Vai uma aposta?
A indústria do Jogo de Macau vai estar sob grande escrutínio nos próximos sete anos. É bem possível que a Sands China (subsidiária da Las Vegas Sands) possa ter os dias contados neste pequeno território que tem liderado o sector à escala global. A minha dúvida está em saber quando sairá de cena e de que forma.
Para abordar o futuro, e também o presente, é preciso lembrar o passado. Sheldon Adelson foi importante para a RAEM (e indirectamente para Pequim) quando a Las Vegas Sands deu o pontapé de saída na liberalização da indústria do Jogo, ao inaugurar o Sands Macao em Maio de 2004. Tal só foi possível depois de um “truque de ilusionismo” bem conseguido, com a desmultiplicação de três para seis licenças, uma das quais para a companhia de Adelson em regime de subconcessão.
Sem querer alongar-me em considerações sobre o porquê desta solução, percebe-se que a entrada em cena da Las Vegas Sands e da Wynn Resorts não só veio dar credibilidade a Macau, como contribuiu para fazer dela em pouco tempo a capital mundial do Jogo. Cumprida esta etapa, a próxima será mostrar a porta de saída a determinados “interesses”.
Os sinais estão aí para quem quiser vê-los, porque a quebra de receitas brutas, além de ser uma consequência da política anti-corrupção no continente chinês, serve o propósito de afastar a perniciosa actividade dos “junkets”, pelo menos para a economia local. Ao abrandar a lavagem de dinheiro nos casinos também decresce a economia paralela que alimenta várias formas de especulação (imobiliária, financeira, de bens essenciais, etc.)
Convém não esquecer o menor encaixe de receitas arrecadas pelas seis operadoras, em particular pela Sands China, que precisa do dinheiro de Macau como “pão para a boca”, nem que seja por causa da pressão exercida por accionistas e investidores.
Uma nota: Adelson não terá muita simpatia por Mao Tse-tung, pelo menos a julgar pelo testemunho proferido há pouco tempo num tribunal de Las Vegas: «Você poderia trazer Mao Zedong, Mussolini, Stalin e Hitler. Você poderia trazer todos os bandidos do mundo», afirmou, em resposta a uma intervenção do advogado James Pisanelli, segundo o The Guardian. Na prática, Sheldon Adelson desconsiderou todos os cidadãos chineses que têm Mao Tse-tung como herói nacional.
O senhor Venetian deu um tiro no pé ao invocar possíveis despedimentos (resta saber se irá superar a marca de 2009), caso continue a queda das receitas.
Quem der uma vista de olhos na Lei no 16/2001 (define o regime jurídico da exploração de jogos de fortuna ou azar em casino), e diplomas relacionados, percebe à primeira vista que qualquer operadora terá uma base negocial algo limitada se “puxar muito a corda”.
Por outro lado, há que tirar outra vez o chapéu a Steve Wynn: embora não concorde com a proibição do fumo nos casinos, não entra em conflito com o Governo da RAEM, mostrando assim tacto na forma como gere um assunto que terá influência no desempenho da sua companhia, ao contrário de Adelson.
Se a Wynn Resorts quiser sobreviver no território terá inevitavelmente que se aliar a parceiros chineses, tal como fez a Melco Crown (Lawrence Ho) e a MGM (Pansy Ho). Convém assim perceber se a concretização dos rumores sobre um plano de fusão entre a Wynn Resorts e a MGM Resorts Internacional será apenas, ou não, para um maior encaixe de receitas (a principal fatia do bolo vem de Macau). E a Sands China irá fazer o mesmo?
Outras notas: a RPC comanda o Jogo na RAEM, porque tanto pode estrangular o sector até bem entender, como pode abrir a torneira dos vistos (individuais e colectivos) para fazer subir as receitas a seu bel-prazer.
A Sands China é uma importante força empregadora em Macau, porém, não significa que faltem soluções para resolver as questões laborais que possam surgir com a sua possível saída. Também a sucessão de Adelson à frente da Las Vegas Sands poderá trazer grande instabilidade à Sands China. Em comparação, a SJM fê-lo em tempo oportuno.
Falta abordar a hipotética concessão de licenças a novas operadoras. Apresento três prováveis candidatos de monta, por ordem aleatória: Macau Legend, Genting e Suncity Group.
Futurologia
Apresentei algumas peças do puzzle, mas para tudo ficar menos turvo é preciso fazer um pouco de futurologia. O prazo das licenças da SJM e da MGM expiram em Março de 2020; da Wynn Resorts, da Melco PBL, da Galaxy e da Venetian Macau (subsidiária da Sands China) em Junho de 2022.
É expectável que as negociações das novas licenças tenham início após Dezembro de 2019 (coincide com o fim do segundo e último mandato do actual Chefe do Executivo), sendo por isso compreensível a prorrogação das licenças da SJM e da MGM até 2022.
Caso as negociações aconteçam antes do prazo por mim avançado (e por especialistas na matéria), poderemos estar perante um “fogo de artifício para entreter a malta”… ou perante um sinal claro de quem será o próximo Chefe do Executivo: Leonel Leong ou Alexis Tam? Aqui, convém não descartar Ho Iat Seng ou até mesmo um candidato surpresa.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA