Macau lembra santa com indulgência
Como nos recorda a Indulgência Plenária concedida por ocasião do Aniversário do Nascimento de Santa Madalena de Canossa, emitida pela Cúria Diocesana da Diocese de Macau (CN/06/008/2024), estamos prestes a celebrar o 250.º aniversário do nascimento desta mulher que aos altares foi elevada como santa.
Santa Madalena de Canossa foi a fundadora das Congregações das Filhas (Irmãs Canossianas) e dos Filhos da Caridade, tendo a Congregação feminina uma imemorável e importantíssima relação com a diocese de Macau. A Penitenciária Apostólica concedeu, para o período de 1 de Março a 2 de Outubro de 2024, uma “indulgência plenária a todos os fiéis que visitem devotamente qualquer igreja designada pela referida Congregação, a título de peregrinação ou, pelo menos, nela permaneçam e meditem durante um período de tempo adequado”, como se pode ler na referida indulgência. Em Macau, as igrejas para efeitos desta peregrinação são as igrejas de Santo António, São Francisco Xavier (em Mong Há) e de São Francisco Xavier (em Coloane).
A figura de santidade que é digna desta indulgência plenária, nasceu para o século como Magdalena Gabriela, da família dos marqueses de Canossa. Veio ao mundo a 1 de Março de 1774, em Verona, cidade onde viria a falecer a 10 de Abril de 1835. Madalena de Canossa é descendente de Matilda de Canossa (1046-1115), que recebera então o futuro imperador germânico Henrique IV e o Papa Gregório VII no seu castelo, enquanto mediadora para o levantamento da excomunhão na Questão das Investiduras.
Madalena ficou órfã de pai ainda criança, vindo a ter um padrasto que lhe terá infligido maus tratos, apesar da sua debilidade e doença. O começo de vida não foi dos melhores. Todavia, a educação católica despertou-lhe, aos dezassete anos de idade, intentos de ingresso no noviciado das monjas carmelitas. A clausura monástica não se revelou, contudo, ser a sua vocação, pelo que regressou a casa, onde se torna exímia administradora do património familiar. Chegou a receber Napoleão Bonaparte no seu palácio, em Verona. O Imperador, impressionado pela pureza da vida de Madalena, pelas suas virtudes e modéstia, descreveu-a como um anjo. Mais tarde, Napoleão doará um convento para albergar o seu Instituto.
Mas à sua volta a vida não era tão rosada como no palácio da família. O período revolucionário daquele tempo fez crescer a miséria. Madalena deixou Verona, rumando a Veneza, não para fugir da pobreza, mas para ir levar socorro aos mais desfavorecidos nos hospitais. Regressou depois a Verona, ficando muito marcada pela miséria que encontrou na sua cidade.
Abalada pelo contexto de miséria que enfrentou, decidiu dedicar todo o seu tempo e parte dos bens na ajuda a numerosas famílias necessitadas, a auxiliar crianças abandonadas e jovens delinquentes, a acolher os pobres que vinham todos os dias ao seu palácio, além de visitar os que viviam em ambientes insalubres, na miséria, sem condições. Claro que esta sua atitude e coragem não desencadearam aprovações na família, pelo contrário, rapidamente foi considerada louca, além de escandalosa. Ter nascido marquesa, nobre enfim, seria impeditivo para ter a honra de servir a Cristo através dos pobres, perguntava Madalena. Não tardaria a ir viver para os subúrbios de Verona, trocando o conforto da sua mansão pelos tugúrios do pobre. Ali, nos arredores de Verona, onde a pobreza dominava, Madalena fundaria a Congregação das Filhas da Caridade (dita Canossiana).
As actividades realizadas pela Congregação abrangiam cinco domínios: Escolaridade gratuita para crianças pobres, Catequese, visita os doentes nos hospitais, apoio ao Sacerdócio e exercícios espirituais para senhoras da nobreza, a fim de incentivá-las à prática da caridade.
A 23 de Dezembro de 1828 obteve a aprovação pontifícia do Instituto das Filhas da Caridade, presentes em Veneza, Milão, Bérgamo e Trento.
Incansável, preparou outras fundações a partir do seu Instituto. Faleceu a 10 de Abril de 1835. Depois dela, o Instituto continuou a crescer e a expandir. Sobre Madalena, disse o Papa João Paulo II: «Em Madalena de Canossa, a lei evangélica da morte que dá vida encontra assim uma realização nova e luminosa».
BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO
Madalena de Canossa foi beatificada a 7 de Dezembro de 1941 pelo Papa Pio XII, e canonizada a 2 de Outubro de 1988 pelo Papa João Paulo II.
Na homilia de canonização, o Papa João Paulo II declarou: «Quando se deu conta das horríveis feridas que a miséria moral e material espalhava entre o povo da sua cidade, percebeu que não poderia amar o próximo “na grande senhora”, isto é, continuar a gozar dos privilégios da sua classe social e simplesmente partilhar as suas coisas, sem se entregar à visão do Crucificado. Assim, “Deus e Jesus crucificados” tornaram-se a regra da sua vida».
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa