Estes dias têm sido marcados por muito vento e alguma chuva. Tirando o vento, que nos incomoda e nos obriga a cuidados redobrados, a chuva até é bem-vinda. Serve para lavar o convés e ajuda a encher os tanques com água doce através do sistema colector que temos à proa do veleiro ligado a dois garrafões de vinte litros. Enquanto escrevo estas linhas acabo de ouvir no canal de meteorologia da rádio uma actualização dizendo que se espera para esta zona, durante a noite, ventos na ordem dos 25 nós e rajadas acima dos 35! Ainda durante a tarde tinha verificado o tempo e tudo estava normal. Para mim, tudo o que é acima de 15 nós ancorado já me deixa de sobreaviso, imaginem como irá ser a minha noite…
Mas nem tudo são espinhos nesta vida flutuante. Hoje tivemos a companhia de Anne Marie, uma senhora suíça e companheira de vida de um dos tripulantes (um senhor de 70 e tal anos e exemplo de energia para muitos de nós) do veleiro Allegro. O tal veleiro que referi na semana passada, de bandeira portuguesa e que partiu no passado dia 10 rumo à Colômbia participando no ARC World. Anne Marie fez a travessia de Portugal, Ilhas Canárias, Cabo Verde, até St. Lucia. Daqui regressa a Portugal porque não pode seguir viagem devido a afazeres profissionais e pessoais. No entanto, e porque só tinha voo no dia 15, convidámo-la para passar os dias connosco para que não estivesse sozinha o tempo todo no hotel visto não ter aqui amigos. Tem sido um período diferente para a nossa rotina com mais uma pessoa a bordo, para deleite da Maria e do Noel, mas também para nós porque gostamos sempre de companhia.
Também esta semana tivemos a visita de um casal que conhecemos nas redes sociais há alguns meses, mais precisamente desde que começaram a sua viagem em Itália no ano passado. Trata-se do casal brasileiro do catamaram Cascalho (basta procurarem no facebook para os encontrar. Vale a pena segui-los!) que ancorou na baía e veio ter connosco sabendo que estávamos por aqui. Para surpresa nossa, deram-nos a novidade da chegada da família portuguesa que referi também na última edição – a família do catamaram Oceanus que tinha deixado Portimão rumo às Caraíbas. Também eles vieram bater ao nosso casco um dia ao fim da tarde para, finalmente, nos conhecermos, dado que tinham ouvido falar de nós por intermédio de outro português. Estão com planos parecidos com os nossos e viajam com os pais e a filha de sete anos (cinco pessoas a bordo). Esperamos durante esta semana ter a oportunidade de passar mais algum tempo com eles e ficar a saber mais da sua história para depois vos dar conta.
Entretanto, também no seguimento do que anunciei relativamente ao possível negócio entre um ex-residente de Macau e um casal suíço, para a compra de um catamaram por nosso intermédio, apraz-nos dizer que o negócio ficou fechado. Em Março devem regressar às Caraíbas, já com toda a família e com a bagagem de uma vida na mão, para tomar posse do barco e começar a aventura da volta ao mundo. Eu terei o privilégio de fazer a inspecção para a empresa seguradora.
Agora com o vento mais calmo, uma possível calmaria antes da tempestade chegar, não quero deixar passar esta oportunidade para desejar (com algum atraso) parabéns à nossa filha Maria que comemorou, no passado dia sete, o seu segundo aniversário – o primeiro aniversário a bordo do nosso veleiro Dee. Uma data passada em família, com bolo confeccionado por nós e prenda feita pela mãe. Afinal não é preciso gastar muito dinheiro para se assinalar uma data com tanto significado quando há amor e carinho na família. A Maria, especialmente nesse dia, fez tudo o que quis e não ouviu um único raspanete. Afinal era o seu dia. No dia seguinte tudo voltou à normalidade na vida dela e de todos nós a bordo da nossa casa.
Fez anteontem um ano que deixámos Macau. Saudades? Sim, dos amigos que ficaram. Arrependimentos? Sim, de termos demorado tanto tempo a tomar esta decisão.
João Santos Gomes