Papa recebeu Putin no Vaticano

Fratellanza

O Papa recebeu na passada quarta-feira o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em audiência privada. Foi o segundo encontro entre Francisco e Putin; o primeiro aconteceu a 25 de Novembro de 2013.

Num momento em que Putin enfrenta críticas de todos os quadrantes da política internacional, devido ao conflito na Ucrânia, a visita ao Vaticano aconteceu em contra-ciclo. O Papa não virou as costas ao “czar” da Rússia, permitindo ao Presidente russo forjar uma (improvável) parceria geopolítica com vista a enfrentar novas frentes diplomáticas.

Durante cinquenta minutos, os dois líderes abordaram o conflito na Ucrânia e a situação no Médio Oriente. «Sobre a Ucrânia o Santo Padre disse ser urgente dar início a um grande e honesto esforço para alcançar a paz», revelou o porta-voz do Vaticano.

Segundo o padre Frederico Lombardi, ambos concordaram com a necessidade de reconstruir um clima de diálogo na Ucrânia e com a importância de implementar os acordos de Minsk, assinados em 2014 sob a égide da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Quanto aos conflitos no Médio Oriente, particularmente na Síria e no Iraque, o padre Lombardi referiu que foi reforçada a ideia já antes discutida por Francisco e Putin da urgência em alcançar a Paz com o real envolvimento da comunidade internacional, «garantindo, entretanto, as condições necessárias para a vida de todos os membros da sociedade, incluindo as minorias religiosas».

De acordo com algumas testemunhas, a atmosfera vivida foi «muito séria mas cordial», com os dois chefes de Estado a permanecerem em silêncio na presença dos fotógrafos e dos jornalistas.

Durante o período reservado à troca de presentes, o Presidente russo ofereceu ao Papa uma imagem da catedral moscovita de Cristo Salvador, destruída durante o período soviético e reconstruída em 2000. Por sua vez, Francisco ofereceu a Putin um medalhão com o Anjo da Paz, que segundo o Papa «enfrenta todas as guerras e fala da solidariedade entre os povos». O Sumo Pontífice ofereceu ainda uma cópia da sua Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, afirmando estar «repleta de reflexões religiosas, humanas, geopolíticas e sociais». Tanto o medalhão como a Exortação Apostólica são normalmente oferecidas pelo Papa aos líderes mundiais que visitam o Vaticano.

Desde o início do pontificado de Francisco que Moscovo e a Santa Sé mantêm uma cinzenta relação de amizade, devido à diferente postura assumida pelos dois Estados em relação aos pontos mais quentes da política internacional.

Curiosamente, em 2013, enquanto os Estados Unidos e outras nações ocidentais preparavam uma ofensiva militar contra o regime de Bashar al-Assad, Putin terá dito aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas para ouvirem o Papa, na tentativa de travar a invasão da Síria.

Desta vez, Putin chegou ao encontro 75 minutos atrasado, batendo o registo de 2013 quando fez o Papa esperar 50 minutos.

 

Amizade fria

A 10 de Fevereiro deste ano o Vaticano emitiu um comunicado oficial sobre a situação «extremamente delicada» na Ucrânia, manifestando o apoio do Papa e da diplomacia da Santa Sé em favor de um cessar-fogo no País.

«Perante a intensificação de um conflito que está a provocar tantas vítimas inocentes, o Santo Padre Francisco reiterou em diversas ocasiões o seu chamamento em favor da paz», referia a nota, apresentada em conferência de Imprensa.

A tomada de posição quis esclarecer algumas declarações do Papa sobre o conflito, face às «diversas interpretações» que as mesmas mereceram, com manifestações públicas de descontentamento do Patriarcado Ortodoxo de Moscovo.

«O Santo Padre dirigiu-se sempre a todas as partes envolvidas, confiando no esforço sincero de cada uma delas para aplicar os acordos a que se chegou por consenso mútuo e recordando o princípio da legalidade internacional a que a Santa Sé se referiu muitas vezes desde o início da crise», podia ler-se.

A Santa Sé sublinhava seguir «com atenção às situações de crise» em várias partes do mundo, entre as quais o leste da Ucrânia, pelo que repetia os apelos de Francisco para que se retomassem as negociações «como único caminho possível para sair da lógica de um crescendo de acusações e reacções».

«Como repetia muitas vezes São João Paulo II, a humanidade deve encontrar a coragem de substituir o direito da força pela força do direito», acrescentava a missiva oficial.

O conflito armado no leste da Ucrânia já fez mais de seis mil mortos, desde que teve início em Abril de 2014, segundo dados da ONU.

J.M.E. com Agências

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