Lições dos Reis Magos – II

Os Reis Magos ajoelharam-se

«Os Reis Magos vieram do Oriente para Jerusalém, e disseram: “Onde se encontra Aquele que nasceu como rei dos Judeus? Porque vimos a Sua estrela no Oriente, e viemos para O adorar” (Mateus 2:1). E quando encontraram o Menino, ajoelharam-se e O adoraram (2:11)».

As linhas do início e fim da história dos Reis Magos explicam como lhes foi possível encontrar Jesus, ou como Jesus se lhes revelou a eles: Eles vieram para O adorar. Por outro lado, Herodes, os sacerdotes, os Escribas, esses não estavam interessados em adorar ninguém.

Há alguns católicos que desejam estudar muito bem as Escrituras para poderem produzir sofisticadas interpretações dos textos da Bíblia. Estão mergulhados em questionar os sentidos e as nuances dos termos e expressões que se encontram na Bíblia, mas não têm qualquer intenção de adorar Jesus. Que pena!

Este comentário não significa que devamos descurar o estudo dos Textos Sagrados. E, porque Deus usou seres humanos para escrever as Suas Palavras, é-nos necessário estudarmos o contexto histórico-cultural desses homens, incluindo a língua que usaram para esse trabalho.

Temos que questionar o sentido literal das palavras. O “Catecismo da Igreja Católica” diz-nos: «O sentido literal é o consenso obtido das palavras das Escrituras e das descobertas nas suas interpretações, seguindo regras de interpretação sólidas: Todos os outros significados das Sagradas Escrituras são baseados no sentido literal».

A adoração é uma acção da virtude da Justiça porque está relacionada com o retribuir aos outros o que lhes é devido. Infelizmente, apenas associamos a Justiça com a sociedade, com os desprovidos e os necessitados, mas muito frequentemente nos esquecemos que o primeiro a quem devemos algo é ao próprio Deus!

Esta parte da Justiça (Dar a Deus o que é de Deus…) é chamada a Virtude da Religião; é a mais alta forma possível de Justiça. É regulada pelo primeiro mandamento do Decálogo. Poderá mesmo acontecer que, muitos anos depois de termos sido baptizados, possamos pensar que já cumprimos este mandamento (bem, à parte de algumas superstições, e acreditarmos na “boa sorte”). De facto estamos sempre em risco de cairmos na idolatria, porque em cada pensamento, palavra ou acção nossa, em que para nós Deus venha em segundo plano, estamos a adorar algo ou alguém que não a Deus.

Foi por isso que o Papa Francisco declarou a 14 de Abril de 2013 na igreja de São Paulo de Fora de Portas: «[Nós] temos que nos esvaziar dos muitos pequenos ou grandes ídolos que temos e nos quais procuramos refúgio, nos quais amiúde tentamos basear a nossa segurança. Há ídolos que mantemos bem escondidos: podem ser ambição, um pendente para o sucesso, colocarmo-nos no centro das atenções, a tendência de dominar os outros, a afirmação de que somos os únicos donos das nossas vidas, alguns pecados aos quais estamos muito ligados, e muitas outras coisas. Esta tarde, eu desejo colocar-vos uma pergunta que ressoe nos corações de todos e cada um de vós, e que gostaria de ver respondida honestamente: Já considerei qual o ídolo que se encontra escondido na minha vida que me impede de adorar a Deus? Adorar é esvaziarmo-nos a nós próprios de todos os nossos ídolos, mesmo os mais profundamente escondidos, e escolher o Senhor como o centro, a estrada da nossa vida».

A Adoração implica a totalidade de cada pessoa. Envolve tanto o corpo como a alma. Por isso não posso dizer que adoro com o meu coração. Tenho que adorar também com o meu corpo. Por outro lado também não posso dizer que adoro apenas com o meu corpo. Todos os nossos gestos e palavras têm que reflectir tudo o que tenho no meu coração. Tenho que adorar de corpo e alma. A adoração sem qualquer um deles é uma falsa adoração – o que é uma falsidade perante Deus.

Um dos gestos que são sinais de adoração é a genuflexão. O Papa Bento XVI, no seu livro “Spirit of the Liturgy” (“O Espírito da Liturgia”), conta-nos a história do homem a quem foi dada a graça de ver como é a aparência do demónio. O demónio era realmente horrível, mas o que chamou a atenção do homem foi que o demónio não tinha joelhos! O demónio não é capaz de adorar ninguém, pela simples razão que se adora a si próprio! E não fazemos isso muitas vezes em frente de um espelho? (Nheks!)

Uma vez alguém disse: «A distância mais curta entre um problema e a sua solução é a distância entre o chão e os joelhos!». Assim Seja! (Amén!)

Algumas pessoas afirmam que o facto de se ajoelhar pertence a outras culturas. Mas na Ásia a genuflexão sempre foi sinal de reverência para um líder superior. Basta olhar para a Tailândia. Ou para a China antiga. É ver-se como os hindus rezam. Mesmo assim o Papa Bento XVI disse: «Ajoelhar não resulta de nenhuma cultura, resulta da Bíblia».

Como crentes necessitamos, novamente, de aprender a nos ajoelharmos. Necessitamos de aprender a dobrar os joelhos perante o Senhor dos Senhores. «Ao ouvir-se o nome de Jesus todos os joelhos se devem dobrar, no Céu, na Terra e debaixo da Terra (Filipenses 2:10)».

Necessitamos de aprender novamente a ajoelharmo-nos perante o Sacratíssimo Sacramento, por acreditarmos que Deus está real e verdadeiramente presente Nele.

Precisamos de aprender a adorar, porque adorando a Deus reconhecemos a Sua grandeza. Quando reconhecemos a Sua grandeza, compreendemos porque é que temos que respeitar e amar o nosso próximo (especialmente aqueles que nos incomodam, tanto em casa como no trabalho – Nheks! Again!), porque também eles foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Uma pessoa que não adore não reconhece o valor real dos seres humanos, estejam eles para nascer ou às portas da morte.

A adoração da Eucaristia não nos afasta da atenção devida aos pobres, desprovidos e aos reclusos, porque a mesma Fé que nos faz ver a presença real de Deus na Eucaristia, faz-nos reparar na sua imagem e semelhança nas pessoas que nos rodeiam. Lembrem-se de como a beata Madre Teresa de Calcutá e São João Paulo II passavam horas em adoração do Santíssimo Sacramento e viam o que poderiam fazer pelos outros.

A adoração traz-nos paz, porque faz-nos realizar que não somos nós sozinhos que vamos salvar o Mundo. «É Deus que deve governar o Mundo, não nós», conforme escreveu Bento XVI em “Deus Caritas Est”. O nosso papel é darmos o nosso melhor, enquanto o Bom Deus nos permitir, e deixar as conclusões nas suas imensamente Sensatas, Misericordiosas e Poderosas mãos.

Entretanto, vamos aprender a prostrarmo-nos e a adorá-lo.

Pe. José Mario Mandía

jmomandia@gmail.com

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