PAIS DA IGREJA (18)

PAIS DA IGREJA (18)

De antipapa a mártir

Diz-se que em 212 d.C., Orígenes visitou a comunidade cristã em Roma. Numa das igrejas de lá, ficou impressionado com um sermão “Sobre o Louvor de Nosso Senhor e Salvador”, proferido por um sacerdote romano chamado Hipólito.

Hipólito havia declarado numa das suas obras que era discípulo de Santo Irineu. Santo Irineu foi discípulo de São Policarpo. E São Policarpo, por sua vez, foi discípulo de São João Evangelista.

Tal como o seu professor Irineu, Hipólito também escreveu uma obra contra as heresias intitulada “Philosophumena” ou “Refutação de Todas as Heresias”, onde argumenta particularmente contra o Gnosticismo. Também escreveu “Tradições Apostólicas”, em que descreve os ritos de ordenação, a recepção dos catecúmenos na Igreja e a celebração da Eucaristia na Igreja primitiva.

Embora vivesse em Roma, provavelmente Hipólito não fosse um romano nativo. Estava muito familiarizado com a filosofia grega e os cultos de mistério. “A sua atitude teológica e a relação da sua doutrina do Logos com a dos teólogos gregos provam ter formação helenística e ligação a Alexandria. Ele é grego, tanto na expressão quanto no pensamento, e é, de facto, o último autor cristão de Roma a empregar essa língua. A sua produção literária é comparável em volume à do seu contemporâneo Orígenes, mas não em profundidade e independência de pensamento. Está mais preocupado com questões práticas do que com problemas académicos” (Quasten, II, págs. 163 e 164).

O rigor levou Hipólito a acusar o Papa São Zeferino (Papa entre 199 e 217) de ser muito leniente com os hereges que promoviam o Modalismo (ensina que existe apenas uma Pessoa em Deus que coloca três “máscaras” diferentes: como Pai, como Filho ou como Espírito Santo. Por outras palavras, quando dizemos “Pai”, “Filho” ou “Espírito Santo”, estamos na verdade a referirmo-nos à mesma Pessoa que tem três nomes diferentes).

A sua oposição ao Modalismo levou-o a empregar o conceito de Logos para distinguir o Pai do Filho. Esta posição, porém, levou-o ao Subordinacionismo, uma doutrina que considera o Filho e o Espírito Santo como inferiores ao Pai em natureza.

O rigor também levou Hipólito a condenar o Papa Calisto (Papa entre 218 e 222 ou 223), quando este permitiu a absolvição de pecados mais graves, como o adultério. Hipólito acreditava que a Igreja deveria ser composta exclusivamente por justos. Um grupo de fiéis que o seguiu elegeu-o Papa. Assim, Hipólito tornou-se o primeiro antipapa da história, entre 217 ou 218 e 235.

Hipólito manteve as suas posições durante os pontificados dos santos Urbano I (222–230) e Ponciano (230–235). Durante a perseguição aos cristãos pelo imperador romano Maximino, foi enviado ao exílio para as minas da Sardenha em 235. O pontífice reinante, Papa Ponciano, também foi enviado ao exílio e foi na Sardenha onde Hipólito se reconciliou com o Papa. Hipólito exortou então os seus apoiantes a voltarem para a Igreja e renunciou. O Papa Ponciano também renunciou, dando lugar à eleição de um novo Papa. Santo Antero (235-236) foi eleito Romano Pontífice, encerrando assim efectivamente o cisma.

Pôncio e Hipólito foram ambos martirizados em 235. O Papa São Fabiano (236-250) recebeu os seus corpos em Roma, onde foram solenemente enterrados a 13 de Agosto de 236 ou 237. Os restos mortais do Papa São Ponciano foram sepultados na cripta papal de São Calisto, enquanto os de Santo Hipólito foram sepultados num cemitério ao longo da via Tiburtina. O cemitério acabou por adoptar o seu nome. A Igreja celebra a Festa dos Santos Pôncio e Hipólito no dia 13 de Agosto.

A história de Santo Hipólito lembra-nos que devemos ter cuidado com os perigos do orgulho humano, mas também nos mostra como a humildade e a graça de Deus podem vencer no final.

Pe. José Mario Mandía

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