São Gregório de Nissa: teólogo e místico
Estudámos dois dos três Padres Capadócios: São Basílio Magno e São Gregório de Nazianzo. Hoje, voltamos a nossa atenção para o último: São Gregório de Nissa, que era irmão de São Basílio.
Gregório não teve a capacidade de direcção e administração de Basílio, nem o talento poético do outro Gregório, mas superou-os na teologia especulativa e na mística. “Os seus escritos revelam uma profundidade e amplitude de pensamento que ultrapassam as de Basílio e Gregório de Nazianzo. O leitor fica impressionado com a sua abertura às correntes contemporâneas da vida intelectual, com a sua grande capacidade de adaptação e com a agudeza do seu pensamento” (Quasten, III, pág. 256).
Gregório de Nissa nasceu em 335 d.C., cinco anos depois do seu irmão Basílio. “A sua formação cristã foi cuidada particularmente pelo irmão Basílio por ele definido ‘pai e mestre’ (Ep. 13, 4; SC 363, 198) e pela irmã Macrina” (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 29 de Agosto de 2007). Torna-se professor de retórica e casa-se. Por influência dos amigos, especialmente de Gregório de Nazianzo, dedicou-se à vida ascética num mosteiro fundado pelo irmão, Basílio.
Em 371, Gregório foi nomeado Bispo de Nissa, uma pequena cidade sob o distrito metropolitano de Cesareia. Basílio disse que ele não era suficientemente firme no trato com as pessoas e não estava apto para a política da Igreja e para os assuntos financeiros. “Acusado de má administração económica pelos adversários heréticos, teve que abandonar por um período breve a sua sede episcopal, mas regressou depois em triunfo (cf. Ep. 6: SC 363, 164-170), e continuou a empenhar-se na luta para defender a verdadeira fé” (Audiência Geral de 29 de Agosto de 2007).
Gregório participou no Concílio de Constantinopla, em 381, onde o Arianismo foi finalmente derrotado. Em 394, participou num Sínodo em Constantinopla. Depois de 395, não se ouviu mais falar dele.
Gregório ajudou a defender a doutrina da Santíssima Trindade dos “hereges, que negavam a divindade do Filho e do Espírito Santo (como Eunómio e os macedónios), ou comprometiam a humanidade perfeita de Cristo (como Apolinário)” (Audiência Geral de 29 de Agosto de 2007).
Sob a inspiração e influência de Orígenes (ver PAIS DA IGREJA n.os 15 e 16), Gregório de Nissa comentou “a Sagrada Escritura, detendo-se sobre a criação do homem. Este era para ele um tema central: a criação. Via na criatura o reflexo do Criador e encontrava aqui o caminho para Deus” (Audiência Geral de 29 de Agosto de 2007).
Escreveu: “Não foi o céu a ser feito à imagem de Deus, nem a lua, nem o sol, nem a beleza das estrelas, nem qualquer uma das outras coisas que existem na criação. Só tu (a alma humana) foste tornada imagem da natureza que domina qualquer intelecto, semelhança da beleza incorruptível, sinal da verdadeira divindade, receptáculo da vida feliz, imagem da verdadeira luz, na qual, olhando para ela, te tornas aquilo que Ele é, porque por meio do raio reflectido proveniente da tua pureza imitas Aquele que brilha em ti. Nenhuma outra coisa que existe é tão grande que se possa comparar com a tua grandeza” (Homilia in Canticum, 2).
O pecado, porém, mancha a imagem de Deus no homem. É por isso que o homem precisa de ser purificado: “Se, com um nível de vida diligente e atento, lavares as impurezas que se depositaram no teu coração, resplandecerá em ti a beleza divina… Contemplando a ti mesmo, verás em ti Aquele que é o desejo do teu coração, e serás feliz” (De beatitudinibus, 6).
São Gregório sublinha também o papel activo da liberdade do homem na purificação. Escreve que “o nosso nascimento espiritual é o resultado de uma escolha livre, e nós somos, de certo modo, os nossos próprios pais, criando-nos como nós próprios desejamos ser, e formando-nos, através da nossa vontade, de acordo com o modelo que escolhemos” (Vita Moysis 2, 3).
Assegura-nos também que não nos enganaremos se nos esforçarmos por conhecer e seguir Cristo, que é o nosso Modelo e Mestre de santidade. O cristão deve “examinar sempre no seu íntimo os seus pensamentos, as suas palavras e os seus actos, para ver se estão orientados para Cristo ou se se afastam d’Ele” (De perfectione Christiana).
O desejo de ser como Cristo significa encontrá-Lo nos pobres e necessitados: “Sede generosos com estes irmãos, vítimas da desgraça. Dai ao faminto aquilo de que privais o vosso estômago” (De Pauperibus Amandis).
Pe. José Mario Mandía