PESSOA HUMANA: SER INDIVIDUAL, SOCIAL E RELIGIOSO – 3

PESSOA HUMANA: SER INDIVIDUAL, SOCIAL E RELIGIOSO – 3

A Minha Responsabilidade Religiosa

Depois de tentar responder às perguntas sobre a minha identidade e responsabilidade pessoal, social e ecológica, temos de abordar uma outra questão, a mais radical: Quem é Deus para mim? Sou uma pessoa religiosa (não o somos todos, conscientemente ou inconscientemente?). Sou cristão. O meu Deus é o meu Criador e o Criador de toda a criação e de todas as suas criaturas. Ele é o Deus de Jesus Cristo, seu Filho e nosso Salvador. Ele é o meu – o nosso – Pai. O Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. Por isso, o meu Deus é Uno e Trino: Um Deus e Três Pessoas divinas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Perguntaram a um peregrino de Santiago de Compostela (Espanha) porque razão se obrigou a caminhar mais de setecentos quilómetros. Respondeu: «Estou à procura de Deus». Todos os seres humanos, conscientemente ou inconscientemente, estão à procura de Deus. Faz parte da nossa natureza: procurar o amor, a felicidade – Deus. O Salmista rezou: «O teu rosto, Senhor, eu procuro; não escondas de mim o teu rosto» (Sl., 27, 8); «Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós, Senhor» (Sl., 4, 6).

Torna-se cada vez mais claro que a fé em Deus (a religião em geral) ajuda muito a ser feliz, nomeadamente a carregar a cruz pessoal, as dores e os sofrimentos da nossa vida. Deus é o único Absoluto da minha vida – e, por favor, da vossa!

A base rochosa da verdadeira felicidade é a fé em Deus e uma vida de oração e de amor compassivo. Amor significa amor a Deus, amor ao próximo e à criação de Deus. O amor ao próximo implica o amor a todos: como o amor de Deus não é selectivo, o meu também deve ser universal. Entre todos os próximos e sem excluir ninguém – nem mesmo os meus inimigos –, procuro amar principalmente os necessitados e os pobres. Porquê? Porque cada um deles é, de uma forma especial, “Cristo”, que disse: “Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me um copo de água; estive doente e visitastes-me…” (cf. Mt., 25, 31-46).

O meu Deus é também o Deus da esperança, o doador da esperança. Sou um peregrino com mil esperanças – boas esperanças humanas – mais Uma: a esperança fiel e amorosa no céu, em Deus. A vida é um caminho para Deus, e eu espero que sejamos salvos pela sua misericórdia, com a nossa pequena cooperação graciosa que Deus quer de nós e aprecia. Deus é o objecto da minha esperança, e a união com ele, com a família e os amigos, e com os necessitados, o objectivo desta vida terrena.

No meu caminho de vida, por vezes estou preocupado, por vezes esqueço-me de Deus, por vezes perco o rumo. No entanto, e sempre, Deus está presente para mim – para ti – em Jesus Cristo, que morreu por todos. Por que me apego às pessoas, às coisas, ao meu egoísmo, quando Deus é o mais importante? Nele tudo tem um sentido: o trabalho, a alegria, o sofrimento, a cruz – e a esperança. Aqui na terra, é Deus quem manda e eu estou nas melhores mãos possíveis: As mãos infinitamente providentes e misericordiosas de Deus.

Um mundo sem Deus? O mundo precisa de Deus: “Um mundo sem Deus é um mundo sem esperança”. A esperança num “reino de Deus” sem Deus não pode deixar de ter um “fim perverso”. Sem Deus, o homem não pode ter esperança (cf. Ef., 2, 12). A razão e a fé precisam e ajudam-se mutuamente para crescerem e se satisfazerem plenamente. As estruturas sociais são necessárias para ajudar a liberdade, mas podem marginalizá-la. A liberdade, porém, deve ser conquistada continuamente “pela causa do bem” (cf. Bento XVI, Spe Salvi).

É então essencial interrogarmo-nos: Quem é Deus para mim? Santa Catarina de Sena conhecia bem a resposta. Deus disse-lhe: “É preciso saber duas coisas para ser feliz: Quem és tu e quem sou eu”, e acrescentou: “Eu sou Aquele que é, tu és Aquela que não é”. Deus é o princípio, o caminho e o fim da vida humana: “Fizeste-nos para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti” (Santo Agostinho). De facto, para um crente “só Deus basta” (Santa Teresa de Ávila).

“Todo o agente”, diz-nos Aristóteles, “actua para um fim”. A pessoa humana, agente moral e espiritual, actua para um fim último. São Tomás de Aquino identifica o fim último e a felicidade, e estes dois com Deus. A nossa beatitude é Deus: “Todos os homens são chamados a um único e mesmo fim, isto é, o próprio Deus” (GS, 22).

O ser humano é criatura e filho de Deus Uno e Trino: criado por Deus, ferido pelo pecado, redimido por Cristo, renovado pelo Espírito Santo, chamado ao céu, a ressuscitar dos mortos e a viver com Deus, na companhia dos santos, da família e dos amigos – e de todos!

O fim último da vida humana é uma vida abençoada, a felicidade completa, ou seja, a vida em Deus. A nossa responsabilidade na terra é dar glória a Deus. O cristão dá glória a Deus por Jesus Cristo e no Espírito: Por ele e nele foram criadas todas as coisas (cf. Col., 1, 15.16). Jesus, a Bem-Aventurança de Deus, proclama-nos as Bem-Aventuranças, que são formas de felicidade na terra e o caminho para alcançar a felicidade eterna no além (cf. Mt., 5, 1-12).

Eu creio em Deus, no Deus de Jesus Cristo, que é o rosto de Deus na terra. Sou cristão, isto é, uma pessoa baptizada que procura seriamente – sempre com a graça de Deus – ser fiel ao seu baptismo. Um cristão é uma pessoa que conhece Deus como Pai, confessa Jesus Cristo como Filho de Deus e Homem para os outros, e experimenta o Espírito Santo, que lhe diz que Jesus está vivo, que somos chamados a viver nele e que fora dele só há trevas (Olegario González de Cardedal).

Deus é Amor e a nossa natureza humana impele-nos a amar, o amor que nos redime. Certamente, “não é a ciência [com a tecnologia] que redime o homem: o homem é redimido pelo amor”, pelo amor incondicional de Deus em Cristo Jesus (cf. Bento XVI, Spe Salvi).

Pe. Fausto Gomez, OP

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *