«Vim para Macau para servir, em particular, a comunidade chinesa»
Nasceu na maior nação islâmica do mundo, no seio de uma família muçulmana. Os pais converteram-se ao Catolicismo e Albertus Suryadi levou o amor a Deus ainda mais longe, ao responder com convicção ao chamamento para seguir a via do Sacerdócio. No Seminário, cruzou-se com a Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus e os Dehonianos tornaram-se a sua segunda família. Em Macau desde o final de Outubro passado, o sacerdote indonésio diz que está no território para servir a Igreja local, particularmente a comunidade chinesa.
O CLARIM– Em que momento é que o chamamento de Deus para o Sacerdócio se manifestou em si? Quando decidiu que queria ser padre?
PADRE ALBERTUS SURYADI –Quero, antes de mais, agradecer ao Senhor por me ter facultado esta oportunidade de ser Seu parceiro nas lides da missão, por me ter permitido proclamar a Boa Nova junto do Seu povo. Sinto que o Senhor me chamou desde muito cedo, desde que eu era criança. Desde a Escola Primária; durante os cinco anos que passei na Escola Primária. Nessa altura, costumava frequentar a Igreja, assistia à Missa. Por vezes, servia como acólito. Mas uma das experiências mais importantes de que me recordo era o facto de seguir o sacerdote para as outras igrejas. Na cidade onde cresci, existem várias igrejas. O padre celebrava Missa na igreja da minha paróquia, depois seguia para outra igreja e ali celebrava a Eucaristia, e assim sucessivamente. Foi a partir daí que me ocorreu que seguir a vida do Sacerdócio seria maravilhoso. Para mim era algo que se prefigurava como muito feliz, poder ir livremente para todo o lado. Senti um chamamento que me encheu o coração. Senti que Jesus me chamou para que me pudesse tornar um sacerdote e servir a Igreja, em particular a Igreja local. Mas, sendo um missionário, o chamamento de Deus acabou por me levar a outros países.
CL– Normalmente não relacionamos a Indonésia com a Igreja Católica e com o Catolicismo. A Indonésia é o país com a maior população muçulmana do mundo. Não é um país radical, uma vez que outras religiões podem ser professadas abertamente. No entanto, os católicos são uma minoria na Indonésia. Que se desafios se lhes colocam?
P.A.S. –Vou começar por lhe falar da minha experiência pessoal. Eu próprio nasci no seio de uma família muçulmana. Na minha família, apenas o meu pai e a minha mãe se tornaram católicos. Todos os demais membros da minha família alargada são muçulmanos. O meu pai e a minha mãe, que também eram muçulmanos, converteram-se ao Catolicismo quando se mudaram da ilha de Java para a ilha de Sumatra. Perguntava-me se é fácil ou difícil ser-se católico na Indonésia, em particular num cenário em que os católicos estão em minoria. Aquilo que lhe posso dizer é que não é muito fácil, mas é uma boa oportunidade para nós, enquanto católicos, para que permaneçamos firmes na nossa fé. É também uma oportunidade para construir uma boa relação, uma boa colaboração com pessoas de outras comunidades, em particular com a comunidade muçulmana. Isto é maravilhoso, porque na Indonésia, aquilo em que eu tenho reparado é que ser católico, ou ser muçulmano e professar outra religião, é algo a que nos habituámos; habituámo-nos às diferenças e compreendemo-nos uns aos outros. É óbvio que, de vez em quando, ocorrem alguns problemas, mas não são muito representativos. Não estamos sempre a discutir uns com os outros. O aspecto mais importante é que nos compreendemos uns aos outros. Na minha família, por exemplo, o meu pai e a minha mãe são católicos. Todos os outros são muçulmanos. No entanto, nós mantemos contacto frequente e comunicamos uns com os outros.
CL– Referia a sua experiência pessoal. Como é que a conversão dos seus pais ao Catolicismo foi aceite pela sua família? E a sua decisão de seguir a via do Sacerdócio?
P.A.S. –No início, a minha família não concordou com a minha decisão de entrar para o Seminário ou de seguir a minha vocação, o desejo de me tornar sacerdote. Mas, finalmente, ao fim de alguns anos, os meus familiares abriram o seu coração e disseram-me: “Se achas que esta é, verdadeiramente, a tua vocação, deves continuar, mas tens de ter a consciência de que o caminho não é fácil, qualquer que seja a vocação. Tens de ser fiel às tuas escolhas e em aquilo a que acreditas”.
CL– Como é que o seu percurso enquanto missionário se cruzou com Macau?
P.A.S. –Na verdade, tinha-me sido atribuída uma missão muito diferente, mas devido à pandemia de Covid-19 não tive a oportunidade de cumprir essa missão. Dado que os meus irmãos dehonianos já estavam em Macau e também em Hong Kong, consultei a minha comunidade e tentei perceber se havia outra forma de poder contribuir para a comunidade, em particular em Hong Kong e em Macau. Entretanto, graças a Deus, os meus irmãos entraram em contacto com o bispo de Macau e D. Stephen Lee abriu as portas da Diocese e fui convidado para vir para Macau, para que eu pudesse servir a Igreja local. Vim para Macau graças a esse convite do Senhor Bispo. Depois de comunicar a D. Stephen Lee a minha disponibilidade para servir a Diocese, cheguei a Macau a 27 de Outubro de 2022.
CL– Uma das missões que lhe foi confiada pela diocese de Macau foi a de assegurar assistência espiritual à comunidade católica indonésia radicada no território. Apesar de não ser numerosa, é muito activa e interventiva…
P.A.S. –Vim para Macau, antes de mais, para servir a Igreja local, em particular a comunidade chinesa. Quando cheguei a Macau descobri que também cá existe uma comunidade católica indonésia. É uma comunidade muito pequena. Há cerca de duas dezenas de católicos indonésios em Macau, mas ter a possibilidade de estar com eles, de acompanhar o seu percurso de fé, é algo que me deixa muito feliz. Temos serviços religiosos em Bahasa duas vezes por mês. Para eles celebro Missa duas vezes por mês, mas nos outros dias convido-os a participarem em outras celebrações. Podem juntar-se às celebrações em Chinês, em São Lázaro e na Taipa. É para eles uma boa oportunidade para ficarem a conhecer e para melhor compreenderem a Igreja Católica em Macau. Por outro lado, como disse, a minha missão é a de servir a comunidade local; agora estou a tentar aprender, dando o meu contributo na paróquia de Nossa Senhora do Carmo, na Taipa. Ali a minha missão é a de acompanhar a comunidade de língua inglesa, mas se o padre Domingos Un necessitar estou também disponível para ajudar com a comunidade de língua chinesa. Também trabalho com duas comunidades de religiosas, uma em Macau e outra na Taipa.
Marco Carvalho