Fidelidade ao Pastor

Fidelidade ao Pastor

VATICANO E O MUNDO

Sento-me para escrever este texto e inicio tal exercício formulando uma questão que, na ausência de interlocutor, coloco a mim mesmo.

O que nos preocupa verdadeiramente a nós, gente deste tempo, hiper-informada como nunca? O desemprego? Uma nova recessão, uma nova crise internacional? Guerras em larga escala, surgidas a partir de conflitos localizados, como por exemplo no caso do Irão? A aceleração sem retorno das alterações climáticas, quem sabe um tsunami?

Leio. Vejo. Dou-me conta, Informo-me. E penso na Igreja, na nossa Igreja. Como ecoa ela e reage a essas preocupações? Como se prepara para interpretar o que vai acontecendo à luz das verdades em que acredita e que portanto defende?

Mais uma vez, vamos encontrar a resposta à figura central da Igreja, o Santo Padre. E o que o vemos fazer, numa infatigável rotina diária, ele que ultrapassou a linha simbólica dos oitenta anos e que incessantemente recebe individualidades ou grupos, no Vaticano, cobrindo, com todos os seus interlocutores, temas variados. Temas que vão do diálogo entre religiões à necessária reforma da economia mundial e à criação de novos paradigmas de educação para todos, que acabem com o escândalo dos marginalizados. Os excluídos sociais que pululam as muitas periferias onde se multiplicam os mais pobres. E não faz só isso. Visita regularmente as nações dos cinco continentes, encontrando-se com as autoridades locais ao mais alto nível, mas também com as hierarquias e clero das igrejas nacionais e as comunidades católicas de base, assim como com os líderes de outras religiões, tecendo pacientemente as teias de uma fraternidade nova, portadora de futuro.

É pois nos actos a que o Papa preside, nas declarações que profere, nos temas que privilegia para a sua acção que vamos encontrar as respostas a esta questão central que de facto suscita respostas múltiplas: como lê a Igreja o nosso tempo? Como nos ajuda a compreendê-lo?

Sigamos o Pastor…

E concomitantemente há a acção do Pontífice no interior da Igreja, com suas resistências e dúvidas quanto às mudanças necessárias para, sem trair a Doutrina e a Fé, continuar a ser a Mensageira útil e respeitada da Palavra. E, numa realidade ainda mais profunda da Igreja, é o Papa o inspirador visível da espiritualidade contemplativa ou de outras formas de vida consagrada, onde o testemunho é de diferente natureza, mas que é fio condutor da comunidade dos fiéis há dois mil anos.

A Igreja e o Mundo. O Mundo e a Igreja. Dois polos de atracção do meu universo pessoal, eu que tento ler, modestamente, os sinais dos tempos, através das lentes de uma realidade intemporal a que consciente e livremente aderi, há muitas décadas.

É que quem, como nós cristãos, tenta fazer uma leitura do que se passa à luz dos Evangelhos, não pode naufragar no mar revolto das notícias inconsistentes e contraditórias, mas tem que lançar mão do cajado de que dispõe para não se perder na caminhada. E esta imagem representa um critério, muito mais do que uma mera figura de retórica.

AS QUESTÕES MAIS DIFÍCEIS

O que se passa?, perguntamos nós ao nosso Pastor. Não o perguntamos ao guru nem ao adivinho, ao falso profeta desses cultos que hoje se disseminam para enganar os crédulos, mas perguntamos ao Pastor Universal deste rebanho bíblico com dois milénios de caminho no percurso de Jesus.

O que se passa no Mundo? O que se passa na Igreja? Como compreender? Como pressentir, pelo menos no essencial, o significado histórico deste tempo que me é dado viver?

Que avanços ou recuos da Humanidade estão a ser gerados, neste preciso momento, no ventre úbere da História? Que maravilhas ou monstros aí vêm, semeados pela mesma mente humana, capaz do melhor e do pior?

Para que formas de coexistência, de cooperação ou de confrontação, caminham as nações, no presente contexto em que novos poderes se afirmam e velhos poderes não renunciam ao seu sonho de domínio?

E, no plano individual, que caminho interior está a fazer o próprio homem, de modo a comportar-se em função do que nos ensinam os erros do passado? Ou é inevitável que a juventude sofra de amnésia, por ignorância ou “instigação ideológica” (que é a mesma coisa) e de hoje para amanhã repitamos no século XXI o que de mais trágico se viveu no século XX?

TODA A PERPLEXIDADE DO PRESENTE

Quando vejo na televisão hordas de jovens exaltados, fazendo saudações nazis ou gritando palavras de ordem de outro tempo, sinto imensa pena de estarem a tudo fazer para (sem o saberem) serem as primeiras vítimas de um tempo novo que afinal não passa da reedição do tempo velho.

E outra coisa que me faz imensa pena também: continuarem a ser os jovens os eternos instrumentos da subida ao poder de líderes sem escrúpulos – que em vez de salvadores, como se auto-proclamam, serão os coveiros de todos os futuros possíveis.

Quando vejo imagens de imigrantes e refugiados a serem atacados em muitas cidades europeias, ou famílias inteiras de pobres rechaçadas nas fronteiras dos Estados Unidos, só por ousarem querer uma vida melhor, penso que se há invasão dos bárbaros nesta nova Roma sitiada, os bárbaros são os de dentro e não os de fora. E são esses mesmos com autoridade para decidir e implementar tais políticas que defendem a generalização dos crucifixos nas salas de aulas! Estamos decididamente no reino dos fariseus!

As muitas faces do mal são hoje cada vez mais visíveis e o Papa Francisco denuncia-as todas. E frequentemente actua de forma prática e imediata, como no exemplo a seguir.

O Vaticano já enviou rapidamente para a China uma oferta de cem mil máscaras, li eu algures. Aí está a resposta!

O surto do coronavírus veio mostrar algo que está sempre presente neste nosso viver em comum, desde que o homem é homem:

Mal conhecemos ainda a Natureza, apesar do progresso científico e técnico e assim toda a organização humana é frágil.

A única forma de superarmos as nossas fragilidades como espécie é unirmo-nos e cooperarmos uns com os outros. Isto pode parecer básico, mas por vezes é no básico que falhamos, precisamente.

E este critério da cooperação e da entreajuda é válido em todos os domínios, não apenas no gerir da situação presente, de como lidar com a epidemia, mas de toda a vida social – e internacional.

UM MUNDO INQUIETO

De onde nos vem a inspiração, alguma tranquilidade e um mínimo de certezas, neste mundo inquieto? Na serenidade de um Pastor que nos indica o caminho. Daí a escolha do meu título. Sim, fidelidade ao Pastor.

Carlos Frota

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