PADRE ATHANASIUS CHAN, DIRECTOR DA ESCOLA SÃO PAULO

PADRE ATHANASIUS CHAN, DIRECTOR DA ESCOLA SÃO PAULO

«Necessitamos de aprender com o melhor dos educadores, o próprio Jesus Cristo»

O ano-lectivo de 2022/2023 foi para a Escola São Paulo um ano de reformas profundas e de preparação para um futuro que o estabelecimento quer que seja mais inclusivo, mais atento e mais particularizado. Sempre na vanguarda, a escola, administrada pela Ordem Dominicana, tornou-se em 2011 a primeira em Macau a abolir o uso de papel e vai adoptar, a partir de Setembro, uma nova abordagem em termos de ensino e avaliação. Em entrevista a’O CLARIM, o padre Athanasius Chan, director da Escola São Paulo, explica o que vai mudar dentro em breve.

O CLARIM– Este ano-lectivo está praticamente no fim. Se não estamos em erro, é o seu quinto ano como director da Escola São Paulo. Os objectivos que traçou para este ano foram alcançados?

PADRE ATHANASIUS CHAN –No final de Julho vamos dar por encerrado este ano escolar. Durante este ano-lectivo conduzimos uma série de reformas. Reestruturámos os nossos Recursos Humanos, de forma a colocar as pessoas certas nos lugares certos. O objectivo é fazer com que a escola avance mais depressa e de forma mais conveniente. Está tudo – podemos agora afiançar – bem encaminhado. Por outro lado, a nossa principal prioridade é tentarmos fazer o nosso melhor com o propósito de assegurar os melhores serviços a cada um dos alunos, de acordo com as suas próprias necessidades. Tentamos proporcionar-lhes bons serviços. Sabe, todos os alunos são diferentes. Alguns aprendem muito rápido. Outros avançam a ritmo mais lento. Estamos a tentar abandonar a forma tradicional como todos os alunos são avaliados. Queremos que sejam avaliados de acordo com as suas próprias necessidades. Vamos usar diferentes fórmulas para os avaliar, de acordo com o desenvolvimento de todos e de cada um dos alunos.

CL– Como é que a Escola tenciona alcançar esse objectivo? Como é que vai prestar uma atenção particular a alunos com diferentes necessidades educativas?

P.A.C. –Já chamámos a atenção aos nossos professores e já os lembrámos que a partir do próximo ano – estejamos a falar de simples testes ou de exames – necessitamos de os conceber de forma diferente, de acordo com o próprio desenvolvimento dos alunos e das suas necessidades.

CL– É fácil contratar ou encontrar professores que já estejam adaptados a essa nova abordagem em termos de ensino?

P.A.C. –Não diria que o essencial seja encontrar ou recrutar esses tipo de professores ou de especialistas em concreto. Na verdade, precisamos de os formar para que possam estar preparados para essa finalidade, para esse propósito. O processo educativo deve, de facto, proporcionar coisas diferentes a alunos diferentes. Essa devia ser a norma e é aquilo que se prefigura como mais lógico.

CL– A Escola São Paulo foi durante a última década uma escola pioneira em mais do que um aspecto. Foi, por exemplo, a primeira escola em Macau a abolir o uso de papel. Como é que essa estratégia evoluiu?

P.C.A. –É algo que está ainda em desenvolvimento. O pontapé de saída neste projecto foi dado em 2011. Começámos a executá-lo há mais de doze anos. Está, pois, na altura de o rever. Na verdade, acho que necessitamos de reflectir sobre o que foi alcançado. Mas a reflexão não deve apenas ser feita por nós, na verdade. Convidámos especialistas da Universidade de Macau e do polo de Zhuhai da Universidade Normal de Pequim para conduzir essa tarefa. Fizemos um esforço para encontrar diferentes especialistas para nos ajudar a avaliar e a rever este projecto, e depois de terminada a avaliação vamos tentar operar algumas mudanças, melhorar alguns aspectos e definir algo mais, de acordo com os objectivos da nossa escola. Em termos gerais, o maior dos nossos objectivos é o de promover uma educação holística.

CL– Uma educação holística que na Escola São Paulo acarreta algo mais, até porque se trata de uma escola católica. Como é que a Escola São Paulo integra os valores católicos na forma como opera? É fácil equilibrar todos estes aspectos? Valores, pedagogia e tecnologia…

P.C.A. –Bem, não me parece que haja grande conflito entre eles. Nenhuma das outras opções que tomámos esbarra de frente com os nossos valores católicos, em particular desde 2018, quando direccionámos os objectivos da escola para uma educação com uma natureza holística. Como referi, tentamos fazer o nosso melhor para garantir um bom serviço, para ir ao encontro das necessidades de cada um dos alunos, do seu desenvolvimento pessoal e das suas expectativas. Fazemos o nosso melhor para lhes proporcionar um bom serviço. Mas somos uma escola católica. Nunca perdemos de vista os nossos valores católicos; necessitamos de tomar conta, de demonstrar interesse por todos os nossos alunos; em particular se tivermos em conta os problemas sociais que muitos deles enfrentam hoje em dia: famílias estilhaçadas e divididas. Alguns destes miúdos não crescem, muito propriamente, num bom ambiente familiar. Necessitamos de aprender com o melhor dos educadores, o próprio Jesus Cristo, de forma a podermos ajudar este tipo de estudantes. Essa é a nossa missão, mas é também para nós uma responsabilidade. A educação é, para nós, uma questão de consciência. Temos de fazer o nosso melhor. Não somos como as outras escolas. Na verdade, as outras escolas deviam fazer o mesmo. Esta preocupação não devia ser exclusiva das escolas católicas. Mas, uma vez que somos uma escola católica, isto é parte da nossa identidade. Temos de ter a capacidade de transpor os nossos valores católicos para aquilo que fazemos, de acordo com os ensinamentos de Jesus e de acordo com os Evangelhos.

CL– No que diz respeito ao futuro e ao crescimento da Escola São Paulo, quais são as perspectivas para o próximo ano?

P.C.A. –Na verdade, o número de alunos tem-se mantido estável ao longo dos últimos dez anos. O mesmo vai acontecer no próximo ano-lectivo. Para ser sincero, não temos espaço, não temos salas de aulas suficientes para recrutar mais alunos e podermos crescer. Durante os últimos dez anos ensinámos mais de três mil alunos todos os anos e o mesmo vai acontecer no próximo ano.

CL– Então como referia, o maior desafio para o próximo ano é aplicar esta nova abordagem educativa, para que cada um dos alunos possa ter a atenção que merece…

P.C.A. –Sim. É um desafio para nós, mas também, de uma forma geral, para todas as outras escolas. Temos de prestar uma maior atenção à dimensão social e às necessidades das diferentes famílias. Como sabe, em algumas das escolas, o acompanhamento das crianças por parte das famílias é muito bom. Podemos dizer, sem exagero, que a família é um elemento valorizador. Mas há outros estudantes cujo acompanhamento que recebem da família é muito ténue. Sendo, como somos, uma escola católica, temos de prestar uma maior atenção a estes alunos. O nosso grande objectivo? Esperamos que os alunos que depositem a sua confiança na nossa escola se possam tornar no futuro uma parte activa da nossa sociedade; que possam dar o seu melhor para servir a sociedade e para contribuir para o País. Mesmo que não consigam alcançar esses propósitos, a nossa esperança é que os nossos alunos não sejam uma fonte de problemas, que não constituam um fardo para a sociedade.

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *