Processo de beatificação de Akash Bashir

PRIMEIRO “SERVO DE DEUS” NA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NO PAQUISTÃO

Processo de beatificação de Akash Bashir

No passado dia 15 de Março a catedral da cidade de Lahore encheu-se com mais de quinhentos fiéis, prontos a assistir à Missa solene de Acção de graças pela conclusão da fase diocesana do processo de beatificação de Akash Bashir, o jovem paquistanês de vinte anos que nessa mesma data, em 2015, deteve um terrorista que se preparava para perpetrar um massacre na igreja de São João, no distrito de Youhanabad.

«Sei que vou morrer, mas não permitirei que entre na igreja», foram as suas últimas palavras ao abraçar o homem-bomba, que de imediato espoletou o cinto explosivo que trazia. Com este seu acto heroico, Akash salvou a vida de inúmeros paroquianos, pois assistiam à Eucaristia nesse dia cerca de um milhar de fiéis. O grupo terrorista Tehreek-e-Taliban Paquistão Jamaatul Ahrar (TTP-JA) reivindicaria posteriormente os ataques desse dia, que no total mataram dezassete pessoas e feriram mais de setenta, como informou na altura o Vatican News.

Nove anos depois, a paróquia de Lahore homenageia a memória do jovem mártir, e o arcebispo da cidade, D. Sebastian Shaw, dando por concluída a investigação diocesana que reconhece o martírio de Akash Bashir, entregou pessoalmente o certificado comprovativo ao Núncio Apostólico no Paquistão, D. Germano Penemote, que esteve presente na celebração eucarística. Foram ainda entregues outros documentos recolhidos e examinados pelo tribunal diocesano durante a fase diocesana do processo canónico, iniciada a 15 de Março de 2022.

D. Sebastian Shaw recordou o sacrifício do jovem católico – o primeiro “Servo de Deus” na história da Igreja no Paquistão – e agradeceu à sua família e à comunidade de fiéis que continua a rezar pelo sucesso da causa.

Em declarações ao repórter da UCA News, o pai de Akash Bashir, Bashir Emmanuel, disse estar muito honrado: “Akash simboliza a força da fé cristã no nosso país”. Já a mãe, Naz Bano, lembrou a razão pela qual o seu filho, “em Novembro de 2014”, se oferecera para fazer a segurança na igreja de São João. Na memória de todos estava o ataque suicida à bomba ocorrido, no ano anterior, na igreja de Todos os Santos, na cidade de Peshawar. “Akash costumava discutir o assunto com os amigos e insistia na absoluta necessidade de proteger a nossa igreja. Dizia-se pronto a sacrificar a sua vida se Deus lhe desse uma oportunidade de proteger os outros”.

Hoje é outro dos seus filhos, Arsalan, quem guarda a igreja de São João, ocupando assim o lugar do irmão. “Nada fizemos para que ele mudasse de ideias”, disse a senhora Bano. “Não podemos impedir que os nossos filhos sirvam a igreja. A escolha é deles”. Descreve o filho Akash como “parte do meu coração”, um “servo do Senhor” que todos gostavam. “Akash é já o nosso santo”.

O sacrifício de Akash Bashir está já a dar generosos frutos. Basta recordar que só na igreja de São João, local do martírio, são agora celebrados anualmente mais de oitocentos baptismos; e são cada vez mais os jovens paquistaneses a assistir à Missa e a participar nas actividades da Paróquia.

Akash frequentava o Centro Técnico e Juvenil D. Bosco, fundado em Lahore, em 1999, pelos religiosos salesianos com o objectivo de acolher estudantes, quantas das vezes rejeitados pelas escolas tradicionais, e proporcionar-lhes formação técnica e profissional. O padre paquistanês Noble Lal, actual Reitor do Instituto Salesiano, presente na Eucaristia comemorativa, disse à UCA News: “Foi uma celebração muito sentida, na qual participaram com intensidade espiritual sacerdotes, religiosos e leigos da nossa comunidade. Akash representa uma poderosa fonte de inspiração para os nossos jovens”.

Os documentos recolhidos pela diocese de Lahore estão agora no Dicastério para as Causas dos Santos, no Vaticano, esperando ansiosamente os católicos paquistaneses que Akash Bashir possa ser declarado mártir até 2024, ou, o mais tardar, no ano jubilar de 2025. A esse respeito, disse o padre Noble Lal: “Da nossa parte, continuaremos a rezar e todas as quartas-feiras celebraremos uma missa em memória de Akash no Centro Salesiano, que é frequentada todas as semanas por mais de 150 jovens. A memória dele está viva e através da sua experiência os jovens são impelidos a cultivar e aprofundar a fé em Jesus”.

Ainda a respeito de mártires, todos os anos, no Paquistão, é evocada a memória do político católico Shahbaz Bhatti, morto por terroristas em Islamabad, a 2 de Março de 2011. Eventos e comemorações – além dos católicos contam com a presença de muçulmanos e crentes de outras religiões – acontecem em simultâneo em Islamabad, Lahore, Karachi, Faisalabad e, também, em Khushpur, aldeia natal de Shahbaz Bhatti. O presidente da Comissão Inter-religiosa para a Paz e Harmonia (ICPH), Allama Muhammad Ahsan Siddiqui, recorda este eminente político da seguinte forma: “Shahbaz Bhatti foi um verdadeiro promotor da tolerância religiosa, da harmonia inter-religiosa e um verdadeiro defensor da dignidade humana. Ele sacrificou a sua vida para preservar a liberdade religiosa para as gerações futuras. O seu compromisso altruísta será lembrado para todo o sempre”.

Joaquim Magalhães de Castro

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