Olhando em Redor

Cidade mundial de turismo e lazer?

É sobejamente conhecido o propósito do Governo da RAEM em tornar a cidade de Macau num centro mundial de turismo e lazer. Perdoem-me os governantes e os mais os puritanos, mas é algo que está a anos-luz de vir a ser concretizado, embora reconheça haver aqui e ali sinais encorajadores que nos permitem acalentar um futuro melhor neste âmbito.

Um desses sinais é o compromisso do Governo em preservar o Centro Histórico de Macau, apesar de não estar isento de culpas numa ou noutra política de salvaguarda cultural, por vezes fruto das inúmeras resistências provenientes de determinados nichos da sociedade.

Outro aspecto positivo está relacionado com o crescente envolvimento da sociedade civil nas questões culturais, seja através dos cidadãos, seja através das instituições de matriz chinesa e lusófona (incluindo a macaense). O número de habitantes que tem subido consideravelmente nos últimos anos também é de certa forma responsável por trazer outras mentalidades que ajudam a transformar a vida cultural da cidade.

Cingindo-me apenas ao entretenimento e lazer, há que contar com o importante contributo do sector privado, mais concretamente da Melco Crown, através dos espectáculos “The House of Dancing Water”, no City of Dreams, e “House of Magic”, no Studio City, sendo precisamente o Studio City quem está em melhores condições de elevar o patamar de exigência, não só da oferta turística pela via do entretenimento, como também pelo que pode oferecer às famílias e à população em geral.

O “House of Magic”, idealizado por Franz Harary, é um espectáculo fenomenal, constituindo os três anfiteatros autênticos palcos de pura diversão. No caso da sala nobre, a mescla de efeitos gráficos, as coreografias das bailarinas e os estrondosos truques de magia (como pode um Ferrari aparecer do nada?) são um exemplo sério de como o Studio City e o mágico Franz Harary estão comprometidos em fazer de Macau o “Epicentro de Magia da Ásia”.

Para a comunidade portuguesa há a soberana oportunidade de assistir aos truques de ilusionismo do conceituado Luís de Matos, em cena até 11 de Fevereiro de 2016.

Tendo em conta a qualidade do que observei “in loco” na semana passada, julgo que o custo dos bilhetes é aceitável: 450 patacas para adultos, 360 patacas para crianças e 380 patacas para residentes de Macau e idosos.

Espero, contudo, que a Melco Crown seja mais ambiciosa e ponha também à disposição do público pacotes promocionais com bilhetes únicos que nos permitam escolher entre duas ou três das opções de entretenimento que a operadora tem em actividade – “The House of Dancing Water”, “House of Magic” e “Golden Reel” (espécie de “London Eye”).

 

O caso de Londres

Para haver objectividade na pretensão governativa é preciso tecer comparações com as cidades que por excelência são as capitais mundiais de turismo e lazer, tais como Londres, Roma, Veneza, Florença, Viena, Lisboa, Paris, Nova Iorque, Dubai, Pequim, Singapura, Tóquio, Osaka, Cairo e Rio de Janeiro (só para mencionar algumas).

Pegando no exemplo de Londres, cidade que melhor conheço (a par de Lisboa), se vestisse a pele de turista e quisesse visitar algum lugar emblemático escolheria, logo à partida, o museu de cera da Madame Tussauds. Aliás, foi isso mesmo que fiz no último Verão.

Desengane-se o leitor menos avisado se pensar que vai apenas encontrar esculturas em cera de celebridades mundiais, do presente e do passado, porque a visita, além de bastante cansativa, por causa das filas de espera no exterior e no interior do edifício (de uma sala para a outra), é muito mais do que isso.

No final do dia o que mais me deixou encantado, além de pousar ao lado da Angelina Jolie e da Kim Kardashian, ou de ver o enorme Hulk do tamanho de dois pisos e as personagens da saga Star Wars, foi o filme 4D que assisti num anfiteatro cheio de truques que acompanhavam a acção com os heróis da Marvel, tais como os salpicos de água e o vento que levava na cara ou as bicadas nas costas vindas da cadeira onde estava sentado de modo a simular o efeito de facadas.

O preço dos bilhetes para a Madame Tussauds? Numa cidade com um dos custos de vida mais elevados do mundo é obra os adultos pagarem 33 libras (cerca de 400 patacas) e as crianças 28.8 libras (cerca de 349 patacas). E como o metro (subterrâneo) de Londres é uma maravilha, assim como o planeamento urbanístico e a qualidade do ar que respiramos… Já Macau está pelas horas da amargura quanto a estes três aspectos.

 

O que falta à RAEM

De nada serve o trabalho da Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer, nem da Melco Crown, da Sands China e do MGM – no fundo, as operadoras de Jogo mais activas na área do entretenimento e do lazer – se o Governo de Macau não zelar pela combate à poluição atmosférica relacionada com as elevadas emissões de monóxido de carbono, nem pela qualidade dos transportes públicos, das acessibilidades rodoviárias, do planeamento e ordenamento urbanístico, da Educação (cada vez mais degradada), etc.

Curiosamente, o único evento capaz de pôr o território no radar à escala planetária é o Grande Prémio de Macau, em desportos motorizados (algo que tem o dedo do engenheiro Costa Antunes), sabendo-se porém quais os transtornos que o evento tem causado à população.

Actualmente, não há uma única operadora do Jogo capaz de alcançar semelhante desiderato, apesar da Sands China ter o mérito de conseguir bastante notoriedade transcontinental com os combates de boxe e os concertos musicais organizados no seu COTAI Arena.

Em jeito de conclusão: Macau não está minimamente preparada para competir com os principais centros mundiais de turismo e lazer. Falta-lhe estratégia de fundo. Falta-lhe a vontade das oligarquias locais. Falta-lhe dar um murro na mesa de maneira a acordar para a realidade e traçar um caminho que urge ser trilhado o quanto antes. Cumprindo com tudo isto, o trabalho das operadoras do Jogo também estará mais facilitado.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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