Governo reconhece importância do Ensino Privado
Mais de três mil docentes dos estabelecimentos de ensino de matriz católica participaram ontem na edição de 2020 do “Dia do Desenvolvimento do Professor”, evento com que a Associação das Escolas Católicas de Macau assinala, todos os anos, o Dia do Professor e o início do novo ano lectivo.
A iniciativa ficou inevitavelmente pautada pelos ecos da pandemia do Covid-19, que obrigou, desde logo, à limitação do número de pessoas que assistiram presencialmente ao certame, realizado no Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau. Nas instalações do IPM, distribuídos pelas bancadas e por filas de cadeiras colocadas a um metro de distância uma das outras, estiveram cerca de um milhar de docentes, sendo que o evento foi transmitido ao vivo para a Escola São Paulo e para o Colégio Yuet Wah, onde se encontravam dois mil outros profissionais que integram o corpo docente dos 26 estabelecimentos que fazem parte da Associação das Escolas Católicas de Macau.
A exemplo do que tem sucedido noutros anos, a cerimónia contou com a presença do bispo D. Stephen Lee e de vários dignitários do Governo, que se fez representar ao mais alto nível pela Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie U.
No discurso que proferiu durante o certame, a titular da pasta da Educação lembrou que, desde o estabelecimento da RAEM, o Governo tem feito do desenvolvimento da Educação uma prioridade. A governante recordou que os recursos que o Executivo investe no sector educativo têm vindo a aumentar de forma gradativa ao longo dos últimos anos e que os efeitos positivos da aposta na Educação reflectem-se na melhoria da qualidade dos professores e, consequentemente, do ensino que é ministrado nas escolas locais.
Elsie U garantiu ainda, numa intervenção que se prolongou por quase um quarto de hora, que «a Educação é uma causa comum entre o Governo e o sector privado». A Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura deixou elogios às escolas católicas e despediu-se com a formulação de um desejo, o de que o Governo e a Associação de Escolas Católicas de Macau possam continuar a manter contactos estreitos com o propósito de continuar a promover o desenvolvimento da Educação no território.
UM DESAFIO CHAMADO COVID-19
Para Candy Wai, directora da secção inglesa do Colégio de Santa Rosa de Lima, as palavras da Elsie U e a adesão massiva ao certame são a prova de que os estabelecimentos de ensino de matriz católica continuam a desempenhar um papel incontornável na formação das novas gerações de Macau. Apesar do Catolicismo se constituir como uma religião minoritária na agora RAEM, os valores e as virtudes católicas encerram um poder de atracção quase universal, disse a responsável. Mais do que transmitir conhecimento, as escolas católicas de Macau fazem a diferença pela natureza dos valores que transmitem «No total, há 26 escolas católicas em Macau. As escolas católicas, no meu entender, têm a si inerente a responsabilidade de espalhar o amor de Deus e as virtudes da fé católica, mas também aquilo que podemos chamar de valores cristãos fundamentais. Ser capaz de transmitir estes aspectos é, a meu ver, mais importante do que transmitir apenas conhecimento», assumiu.
Candy Ng reconheceu que nem sempre é fácil ensinar sem proselitar, mas acredita que a principal razão pela qual milhares de famílias do território inscrevem os filhos em estabelecimentos católicos se prende precisamente com a natureza dos valores transmitidos. O apelo ao respeito pelos outros, considerou, é um aspecto fundamental da educação transmitida pelas escolas católicas, sendo que em larga medida é grande a confiança depositada por pais e encarregados de educação em estabelecimentos como o Colégio de Santa Rosa de Lima: «É nossa responsabilidade e nosso dever dizer-lhes que Deus é amor e que temos de nos amar uns aos outros como Deus nos ama a nós, ainda que nem sempre seja fácil transmitir esta mensagem. Quando os pais colocam os seus filhos a estudar na nossa escola ou, de uma forma geral, nas escolas católicas, é porque admiram algumas das virtudes e alguns dos valores fundamentais que queremos transmitir. Em suma, eles querem que as suas crianças possam aprender connosco».
A maioria das escolas católicas de Macau reabriu a 1 de Setembro, ao fim de mais de meio ano de incógnita e incerteza. Os alunos tiveram um ano lectivo conturbado, depois das aulas terem sido suspensas em finais de Janeiro, devido à pandemia do Covid-19. O regresso às aulas presenciais materializou-se de forma faseada a partir de meados de Maio, depois de meses em que o ensino se fez à distância, através do recurso às novas tecnologias. O último ano lectivo, sublinhou Candy Ng, foi exigente para todos e os docentes não foram excepção: «Foi muito difícil, em particular porque os professores tiveram que recorrer às novas tecnologias da informação para leccionar as suas aulas. Muitos tiveram que aprender a fazer isso. Por outro lado, sempre colocamos ênfase na importância de se promover a educação contínua. É algo a que atribuímos muito valor e é algo em que os nossos alunos e os nossos professores sempre cooperaram de forma harmoniosa, mesmo antes da pandemia do Covid-19».
De forma a garantir um regresso às aulas seguro, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) exigiu que os estabelecimentos de ensino fizessem um bom trabalho na prevenção e controlo da epidemia e aconselhou alunos e professores a “aumentar a sua sensibilização para os cuidados de saúde”. O Governo pediu ainda que docentes e discentes “evitem viajar para áreas infectadas e para o estrangeiro” e que se “mantenham a par dos últimos desenvolvimentos da epidemia e das restrições à imigração”.
As escolas foram também “obrigadas a limpar e desinfectar minuciosamente os seus ‘campus’” antes do início do novo ano lectivo. O distanciamento social, o uso obrigatório de máscara e a medição de temperatura continuam a ser obrigatórios, de forma a prevenir a propagação da doença, num território que nunca registou focos de transmissão comunitária. As restrições continuam a ser mais do que muitas, mas Candy Ng acredita que o novo ano lectivo vai decorrer sem percalços: «Acredito que os estudantes e os professores das escolas católicas estão bem preparados para este desafio».
Marco Carvalho