Olhando em Redor

O grande desafio da China

Tinha passado poucos dias desde que assisti à cena de pugilato entre um cidadão português e outro chinês, a bordo do voo FD766 da Air Asia proveniente de Banguecoque, quando soube da notícia de vários passageiros chineses que decidiram abrir três portas de emergência de uma aeronave da China Eastern Airlines, em sinal de protesto pela alegada falta de ventilação e pela demora em descolar do aeroporto de Kunming, por causa de uma tempestade de neve. O incidente com as portas aconteceu nas primeiras horas do último sábado, pouco antes do avião com destino a Pequim se preparar para levantar voo.

No rol de cenas pouco dignificantes que recentemente envolveram cidadãos chineses também está o caso de uma passageira que atirou um copo com água quente e “noodles” a uma hospedeira de bordo da Air Asia, enquanto um amigo ameaçava explodir o avião que fazia a ligação entre Banguecoque e Nanjing.

Outro incidente registou-se quando um cidadão chinês que iria voar pela primeira vez decidiu abrir a porta de emergência para ter algum ar fresco a bordo do avião da Xiamen Airlines, que se preparava para voar entre Hangzhou e Chengdu. E o que dizer de um homem que viajava entre Xi’an e Sanya e usou a saída de emergência para sair mais rapidamente da aeronave, originando o accionamento do escorrega insuflável?

Em Março de 2011 uma aeronave da Air Asia que voava de Banguecoque para Macau, na qual viajava eu, bem como o jornalista Emanuel Graça – encontrámo-nos por coincidência – não aterrou em Macau devido ao forte nevoeiro que se abatia naquela noite no território. Em alternativa o avião foi desviado para Hong Kong, onde depois de aterrarmos em segurança fomos informados que teríamos de regressar a Banguecoque, para depois voarmos para Macau (contingências a envolver as operações de companhias aéreas de baixo custo).

A maioria dos cidadãos chineses ficou indignada e quase forçou o comandante a deixá-los sair no aeroporto de Chep Lap Kok. Após alguma tenção imperou o bom senso, tendo o comandante optado por deixar sair em Hong Kong quem quisesse, enquanto os restantes passageiros regressariam à capital tailandesa.

Os exemplos que acabei de narrar reflectem bem o baixo nível de cultura e educação que afecta muitos cidadãos chineses.

 

As duas RAE

Hong Kong tem sido o exemplo mais paradigmático do que são as atitudes poucos civilizadas de muitos turistas chineses do continente. Entre vários comportamentos anti-sociais estiveram os pais que puseram as crianças a defecar ou a urinar na via pública e a compra maciça de leite em pó por causa dos escândalos no interior da China a envolver esta indústria (o Governo da RAEHK estabeleceu depois um limite). A ocupação de camas dos hospitais e de vagas nas escolas foram outros factores que levaram ao esgotar da paciência dos residentes da ex-colónia britânica.

Em Macau costumo deparar-me com a falta de modos de muitos turistas do continente, desde cuspirem no chão, até falarem alto, terem dificuldades em interagir no meio-ambiente onde estão inseridos, entre outras situações.

Muitos deverão vir de lugares rurais ou pouco desenvolvidos, por isso é natural que o seu grau de instrução não seja muito elevado. Mas ao comportarem-se em Hong Kong e em Macau como se estivessem nas suas terreolas temo muito que não estejam a dignificar a imagem da China no exterior devido aos milhões de turistas de vários pontos do mundo que todos os anos visitam as duas regiões administrativas especiais, até porque a aposta do Governo da RAEM é transformar o território num centro mundial de turismo e lazer.

 

RPC

Posto isto, mais do que ser a segunda economia mundial, ter voz na Comunidade Internacional para ajudar a resolver os conflitos bélicos que assolam a humanidade, ser um parceiro credível entre nações e contribuir para a estabilidade mundial, o grande desafio da República Popular da China é a Educação.

Ao elevar a qualidade educativa dos seus cidadãos o país mais populoso do mundo tornar-se-á ainda mais competitivo, a sua imagem internacional sairá reforçada e as assimetrias internas irão diminuir consideravelmente. Mas como não há bela sem senão, uma melhor educação também significa acesso à informação. Porém, informação quer dizer conhecimento e conhecimento é sinónimo de massa crítica…

Quem conhece a História milenar da China desde a Dinastia Qin sabe bem que muitas das revoluções que aconteceram pelo imenso território chinês nem sempre se traduziram em unidade nacional. A RPC tem especificidades muito particulares que em nada poderão ser comparadas às das nações ocidentais. Diria mesmo que é ingovernável se não tiver um líder carismático que ponha a mão nos destinos do País.

Infelizmente, num passado não muito distante, houve lideranças pouco abonatórias que em nada dignificaram a imagem da nação além fronteiras. Não é caso único, pois muitos países ocidentais também não se podem orgulhar do seu passado histórico, por vezes bastante tenebroso.

Convém olhar para o futuro, obviamente sem esquecer as lições do passado, e pensar que um país nunca será vencido pela excelência da sua Educação.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *