Fomos à “Igreja dos Cowboys”

NORTE DA FLÓRIDA, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Fomos à “Igreja dos Cowboys”

O que seria uma simples viagem ao Norte da Flórida acabou por ser uma caixa de surpresas. No Domingo que ali passámos, na companhia de amigos que conhecemos desde a nossa viagem de veleiro pelas Caraíbas, fomos visitar a “Igreja dos Cowboys”.

O sermão na Rafter Cross Cowboy Church foi dedicado a um grande problema da actualidade: as pessoas estão a distanciar-se cada vez mais de Deus e das suas doutrinas. Algo que o pastor tinha como prioridade fazer diminuir na sua congregação.

Foi uma experiência refrescante a de ouvir falar sobre a Palavra de Deus num ambiente completamente diferente e despretensioso. Estando numa zona predominantemente agrícola, onde a criação de vacas e de cavalos é o dia-a-dia dos seus habitantes, os exemplos usados pelo orador foram sempre relacionados com esta realidade. Um breve olhar em redor da Assembleia deu para perceber que a estratégia estava a funcionar na perfeição, uma vez que todos os fiéis, novos e menos novos, prestaram atenção do início ao fim da homilia.

Com o intuito de alertar os fiéis para a necessidade das pessoas voltarem à igreja para ouvirem a Palavra de Deus, o pastor deu o exemplo de uma manada de vacas que um vizinho lhe havia pedido para tomar conta. Nos primeiros dias as vacas estavam assustadas e tinham medo de tudo; com o passar do tempo os animais acostumaram-se à sua presença e já sabiam que quando o viam era hora de comer e de serem bem tratados.

Esta alegoria, tendo em conta a realidade ali vivida, caiu quem nem uma luva na intenção do pastor em explicar que as pessoas têm de se mentalizar que na igreja todos são bem recebidos, independentemente do seu passado ou presente. A igreja todos acolhe e a Palavra de Deus a todos é dirigida sem quaisquer juízos de valor – não importa quem é pobre ou rico, ou se mais ou menos pecador. Aliás, durante o sermão, ouvimos repetidamente que somos todos pecadores. E se alguém nos disser que não peca, está a mentir.

Chegámos à igreja por volta das dez horas da manhã, depois de termos tomado o pequeno almoço num café típico americano, rodeados de pessoas locais que nos acolheram como se também ali vivêssemos. O espaço é um café igual aos que nos habituámos a ver nos filmes de Hollywood! O café em si é sempre servido por uma empregada bem disposta e as panquecas são maiores do que o prato.

Já na igreja, dado que era a primeira vez que ali estávamos, acolheram-nos como se fôssemos da comunidade, apesar das pessoas se mostrarem um pouco surpreendidas por verem caras novas. Não houve olhares inquisidores, nem nada que nos fizesse sentir constrangidos, antes pelo contrário: o ambiente era bastante acolhedor e descontraído, não estivéssemos nós num autêntico rancho americano onde, ao lado do curral que serve de igreja, se organizam corridas de “rodeo”, que também tivemos a oportunidade de assistir na tarde desse mesmo dia.

Mas voltando ao sermão, este foi sendo intercalado com música “country”, o que o tornou leve e animado, tendo durado bem mais de uma hora. Apesar de ser diferente do que estamos habituados, foi uma boa experiência, até porque sendo só uma a Palavra de Cristo não nos sentimos em nada excluídos. Para os mais sensíveis, a experiência de ver pessoas de arma à cintura num local de culto pode ser um pouco chocante, ou pelo menos não muito agradável. No entanto, se se tiver em consideração que estávamos numa zona onde as armas são legais pelas mais variadas razões, sendo uma delas a forte probabilidade de ataques de animais selvagens, conseguimos compreender o seu enquadramento. Em determinadas áreas, principalmente nas mais remotas, há muitos ursos castanhos, cobras venenosas e outros animais que podem facilmente atacar e matar uma pessoa.

Só para o leitor ter uma ideia, no lugar onde estivemos e noutros semelhantes, mesmo em casos de urgência pode-se levar horas até ao hospital ou ao médico mais próximos.

A “Igreja dos Cowboys” – assim é oficialmente designada – não tem altares, vitrais ou quaisquer outros motivos decorativos. No letreiro colocado à porta, pode ler-se: “Somos apenas um pequeno grupo de pessoas simples, para se apoiarem e encorajarem nos obstáculos da vida com o apoio de Deus. Cowboys e Cowgirls e todos os que gostam de cultura e de música country são sempre bem vindos”. Claro está que pessoas de outras culturas são igualmente bem acolhidas, apenas se exige que respeitem todos os presentes.

A missão da “Cowboy Church” é eliminar todas as barreiras, sejam elas físicas ou religiosas, e tentar fazer chegar aos fiéis o mais básico dos ensinamentos de Cristo.

Depois do serviço religioso, o almoço prolongou-se por mais de duas horas num restaurante de grelhados tradicionais, findo o qual realizou-se um “rodeo” com cowboys e cowgirls a tentarem apanhar vacas, montados a cavalo. A competição, inserida no campeonato regional de “rodeo”, reuniu centenas de concorrentes e centenas de entusiastas. Não é um espectáculo pensado para turistas, mas se aparecerem também são bem vindos.

João Santos Gomes

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *