Prudência e diálogo para bem decidir
O Papa Francisco nomeou o padre Stephen Chow, SJ, para bispo de Hong Kong, anunciou na passada segunda-feira a Sala de Imprensa da Santa Sé. Aos jornalistas do território vizinho, disse que irá actuar com prudência, procurando no campo das relações político-diplomáticas melhor conhecer a cultura e os anseios dos seus futuros interlocutores. A ordenação episcopal está agendada para dia 4 de Dezembro.
O padre Stephen Chow, que ocupava actualmente o cargo de provincial da Companhia de Jesus para a China, sucede ao bispo-emérito D. John Tong na liderança da diocese de Hong Kong.
O cardeal D. John Tong foi bispo da ex-colónia britânica entre 2009 e 2017, tendo deixado o cargo para o então bispo coadjutor Michael Yeung. Este viria a falecer em 2019, o que levou o Papa Francisco a nomear D. John Tong para administrador apostólico da diocese de Hong Kong, sessando funções no dia 4 de Dezembro.
Um dia após o anúncio da nomeação, o padre Stephen Chow, já na condição de bispo-eleito, deu uma conferência de Imprensa aos Meios de Comunicação Social de Hong Kong, tendo a seu lado o cardeal D. John Tong e o bispo auxiliar D. Joseph Ha.
Aos jornalistas confessou que não esperava – nem sequer era um desejo pessoal – ser nomeado bispo de Hong Kong, uma vez que sempre defendeu que «o novo bispo deveria ser um padre diocesano».
«O meu superior falou comigo em Dezembro. Na ocasião disse-lhe que não me via como bispo, até pela razão que já expliquei. Mas depois lá chegou a carta, escrita pelo Papa Francisco – em Italiano… e eu nem sei Italiano… – com a ordem para a nomeação», contou o sacerdote, sublinhando que se tratou de «um processo que incluiu vários meses de consultas e oração».
Questionado se a longa experiência que detém no sector do Ensino vai permitir construir pontes de diálogo com o Governo de Hong Kong, uma vez que a diocese e o Executivo mantêm um longo braço de ferro quanto à gestão das escolas católicas, o padre Stephen Chow respondeu: «Tudo se faz por meio de palavras e acções, o que não é fácil. Há dois anos a comunidade escolar estava mais dividida do que agora. No meu caso, por exemplo, nem sempre tive sucesso mas dei e vou continuar a dar o meu melhor».
LIBERDADES
O padre Stephen Chow é o mais novo bispo-eleito de Hong Kong. Confrontado se este facto pode ajudar na relação entre a diocese e os Governos de Hong Kong e de Pequim, dado pertencer a uma geração com outra visão do mundo, foi peremptório: «A minha acção não passa por uniformizar a sociedade. Mais importante é a união na pluralidade».
Não satisfeitos com a resposta, os jornalistas foram mais específicos: E quanto à liberdade religiosa e outras liberdades, quando já entrou em vigor a Lei de Segurança Nacional? «A liberdade religiosa é um direito básico. Sempre que considerar necessário, direi ao Governo como a liberdade religiosa é importante; não só para a religião católica, como para todas as religiões», disse.
O padre Stephen Chow lembrou que «embora a Igreja [Católica]comungue da mesma fé [independentemente do país ou território onde esteja implementada], é necessário ter bem presente que não há relações diplomáticas entre a Santa Sé e a China, e nós [diocese de Hong Kong]dependemos directamente da Santa Sé, embora também tenhamos a mesma autonomia de que gozam todas as dioceses à volta do mundo». Assim – continuou – «é preciso manter aberta e bem viva a via do diálogo, para que possamos melhor entender a outra parte».
Nos tempos mais próximos um dos interlocutores do novo bispo será a Chefe do Executivo, Carrie Lam, também ela católica. Poderá a devoção da dirigente política facilitar o diálogo institucional entre a diocese e o Governo: «Nunca me encontrei com a Senhora Lam, por isso é prematuro dar uma opinião neste momento. Embora deva estar sempre atento ao que se passa, prefiro aguardar pois há muita coisa que não entendo – por exemplo, sobre a China – e quero aprender. A prudência é uma virtude!».
Neste contexto, o bispo-eleito não confirmou se este ano irá participar em alguma manifestação pelos acontecimentos de Tiananmen, ocorridos em 1989. «Rezo sempre pelas vítimas. Se estarei ou não presente em alguma acção, tudo dependerá dos requisitos que forem impostos pelas autoridades», concluiu.
CURRICULUM VITAE
Segundo o portal da Santa Sé, “Vatican News”, o padre Stephen Chow Sau-yan nasceu a 7 de Agosto de 1959 em Hong Kong. Após os estudos pré-universitários, obteve bacharelado e mestrado em Psicologia, pela Universidade do Minnesota (Estados Unidos). Entrou na Companhia de Jesus a 27 de Setembro de 1984.
Entre 1986 a 1988 concluiu o noviciado e a licenciatura em Filosofia, na Irlanda, tendo prosseguido os estudos teológicos entre 1988 e 1993 em Hong Kong, onde foi ordenado presbítero a 16 de Julho de 1994.
Na Universidade Loyola, em Chicago (Estados Unidos), fez mestrado em Desenvolvimento Organizacional (1993-1995), e na Universidade de Harvard, em Boston (2000-2006), obteve doutoramento em Desenvolvimento Humano e Psicologia.
Pronunciou os votos finais a 17 de Abril de 2007 e desde então foi professor e ocupou vários cargos de relevo em diversas instituições: duas faculdades jesuítas em Hong Kong; Universidade de Hong Kong (2008-2015); Comissão de Educação da província dos jesuítas na China; Seminário Diocesano Espírito Santo em Hong Kong; Conselho Presbiteral da Diocese de Hong Kong; e Conselho Diocesano de Educação.
Desde 1 de Janeiro de 2018 até agora ocupou o cargo de provincial da Companhia de Jesus para a China e, desde 2020, de vice-secretário da Associação de Superiores Religiosos dos Institutos Masculinos em Hong Kong.
José Miguel Encarnação