Diocese de Macau apela à generosidade dos fiéis
A Catedral da Natividade de Nossa Senhora vai fechar as portas a partir de 1 de Outubro para aquela que é a maior empreitada de restauro e de renovação de que a “madre de todas as igrejas do território” é palco em mais de oito décadas. A intervenção, que visa o reforço da estrutura e do telhado, e ainda a instalação de um novo órgão de tubos, deverá ser custeada, em parte, por leigos e benfeitores. A Diocese vai disponibilizar uma caixa para a recolha de ofertas até Julho do próximo ano.
As obras de restauro e de requalificação de que a Sé Catedral vai ser alvo a partir do início de Outubro – e que se devem prolongar por pelo menos nove meses – vão ser custeadas, em parte, por leigos e benfeitores. A informação foi avançada a’O CLARIMpelo vigário paroquial da igreja da Sé para a comunidade de língua portuguesa, o padre brasileiro Daniel Ribeiro, que confirmou também o valor da empreitada.
A intervenção, com um custo avaliado em cerca de nove milhões de patacas, é a mais ampla a que a Catedral da Natividade de Nossa Senhora é sujeita em mais de oito décadas. O aspecto actual da igreja é o resultado das obras de reconstrução conduzidas em 1937 e a empreitada agora anunciada tem por objectivo substituir ou reforçar alguns dos elementos instalados na época. A intervenção, adiantou o padre Daniel Ribeiro, dá resposta a um pedido expresso pelo Governo, que se mostrou preocupado com a segurança estrutural do edifício. «O motivo principal das obras é um pedido do Governo local, uma vez que a parte do tecto está a começar a apresentar alguns riscos e é preciso fazer estas reparações a pedido do Governo», disse o padre Daniel Ribeiro.
O telhado é dos elementos que mais preocupam as autoridades de Macau, mas a intervenção vai muito mais além. A obra, que estará previsivelmente concluída no Verão do próximo ano, prevê a reparação da actual estrutura de aço do telhado e a construção de um novo tecto de madeira, bem como a instalação de uma estrutura reforçada de aço no edifício. «A igreja necessita de algumas obras de remodelação. A estrutura do telhado deve ser reforçada, por razões de segurança, o mais rapidamente possível», explicou o padre Cyril Law, chanceler da diocese de Macau, em declarações a’O CLARIM.
A intervenção vai ainda ser aproveitada para reparar as rachas das paredes e para alisar e pintar as amuradas da estrutura. A empresa responsável pela empreitada de restauro vai proceder à substituição dos caixilhos das janelas, do sistema de electricidade e do sistema de iluminação de toda a Sé Catedral.
O processo deverá ser concluído com a instalação de um novo órgão de tubos, oferecido por um benfeitor à diocese de Macau. A dimensão e o peso do instrumento musical é outro dos aspectos que justificam as obras de restauro e requalificação. «Como foi oferecido um órgão à Diocese, a igreja vai aproveitar e vai instalá-lo na catedral. Ainda não vi o órgão, não sei que tamanho tem, não sei quem o ofereceu e não sei também ao certo em que parte da catedral ele vai ser instalado», assumiu o padre Daniel Ribeiro.
A empreitada de nove milhões de patacas deverá ser custeada, em parte, por benfeitores, referiu o padre Daniel Ribeiro a’ O CLARIM: «A intervenção começa a partir de Outubro, no 1.º de Outubro, e vai prolongar-se no mínimo por nove meses. O valor é de aproximadamente nove milhões de patacas, mas há alguns benfeitores que estão disponíveis para ajudar. Há alguns benfeitores que estão a fazer contribuições e doações».
A Diocese conta também com o contributo dos fiéis do território para levar a empreitada a bom porto. Num breve texto, publicado no Boletim Paroquial da Igreja da Sé, a Cúria Diocesana faz um apelo à generosidade dos católicos de Macau, tendo em conta os elevados custos associados à empreitada. Até Julho do próximo ano, a igreja vai disponibilizar uma caixa para a recolha de donativos. “Devido ao alto custo destas obras de remodelação, a igreja vai dispensar uma caixa para arrecadação de fundos, que será exposta até Julho do próximo ano e agradece desde já a vossa generosidade na contribuição para estas obras de remodelação e melhoria da igreja”, pode ler-se na mais recente edição do Boletim Paroquial da Igreja da Sé.
A intervenção na estrutura do edifício vai obrigar ao encerramento da igreja durante os nove meses que as obras deverão demorar, pelo que as celebrações eucarísticas que decorriam na catedral vão ser transferidas a partir de 1 de Outubro para a igreja de São Domingos, situada no largo homónimo. As missas vão manter o mesmo horário em que são celebradas na Sé Catedral, confirmou o padre Cyril Law. «Durante o período pelo qual se vão estender as obras de remodelação, todas as cerimónias serão transferidas para a igreja de São Domingos. Os horários das missas serão practicamente os mesmos», explicou o chanceler da diocese de Macau.
O recurso à igreja de São Domingos, como alternativa à igreja da Sé sempre que a catedral está impossibilitada, é uma prática relativamente comum. O actual edifício da basílica da Natividade de Nossa Senhora remonta, ainda que com múltiplas alterações, a meados do século XVII. O templo foi alvo de várias reconstruções ao longo dos séculos, até chegar ao seu aspecto actual, fruto da última grande empreitada de renovação a que foi sujeita, em 1937.
Consagrada a Nossa Senhora da Natividade desde que foi erigida, ainda como uma pequena ermida de madeira, a igreja da Sé foi reconstruída, em taipa, no ano de 1623, e elevada ao estatuto de catedral. O material permaneceu como de eleição durante dois séculos, e só em 1823, dado o aspecto “miserável e arruinado da igreja”, a Diocese decidiu avançar para a construção de uma estrutura em pedra, projecto para o qual “muito contribuíram os crentes de Macau”. Durante o período pelo qual se prolongaram as obras, os serviços religiosos foram igualmente transferidos para a igreja de São Domingos.
O novo templo não tinha ainda sido ainda consagrado quando foi fustigado e devastado por um tufão, corria o ano de 1835. Os danos provocados pela tempestade forçaram a nova intervenção, seguindo o desenho do arquitecto macaense Tomás d’Aquino, que se prolongou entre 1844 e 1850, ano em que a catedral foi finalmente consagrada pelo então bispo de Macau, D. Jerónimo José da Mata.
Marco Carvalho