicano (Lc., 18, 14), arrependemo-nos humildemente e pedimos perdão a Deus (Mt., 6, 14-15): «Senhor, sinto muito». E também perdoamos aos outros: «Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas» (Mc., 11, 25).
Toda a oração deve ser devotamente atenta. “Quem está distraído por qualquer tipo de divagação do coração, mesmo de joelhos, nunca reza” (João Cassiano, “Conferências”, 10). Estou – estás – distraído? Se estivermos realmente atentos, alcançamos não apenas o aumento da graça e a resposta às nossas orações de súplica, mas também “o doce gozo de Deus” (Bem-aventurado Afonso Orozco).
A oração envolve total confiança em Deus. Ele é o nosso Pai. Ele ama-nos. Ele ouve-nos – silenciosamente, mas de facto, de modo real – e, portanto, rogamos a Ele por meio do seu Filho, Nosso Senhor, no Espírito Santo. O famoso, embora anónimo, peregrino russo diz-nos que a oração para ser verdadeira “deve ser oferecida com mente e coração puros, com zelo ardente, com muita atenção, com medo e reverência e com a mais profunda humildade”. Cremos em Deus, esperamos Nele, e O amamos e, portanto, temos que rezar: fé, esperança e amor rezam! “Na fé, na esperança e na caridade, o desejo constante do amor faz-nos rezar continuamente” (Santo Agostinho). Aquele que está apaixonado por Deus está constantemente a orar.
Pe. Fausto Gomez, OP