IGREJAS VÃO PERMANECER ENCERRADAS POR PRECAUÇÃO ATÉ 6 DE MARÇO
A decisão, anunciada pela diocese de Macau na terça-feira, de manter as igrejas encerradas e os serviços religiosos suspensos, pelo menos até 6 de Março, vai afectar a preparação das crianças e dos jovens que frequentam a catequese nas nove paróquias do território, reconheceu o padre Daniel Ribeiro em declarações a’O CLARIM.
O sacerdote adiantou que a Diocese ainda não acautelou o impacto que o prolongamento das medidas de resposta e contingência suscitadas pelo novo coronavírus pode vir a ter na preparação de todos quantos vão receber, dentro de pouco mais de três meses, os sacramentos de iniciação. O responsável pela Pastoral em Língua Portuguesa da Diocese de Macau não descurou, no entanto, a possibilidade dos encontros cancelados devido ao surto epidémico poderem vir a ser repostos. «Os catequistas vão avaliar se as crianças e os jovens estão preparados para receberem os sacramentos no período proposto. O Crisma está agendado para o Pentecostes e a Primeira Comunhão para a Festa do Corpo de Cristo, mas como a situação em Macau ainda está muito indefinida, os responsáveis pela catequese ainda não tomaram qualquer decisão sobre a forma como vai decorrer a preparação destas crianças», disse o também vigário-paroquial da igreja da Sé Catedral. Porém, é quase certo que estas crianças e estes adolescentes tenham de «fazer a reposição e ter encontros extra de catequese».
O padre Daniel Ribeiro considera uma «grande perda» que as crianças e os jovens «fiquem um mês sem catequese», tendo sustentado que as circunstâncias excepcionais com que Macau se depara constituem, ainda assim, uma oportunidade. «Os primeiros catequistas das crianças e dos adolescentes são os próprios pais», recordou, acrescentado que «este é um período muito oportuno – e deixo aqui um apelo nesse sentido – para que os pais possam catequisar os filhos. Este é um momento difícil para a sociedade mas que tem os seus pontos positivos. Um deles é que as famílias podem ficar mais juntas».
Numa nota emitida pela Cúria Diocesana esta terça-feira, a diocese de Macau explica que as celebrações relativas ao início da Quaresma – nomeadamente a liturgia de Quarta-feira de Cinzas – também serão suspensas, mas o padre Daniel Ribeiro acredita que a decisão, apesar de privar os católicos de um momento de grande simbolismo, não vai afectar a forma como os fiéis vivem a quadra. «As celebrações [de Quarta-feira de Cinzas]são muito simbólicas porque as pessoas recebem as cinzas que nos recordam aquilo que nós somos, que viemos do pó e para o pó voltaremos», referiu o jovem sacerdote brasileiro. «Não é pelo facto de as pessoas não participarem da vida religiosa através da Igreja que a vida cristã pára», sustentou ainda.
O padre Daniel Ribeiro lembrou que o período da Quaresma é propício a uma vivência reforçada de três dos princípios da fé cristã: a penitência, a oração e a caridade. Segundo ele, não é o facto de as igrejas estarem encerradas que impede os católicos do território de viverem os preceitos da Quaresma de forma piedosa. «Por exemplo, no que toca à penitência, às sextas-feiras as pessoas devem evitar comer carne, devem fazer alguma penitência por mote próprio. Isto é necessário para que o cristão se possa educar, possa aprender a ter auto-controlo. Mesmo que as Igrejas estejam fechadas é possível optar pela penitência. A penitência tem este sentido de nos educar para o auto-controlo», explicou o sacerdote.
Marco Carvalho