PAIS DA IGREJA (39)

PAIS DA IGREJA (39)

Cromácio de Aquileia: amante da Escritura, reconciliador e pastor exemplar

Depois dos dois Padres Siríacos, voltamos agora ao Norte da Península Itálica. Já falámos anteriormente de três bispos que daí provêm: Eusébio de Vercelli (ver PADRES DA IGREJA, 32), Ambrósio de Milão (PADRES DA IGREJA, 33) e Máximo de Turim (PADRES DA IGREJA, 34). Vamos nesta edição concentrar a nossa atenção em São Cromácio, bispo de Aquileia.

Cromácio nasceu por volta de 345 d.C., em Aquileia (Itália). Perdeu o pai quando ainda era criança e, por isso, foi criado pela mãe, pelo irmão mais velho, Eusébio, e pelas irmãs solteiras. Eusébio viria a tornar-se bispo e é também santo. São Jerónimo confirma este facto: “O Beato Cromácio e Santo Eusébio eram irmãos de sangue, não menos do que pela identidade dos seus ideais”.

Cromácio recebeu a ordenação sacerdotal por volta de 387 d.C. Foi o próprio Santo Ambrósio, bispo de Milão, que o ordenou bispo em 388 d.C. Este “dedicou-se com coragem e energia a uma tarefa imane pela vastidão do território confiado aos seus cuidados pastorais: de facto, a jurisdição eclesiástica de Aquileia estendia-se dos territórios actuais da Suíça, Baviera, Áustria e Eslovénia, chegando até à Hungria” (Bento XVI, Audiência Geral de 5 de Dezembro de 2007).

Aquileia foi perseguido por três imperadores, desde meados do Século III até aos primeiros anos do Século IV. Para além disso, enfrentou também o perigo dos bárbaros; conseguiu negociar com Alarico e prestou ajuda aos que sofriam. Além disso, teve de enfrentar a ameaça do Arianismo. Santo Atanásio (PADRES DA IGREJA, 24) havia-se refugiado quando os arianos o mandaram para o exílio, tendo conseguido efectivamente afastar o seu rebanho desta ameaça.

Cromácio era bom amigo de Santo Ambrósio, de São Jerónimo e defendeu São João Crisóstomo. Encorajou Ambrósio a escrever obras exegéticas, enquanto ele próprio escrevia comentários sobre as Escrituras, dos quais os mais abundantes são os seus tratados sobre o Evangelho de Mateus.

Mais: apoiou financeiramente o trabalho de São Jerónimo na tradução da Bíblia e a tradução de Rufino da História Eclesiástica de Eusébio (PAIS DA IGREJA, 23). Ao envolver Rufino neste trabalho, Cromácio conseguiu dissuadi-lo de discutir com Jerónimo sobre a questão do Origenismo. Foi, de facto, um pacificador produtivo. Desta forma, o Bispo de Aquileia desempenhou um papel importante na tradução dos primeiros textos cristãos para Latim, a fim que pudessem ser mais amplamente lidos.

“Pode-se deduzir quanto Cromácio era conhecido e estimado na Igreja do seu tempo, por um episódio da vida de São João Crisóstomo. Quando o Bispo de Constantinopla foi exilado da sua sede, escreveu três cartas àqueles que considerava os mais importantes Bispos do Ocidente, para obter o apoio dos imperadores: escreveu uma carta ao Bispo de Roma, a segunda ao Bispo de Milão, a terceira ao Bispo de Aquileia, precisamente Cromácio (Ep. CLV: PG LII, 702). Também para ele, aqueles eram tempos difíceis devido à situação política precária. Muito provavelmente Cromácio faleceu no exílio, em Grado, enquanto procurava sobreviver às incursões dos bárbaros, no mesmo ano 407 no qual faleceu também Crisóstomo” (Audiência Geral de 5 de Dezembro de 2007).

Como pastor, o “primeiro e principal compromisso foi pôr-se à escuta da Palavra, para ser capaz de se tornar depois seu anunciador: no seu ensinamento ele parte sempre da Palavra de Deus, e a ela volta sempre” (idem).

Os temas que lhe eram mais caros e sobre os quais se pronunciou diziam respeito aos mistérios mais importantes da fé: a Santíssima Trindade; o mistério do Filho de Deus feito homem; a presença do Espírito Santo na vida da Igreja; e a Santíssima Virgem Maria, que ele considera modelo para a Igreja.

O zelo de São Cromácio levou-o a “falar ao seu povo com uma linguagem vigorosa, vivaz e incisiva. Mesmo sem ignorar o perfeito cursus latino, prefere recorrer à linguagem popular, rica de imagens facilmente compreensíveis. Assim, por exemplo, inspirando-se no mar, ele confronta, por um lado, a pesca natural de peixes que, lançados para a margem, morrem; e por outro, a pregação evangélica, graças à qual os homens salvos das águas lamacentas da morte, e introduzidos na vida verdadeira (cf. Tract. XVI, 3: Escritores da área de Santo Ambrósio 3/2, pág. 106). Sempre na óptica do bom pastor, numa época agitada como a sua, atormentada pelas incursões dos bárbaros, ele sabe colocar-se ao lado dos fiéis para os confortar e para abrir o seu ânimo à confiança em Deus, que nunca abandona os seus filhos” (idem).

Terminemos com esta exortação ao seu rebanho, num dos seus sermões: “O Senhor lutará para vos defender, e vós ficareis calados. É ele que luta, é ele que ganha a vitória… E para que ele se digne a fazê-lo, devemos rezar o mais possível. Ele próprio o disse, de facto, pela boca do profeta: Invoca-me no dia da tribulação; eu te libertarei e tu me darás glória” (Sermão XVI, 4).

Pe. José Mario Mandía

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