Um compromisso diário
Estava-se no dia seguinte ao Dia de Natal de 2004 quando um dos mais destruidores tsunamis jamais registados atingiu muitas áreas costeiras do Sul e do Sudeste Asiático. As águas crescentes atingiram a cidade de Vailankanni, situada na costa sudeste da Índia, às nove horas e trinta minutos da manhã, quando duas mil pessoas estavam no interior da basílica de Nossa Senhora da Saúde. A vaga gigante varreu tudo à volta da basílica, mas o templo em si, se bem que apenas a cem metros da praia, não foi atingido. «As ondas mortíferas cresceram e chegaram à entrada principal da basílica, local onde se encontra uma estátua de Nossa Senhora de Vailankanni, e recuaram depois de tocarem nos primeiros degraus do portal da entrada exterior», conforme o relato dos responsáveis do local de culto.
De facto, este não foi o primeiro milagre em Vailankanni. Ao longo dos tempos, milhares de pessoas ali solicitaram a intercessão de Maria e, desde 1560, obtiveram favores. A pequena cidade tem apenas dez mil habitantes, mas é visitada anualmente por vinte milhões de peregrinos, que ali se dirigem para rezar perante a Abençoada Virgem Maria. O milagre de 26 de Dezembro de 2004 foi um dos maiores.
Há algumas semanas vimos como Maria é tão eficaz em interceder pelas nossas necessidades – Ela é a Rainha Mãe. Talvez seja por essa razão que muitos cristãos (incluindo muitos que não são católicos) têm outros costumes para honrá-la. A recitação do Angelus-Anjos, por exemplo, é substituída pelo “Regina coeli” – Rainha do Céu – durante a Quaresma.
Não estamos certos quanto às origens deste costume. Pensa-se que apareceu no século XI, derivado do hábito monástico de se recitarem três Ave-Marias durante o toque do sino ao entardecer (as Completas). De facto, o Angelus, recitado às seis horas da manhã, ao meio-dia e às seis horas da tarde, era habitualmente acompanhado pelo tocar de um sino nove vezes (sendo três séries de três badaladas).
A partir das igrejas, conventos e mosteiros, a devoção espalhou-se rapidamente para as casas do povo, onde podia ser recitado à seis horas da tarde, quando as famílias se reuniam ao fim do dia. Nas Filipinas esta oração também é transmitida através dos sistemas de altifalantes de alguns centros comerciais. Mesmo em algumas igrejas anglicanas e luteranas também se reza o Angelus. Em Roma, o Papa reza esta oração juntamente com os fiéis todos os Domingos ao meio-dia.
O Papa Paulo VI, na sua Carta Apostólica “Marialis cultus” – O Culto de Maria (1974), encoraja a recitação do Angelus por ser «um convite a uma pausa em oração».
Podemos escolher uma de três ocasiões; ao nascer do dia, ao meio-dia, ou ao fim do dia (ou, porque não, à meia-noite, para aqueles que trabalham nos turnos nocturnos.).
Assim como o Rosário, o Angelus não lembra apenas Maria. De facto, ele deseja lembrar-nos que Jesus tornou-se Homem, partilhando as nossas alegrias e tristezas, os nossos desafios e vitórias. Ele sabe o que significa rir… e chorar, trabalhar, descansar, ser aceite ou ser rejeitado.
O Deus invisível tornou-se visível para nos lembrar que Ele não se encontra muito longe, mas que na realidade está entre nós. Ele lembra-nos que nunca estamos sós, porque ele é o verdadeiro Emanuel – o todo poderoso “Deus connosco”.
Pe. José Mario Mandía
(Tradução: António R. Martins)