Portugueses “às aranhas”

Em vésperas de eleições, numa altura em que os portugueses têm necessidade de ter as ideias em ordem, capazes de distinguir o que está certo do que está errado, estabelecer confiança nos homens e instituições que os governam ou querem governar, os portugueses andam “às aranhas” para perceberem em que país vivem e com as contradições daqueles que se apresentam como os representantes da verdade absoluta.

Já tínhamos percebido que a pessoa do Presidente da República, Cavaco Silva, não se contém em cometer alguns deslizes.

O valor real da sua casa nova no Algarve, na Quinta da Coelha, cujo sigilo fiscal não permitiu esclarecer o valor que paga de IMI, associado ao grupo de “amigos” vizinhos e responsáveis pelo grande escândalo BPN e por alguns “favores financeiros”, não o colocaram bem na “fotografia”, dando a impressão de que se tratava de uma verdadeira “teia de aranha”. No entanto, para alguns cidadãos, tudo isso não passava de uma campanha de intriga política, pelo que se decidiu “esquecer”…

O que os portugueses não esqueceram foram as lamentações do Sr. Presidente, quando afirmou publicamente que as suas remunerações não chegavam para as suas despesas. Ninguém o questionou por ter abdicado do salário de Chefe de Estado e receber antes as suas pensões (o que lhe valeu não ter o corte de 10% que todos os funcionários de Estado tiveram). Afinal, o povo trabalhador, que na sua maioria ganhava menos de 500 euros mensais, até “compreendeu” que o Presidente, com um conjunto de pensões a rondar os 12 mil euros mensais e todas as despesas do cargo pagas, poderia ter algumas dificuldades financeiras!?…

Nas condecorações, com que decorou alguns eminentes portugueses, provou que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”! A começar em Zeinal Bava, um grande responsável pela actual destruição da PT, condecorado em 10 de Junho de 2014 com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito Empresarial e a acabar no título de Membro Honorário da Ordem de Mérito, atribuído recentemente por Cavaco Silva à Obra Diocesana de Promoção Social e a distinção de Grande-Oficial da Ordem de Mérito atribuída ao padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade quando, uns dias depois, a instituição estava a ser investigada pela PJ com a suspeita de que existiam “utentes fantasma” nessa organização, com a finalidade de obter mais financiamento público, as escolhas do Presidente deixam os portugueses “às aranhas”.

Poderia continuar a enumerar as vezes em que os portugueses foram chamados à “compreensão” para com o seu Presidente mas, agora e já em tempo de balanço da sua magistral magistratura, num momento em que as coisas deveriam estar claras, ninguém consegue compreender a sua mais recente declaração sobre a Lei de 1975, que regula a cobertura jornalística das campanhas eleitorais, afirmando que “é a lei mais anacrónica que existe”. E isto, dito em vésperas de eleições e por alguém que esteve vinte anos a ocupar os mais altos cargos da Nação, como Primeiro-Ministro e como Presidente da República. Será que se esqueceu de alterar a Lei ou os seus poderes foram apenas virtuais? De qualquer das formas e como está em final de mandato, os portugueses também vão esquecer este lapso de memória do seu Presidente, embora se vejam “às aranhas” para compreender historicamente o comportamento do homem que mais tempo esteve nos lugares cimeiros da política portuguesa.

“Às aranhas” andam também os portugueses ao tentar perceber porque é que os trabalhadores dos impostos vão receber 57 milhões de euros pelo seu sucesso nas cobranças coercivas em 2014, o equivalente a 5% das receitas. Assim, os funcionários vão receber um prémio de 30% do seu salário, as chefias 35% e os dirigentes 42%, por terem trabalhado!? Para além do que significam as cobranças coercivas no Portugal de hoje, inundado de impostos que as pessoas têm dificuldade em pagar, o que mais intriga os portugueses é o facto de que esta “oferta” do Ministério das Finanças ter sido consequência de uma ameaça de greve do sindicato dos trabalhadores dos impostos (STI) em 2013. Mas então o País também não está mal financeiramente? Qual é a diferença entre esta caso e a actual exigência do sindicato dos pilotos da TAP?

Com estas e tantas outras confusões, de criar “aranhiços” na cabeça dos portugueses, há quem comece a pensar que isto só lá vai com o “homem aranha”.

Luis Barreira

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