Isidoro de Sevilha: o último dos grandes Padres latinos
Hoje falamos de Isidoro de Sevilha, “o último erudito do mundo antigo” (Montalembert, Charles F. Les Moines d’Occident depuis Saint Benoît jusqu’à Saint Bernard [Os monges do Ocidente de São Bento a São Bernardo]. Paris: J. Lecoffre, 1860). O Concílio de Toledo, em 653, descreveu-o como “um ilustre mestre do nosso tempo e a glória da Igreja Católica”.
Nascido em Cartagena, Espanha, por volta de 560 d.C., no seio de uma família católica devota e culta, Isidoro foi educado pelo irmão mais velho, Leandro, bispo de Sevilha. Isidoro dominava o Latim, para além de aprender Grego e Hebraico. O irmão era um mentor exigente. A sua casa tinha uma biblioteca com uma abundante colecção de obras clássicas, pagãs e cristãs. Isidoro acabou por suceder ao irmão por volta de 599. O seu irmão mais novo, Fulgêncio, tornou-se bispo de Astigi. A sua irmã, Florentina, foi freira. Os quatro irmãos são venerados como santos.
Naqueles tempos, visigodos e arianos tinham invadido a Península Ibérica. Esta mistura estava a dar origem a uma nova civilização. Os visigodos dominavam totalmente a Espanha. Os seus costumes bárbaros e o seu desprezo pela instrução ameaçavam o País. Santo Isidoro utilizou os recursos religiosos e educativos para criar uma nação homogénea que assimilasse os invasores estrangeiros. Conseguiu fundir os diferentes elementos, tendo erradicado o Arianismo, que prevalecia entre os visigodos.
Após a sua morte, em 4 de Abril de 636, a sua fama espalhou-se graças à sua obra Etymologiae, uma espécie de enciclopédia que reunia muitos livros da Antiguidade, salvando-os assim do esquecimento. Diz-se também que esta obra ajudou a uniformizar a pontuação, nomeadamente o ponto final, a vírgula e os dois pontos. Foi muito utilizada nas instituições de ensino durante a Idade Média.
Apesar da sua eficaz liderança, Santo Isidoro ficou preso “entre desejo de solidão, para se dedicar unicamente à meditação da Palavra de Deus, e exigências da caridade para com os irmãos” (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 18 de Junho de 2008).
O Papa Bento XVI dá o seguinte exemplo dos escritos de Isidoro: “O responsável de uma Igreja (vir ecclesiasticus) deve por um lado deixar-se crucificar no mundo com a mortificação da carne e, por outro, aceitar a decisão da ordem eclesiástica, quando ela provém da vontade de Deus, de se dedicar ao governo com humildade, mesmo que não o queira fazer (Sententiarum liber III, 33, 1: PL 83, col. 705 B)”.
E prossegue: “Os homens de Deus (sancti viri) não desejam de modo algum dedicar-se às realidades seculares e gemem quando, por um misterioso desígnio de Deus, são carregados com certas responsabilidades… Eles fazem de tudo para as evitar, mas aceitam aquilo que gostariam de eludir e levam a cabo o que quereriam evitar. Com efeito, entram no segredo do coração e, ali dentro, procuram compreender o que exige a misteriosa vontade de Deus. E quando se dão conta que se devem submeter aos desígnios de Deus, humilham o pescoço do coração sob o jugo da decisão divina (Sententiarum liber III, 33, 3: PL 83, coll. 705-706)”.
Comparando a vida activa e a vida contemplativa, escreve: “O caminho do meio, composto por uma e outra forma de vida, é normalmente mais útil para resolver aquelas tensões que muitas vezes são aumentadas pela escolha de um só género de vida e por vezes são melhor temperadas por uma alternância das duas formas” (Differentiarum, Livro II, 34, 134).
Cita o facto de o próprio Senhor nos ter dado este exemplo: vida activa nos sinais e milagres, e viva contemplativa nas noites passadas na montanha a rezar.
E conclui: “Por isso o servo de Deus, imitando Cristo, dedique-se à contemplação sem se negar à vida activa. Não seria justo comportar-se de outra forma. Com efeito, assim como se deve amar a Deus com a contemplação, também se deve amar o próximo com a acção. Por conseguinte, é impossível viver sem a presença simultânea de uma e de outra forma de vida, nem é possível amar, se não se vive a experiência de uma e de outra” (Differentiarum, Livro II, 34, 135).
Pe. José Mario Mandía