É Verão: Portugal em Festa!

SOLENIDADES, PROCISSÕES, ROMARIAS, DEVOÇÕES

É Verão: Portugal em Festa!

Portugal no Verão ganha animação. Revela-se todo um país em festa, religiosa ou profana, um país de festivais de música, de juventude e de carácter mais temático, de sabor regional ou local, quando não nacional.

Mas importa aqui falar um pouco das festas religiosas de Verão, que se tornam elas mais ou menos profanas, com grande concurso de gentes, mais do que fiéis ou devotos, que são menos. Mas a festa não perde lustro e pompa, pelo contrário, é uma marca de Verão pelo ribombar de foguetes, som luz e cor em vibração, animação e confraternização, convertendo a festa em cartaz turístico e promoção territorial.

As festas de Verão em Portugal são uma marca da cultura, tradição e comunidade do país que somos. Além da celebração das férias e da estação do calor, de forma mais ou menos vibrante, entre Junho e Setembro, o País transforma-se numa romaria, onde fé, devoção, sagrado e profano se mesclam como marca da herança cultural portuguesa. Dos lugarejos mais remotos às vilas e cidades de maior população, em quase todas as comunidades não faltam motivos para celebrações.

Antigamente, as motivações eram religiosas, do religioso partia-se para a festa popular, de dia em cerimonial litúrgico e devocional, à noite no arraial, no coreto ou no terreiro da festa popular. Depois chegam os turistas, mas desde sempre, principalmente no Norte do País, chegam os imigrantes, principalmente de França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Andorra. Saudosos da casa, da comida, da família e das suas comunidades de origem, sempre deram sentido à festa religiosa, mas também à animação popular que desta brota. A hospitalidade e a alegria que se vive em Portugal em dias de festa é contagiante, atraindo massas humanas impressionantes, como em Viana do Castelo na Senhora da Agonia ou na Senhora dos Remédios em Lamego, nas Feiras de São Mateus em Viseu, entre outros casos emblemáticos.

Além do triunvirato dos Santos Populares – Santo António de Lisboa, São João Baptista e São Pedro – e das festas em torno das vindimas, as festas religiosas são a expressão cultural por excelência do Verão em Portugal. Noutros tempos, materializavam na festa popular a fé profunda do povo português, hoje já nem tanto. Por outro lado, a partir desse sentido agregador da fé, as festas de Verão foram sempre uma oportunidade para reunir as comunidades e celebrar a respectiva identidade local. Os actos de fé e devoção não são já o leit motiv da festa, ou a sua intensidade não e tão grande, mas são as mais das vezes o pretexto para a mesma. A peregrinação interior do indivíduo que vai a uma romaria e respectiva celebração, numa sensação de descoberta ou em acto de repetição sacrificial e de disciplina, são marcas que se perdem, como a fé do povo, ou pelo menos se transformam e mitigam. A oração e o recolhimento não são tão expressivos, o profano vai engolindo a sociedade, mesmo nestes momentos de fé e espiritualidade.

As festas são também motivo de viagem, de retorno à terra de origem, não apenas dos emigrantes, mas também dos descendentes dos êxodos rurais do Século XX português.

A viagem e a cultura são também componentes importantes da festa religiosa, além da gastronomia, do comércio, das feiras e da hotelaria.

Na festa de Verão temos os santuários e as suas romarias e peregrinações, marcos devocionais da religiosidade popular que anima as festas estivais. Ermidas, capelas, igrejas (paroquiais, conventuais, monásticas até) e cruzeiros, são muitos os espaços de atracção de fiéis e à sombra dos quais tantas festas se criaram e agigantaram no fio dos tempos até hoje. O vasto património religioso português continua a ser o cenário de todas estas vibrantes celebrações.

Força religiosa e social, entre o sagrado e o profano, nas festas e romarias reina também o convívio e a diversão, o comércio, ou, simplesmente, a tradição de ver e rever amigos, familiares ou conhecidos. Noutros tempos, arranjava-se um namoro, um casamento futuro que nasceria no adro das igrejas, numa romaria. Reforçam-se laços de amizade e de família, de comunidade, além da dimensão espiritual. No local da festividade ou no caminho, quando há peregrinação, cumpre-se o sentido global da festa religiosa portuguesa, um traço típico da cultura popular e tradicional do nosso povo, das suas memórias e da sua identidade. Promessas, procissões, etapas sacramentais do fiel, liturgia, apoteose da fé e dos sentidos, retorno à identidade de lugar, a festa religiosa de Verão é das mais belas páginas da cultura portuguesa, em terra e no mar, saudade na diáspora e desejo de regresso ao local de origem.

Festas em honra de Nossa Senhora, dos Santos, muitas devoções e invocações se cumprem em festas, romarias e peregrinações em Portugal. Já falámos das Festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, das peregrinações minhotas, na região de Braga (da Nossa Senhora do Sameiro, ao Santuário de São Bento da Porta Aberta e ao de Nossa Senhora da Abadia), mais o Santuário de Nossa Senhora da Penha em Guimarães ou a supracitada Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, estas todas entre as mais concorridas no Norte de Portugal. Temos ainda as Festas da Rainha Santa em Coimbra, as romarias e círios a Nossa Senhora da Nazaré e a Nossa Senhora do Cabo (Cabo Espichel, Sesimbra). Mais para sul, surgem as romarias ao Santuário de Nossa Senhora de Aires, perto de Viana do Alentejo e ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa, ambas no Alentejo. Já no Algarve são de referir em particular as Festas da Mãe Soberana, em Loulé, talvez a maior festa religiosa a sul do Santuário de Fátima.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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