Entre convertidos e resistentes num passado actual
Cabe ao missionário Antonius Wahyudianto, pároco da igreja de Muara Siberut, a pastoral nas diversas “estações missionárias” espalhadas pelas ilhas e ilhotas de Mentawai, a Oeste de Samatra, o maior espaço geográfico do arquipélago indonésio, conhecidas sobretudo entre os surfistas devido à excelência das suas ondas. Ondas que durante a época das monções chegam a atingir quatro e seis metros de altura, tornando ainda mais difíceis as condições meteorológicas da região, facto que jamais impediu os missionários xaverianos que ali labutam de levar a cabo as suas visitas trimestrais às remotas comunidades.
Sempre prontos a trabalhar pela proclamação da Boa Nova e pelo cultivo da fé dos católicos das Mentawai, têm eles como lemas “Caritas Christi urget nos” (o amor de Cristo nos impele) e “ame o seu próximo como a si mesmo”. A simplicidade evangélica, a humildade e a fé dessa gente de parcos recursos, «com quem sempre se pode aprender, e muito», impressionam cada vez mais o padre Antonius Wahyudianto, que com frequência visita as comunidades tribais espalhadas pela região; ora a pé através da densa floresta; ora de canoa ao longo do rio Sila’oinan, quantas das vezes perigosos e pedregosos trilhos.
O povo das Mentawai, abençoado com abundantes recursos naturais que o Criador lhe proporcionou, pouco se esforça para obter vantagens económicas. Vive das dádivas da Mãe Terra, e é devido a essa sua mentalidade que praticamente todas as iniciativas comerciais nas Mentawai são controladas por forasteiros: gente vinda das regiões samatrenses de Minang, Toba, Nias e até da ilha de Java que ali estabeleceram plantações e os mais diversos tipos de negócios.
Felizmente, o contacto profundo e a simbiose com a natureza são elementos que favorecem a presença da fé católica. Comparativamente ao interior de Samatra, onde predomina um Islão mais tradicional e, em certas zonas, bem radical (como é o caso da província de Aceh), nas Mentawai não existe “competição” entre o Cristianismo e o Islão, antes reina um ambiente de coexistência, compreensão e troca.
Stasi Bekkeilu, habitada por 26 famílias católicas e cinco muçulmanas, é uma remota estação missionária desprovida de comodidades modernas. Na pequena igreja construída pelos habitantes locais, um pequeno painel solar proporciona alguma electricidade, «mas, honestamente», confessa o padre Wahyudianto, «não ajuda muito na leitura das missas». Não há ali Internet e o nome da aldeia não está sequer registado no aplicativo Google Earth. No entanto, no povoado «esquecido pelo mundo» – fala de novo o padre Wahyudianto – «o caminho missionário-pastoral já percorrido, com os quatro jovens que normalmente me acompanham, tem sido uma experiência emocionante e enriquecedora».
A montante dali, na aldeia de Matotonan, no decorrer das décadas de 1970 e 1980, a maioria da população local converteu-se ao Islão, porém, jamais abandonaram algumas das suas práticas cristãs. Resistem aí 65 famílias católicas que harmoniosamente convivem com trezentas famílias de credo muçulmano.
«Nas Mentawai», afirma o sacerdote, «a educação catequética é prioridade absoluta». Por essa razão, este sacerdote xaveriano, que tem uma veia artística, decidiu pintar catorze imagens da Via Sacra em painéis de madeira gentilmente fornecidos pelos moradores de Matotonan. Para os completar teve de permanecer e conviver com as pessoas dessa aldeia durante quatro dias. Enquanto pintava na varanda da casa de um dos paroquianos, crianças e jovens muçulmanos paravam para melhor apreciar a figura de Jesus, «que é no culto deles um dos seus profetas: o profeta Isa», lembrou.
Entretanto, chegou a esta importante conclusão: as obras artísticas são uma excelente oportunidade para que, numa aldeia predominantemente muçulmana, o diálogo com os católicos locais se mantenha uma realidade.
A região só pode ser visitada duas ocasiões por ano, entre Janeiro e Abril ou entre o início de Outubro e Dezembro, ou seja, fora da época dos ciclones tropicais. Segundo o entrevistado, «as pessoas têm sede da Eucaristia e esperam-nos sempre com muita alegria».
O panorama é positivo, como constata, em jeito de pergunta, um jornalista da Vita, a revista diocesana de Padang. «Será que estamos a assistir a um crescimento da comunidade católica nas ilhas Mentawai, parte integrante da diocese de Padang?». A resposta é: sim! O número de fiéis e de paróquias nestas ilhas continua a aumentar. De facto, a atenção que a diocese de Padang tem prestado à missão nas ilhas Mentawai está a dar os seus frutos. A paróquia de Santa Maria da Assunção, em Muara Siberut – por exemplo – conta com dez mil 802 católicos e tem ao seu serviço cinco missionários xaverianos (quatro sacerdotes e um irmão leigo) que organizam programas mensais de visitas às 26 estações missionárias (uma por aldeia) espalhadas pela região.
Joaquim Magalhães de Castro