A espera foi longa, cheia de peripécias, mas finalmente acabou. O novo bote está na nossa posse depois de ter sido encomendado em Junho, ou Julho, já nem me lembro muito bem. Após uma entrega que saiu gorada por defeito do produto, e depois de termos sido forçados a mudar os planos de saída de Grenada, devido ao adiamento da data de entrega do dito bote, que havia sido já pago na totalidade, acabámos por receber um exemplar maior do que inicialmente tínhamos planeado. A loja, para nos compensar pela espera e pelo transtorno causado, acabou por nos entregar um bote de dez pés pelo preço do encomendado inicialmente (oito pés).
Até ao momento, e pelo que já tivemos a oportunidade de experimentar, estamos satisfeitos, embora o modo como se opera um bote rígido seja muito diferente do que estávamos habituados. Os botes insufláveis, ou mistos, como era o caso dos nossos anteriores, com tubos insufláveis e casco rígido, são muito mais estáveis, devido ao peso ser mais elevado, como também devido ao facto da superfície dos tubos insufláveis, em contacto com a água, funcionar como se tivesse duas plataformas estabilizadoras de cada lado. O bote rígido é uma casca de noz e a sua camada lateral é extremamente fina, mas como em tudo é uma questão de habituação, principalmente para entrarmos e sairmos do mesmo. Em termos de navegação, na minha opinião, é muito melhor do que qualquer dos insufláveis que tivemos até agora, apesar de estarmos a utilizar um motor maior do que seria aconselhável para o seu tamanho. O nosso motor fora-de-bordo é de cinco cavalos, da Yamaha, e pesa cerca de quinze quilos, o que é demasiado para a popa deste pequeno barco. Para compensar o peso sentamo-nos na proa. Como até ao momento só eu e a Maria é que temos utilizado o bote, tivemos que colocar uma pequena âncora – com dez pés de corrente – na proa para o manter na água.
Quem estiver interessado em saber mais, em termos técnicos, basta visitar o sítio na Internet da Walker Bay e ler as especificidades da versão rígida de dez pés. Vale a pena optar por botes rígidos, pois são muito acessíveis em termos monetários e oferecem uma boa qualidade relativamente ao preço. Também o facto de poderem ser utilizados como barco à vela, comprando ou criando o equipamento necessário, fazem com que estes modelos sejam dos mais utilizados por quem vive a bordo a tempo inteiro.
Entretanto, com a novela do bote terminada, esperamos ter colocado para trás das costas os problemas com o nosso meio de transporte para terra. Pelo menos não teremos de recorrer à bomba de ar tão assiduamente…
Quanto aos nossos planos de viagem, estes foram alterados por mais uns dias. Desta vez não por nossa causa, mas pelo facto dos nossos amigos brasileiros estarem à espera de uma peça que tinha de ser enviada da Alemanha. Como o veleiro deles é novo, ainda com garantia, foi decidido ficarem por aqui até que a peça chegue e seja instalada pelo representante oficial da marca. Se tudo correr conforme o planeado, no dia da publicação desta crónica já devemos estar fora do território de Grenada, tendo dado entrada em São Vicente, onde deveremos ficar cerca de uma semana a dez dias. Depois sairemos deste país, na ilha de Bequia, sem termos visitado a ilha de São Vicente, que dá o nome ao País, dado que tem havido muitos casos de falta de segurança e também porque os ancoradouros da ilha não são muito bons – são fundos, com pouco espaço, e as bóias de amarração são pagas.
Os últimos dias, para além de terem sido preenchidos com a espera do novo bote, foram aproveitados para proceder a pequenos trabalhos no veleiro. Foram instaladas três ventoinhas no compartimento onde se encontra a máquina do frigorífico – uma grande na porta, junto ao piso, para facilitar a entrada de ar fresco, com o objectivo de arrefecer a unidade; e duas, mais pequenas, no topo do compartimento, para ajudar a retirar o ar quente que se vai acumulando. Esperamos que este sistema de circulação de ar prolongue a vida do frigorífico. Ainda temos um outro ventilador para instalar no seu interior para ver se aumenta a eficácia em termos de arrefecimento, fazendo circular o ar frio que, tendencialmente, se acumula na parte mais baixa. Como a caixa do frigorífico é enorme (320 litros), esperamos que com esta ajuda a temperatura interior diminua de forma mais homogénea.
Outro entretenimento a bordo tem sido refazer a rede que temos instalada em todo o redor do veleiro. A que instalámos para prevenir que a Maria e o Noel caíssem à água, ainda na República Dominicana, tem partido com o passar do tempo, pelo que está muito danificada, sendo que tenho procedido a alguns reparos com calma e muita paciência. Hoje tenho pena de não ter aprendido mais com o meu pai e com o meu tio-avô a fazer malha de rede, mas lá vou fazendo como posso e sei. Pelo menos os buracos já estão mais pequenos!
JOÃO SANTOS GOMES